O teto do bolsonarismo e as perspectivas de Haddad
"No segundo turno, Bolsonaro não poderá continuar fugindo dos debates. A confrontação das visões de mundo, das posturas pessoais e das propostas concretas que cada candidato defende para o Brasil, é um diferencial que favorece enormemente Haddad", afirma o colunista Jeferson Miola; "Mesmo beneficiado fortemente pelo voto útil, com os 46,03% conquistados, Bolsonaro alcançou seu máximo potencial eleitoral; chegou no teto do bolsonarismo. Bolsonaro sempre soube que sua chance de se eleger diminuiria bastante num eventual segundo turno, por isso fez carga máxima no voto útil", diz Miola, para quem a vitória de Haddad é "uma possibilidade real"
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O segundo turno da eleição será disputado voto a voto, dia-a-dia, até o 28 de outubro. Bolsonaro arranca com a vantagem relevante de quem obteve 17.934.985 votos a mais que Haddad no primeiro turno.
Esta vantagem, entretanto, não é estática, pois não há automatismo nas escolhas de imensas parcelas do eleitorado. A eleição está em aberto; e é realista a possibilidade da democracia derrotar o fascismo; do Haddad vencer Bolsonaro:
1 - pesquisas mostravam que a uma semana do pleito, aproximadamente 15% a 18% dos eleitores [de 17 a 21 milhões de pessoas], ainda não tinha definido o voto; estava indecisa;
2- parcela significativa desses eleitores decidiu seu voto no último instante, no momento em que se dirigiu para a urna. Esse eleitor se define menos por afinidade ideológica e identidade programática, é mais volúvel e influenciável, e adotou o voto útil no Bolsonaro;
3- o "efeito manada" do voto útil derreteu as principais candidaturas antipetistas [Marina e Alckmin], ajudou o crescimento do Bolsonaro e gerou resultados surpreendentes em todo o país, como a eleição inesperada de certos governadores, deputados e senadores;
4 - mesmo beneficiado fortemente pelo voto útil, com os 46,03% conquistados, Bolsonaro alcançou seu máximo potencial eleitoral; chegou no teto do bolsonarismo. Bolsonaro sempre soube que sua chance de se eleger diminuiria bastante num eventual segundo turno, por isso fez carga máxima no voto útil – decepcionado, cancelou a festa de comemoração que já estava armada;
5 - a votação das candidaturas não-antipetistas [Haddad, Ciro, Boulos, Vera, Goulart] totalizou 45.389.431 votos, equivalente a 42,36% dos votos válidos. Se tivessem realizado o potencial de 55,13% estimados na última pesquisa com a presença de Lula [20/8], o campo das candidaturas não-antipetistas teria feito 13,7 milhões de votos a mais;
6 - Ciro resistiu ao voto útil porque seu eleitorado tem perfil antibolsonarista. Pesquisas mostram que cerca de 70% dos 13,3 milhões de eleitores dele agora votam no Haddad;
7 - aqueles eleitores atraídos pelo efeito manada [voto útil, mais influenciável] ficaram frustrados e desanimados com o insucesso do Bolsonaro. No segundo turno, estando sujeitos a processos mais racionais e lógicos de escolha, poderão mudar seu voto;
8 - o antipetismo não é homogêneo. Amplos segmentos do antipetismo rechaça as barbaridades do Bolsonaro e as práticas truculentas e odiosas do bolsonarismo. É um segmento que pode ser convencido a anular o voto, a abster-se ou, inclusive, a votar no Haddad, mas #NeleNão;
9 - os eleitores ideologicamente identificados com Bolsonaro situam-se em torno de 25% do eleitorado [27 milhões], cifra bastante inferior aos 49 milhões que ele obteve sendo o voto útil;
10 - no segundo turno, Bolsonaro não poderá continuar fugindo dos debates. A confrontação das visões de mundo, das posturas pessoais e das propostas concretas que cada candidato defende para o Brasil, é um diferencial que favorece enormemente Haddad;
11 - o esclarecimento da sociedade sobre os riscos das propostas do Bolsonaro para a economia e para a soberania do país, para a democracia e para o povo brasileiro, é fator pedagógico de comparação entre os 2 projetos e as 2 visões de país em disputa que favorece o processo cognitivo de escolha em favor do Haddad. E, finalmente,
12 - a militância progressista e democrata, unida numa frente ampla e democrática contra o fascismo, é outro elemento diferencial a favor de Haddad – militância vivaz, intensamente dedicada ao diálogo nas ruas, nas visitas de casa em casa, na panfletagem nos terminais de ônibus, trens e metrô, comércio popular, nas escolas, universidades, locais de trabalho etc.
A vitória do Haddad é, por isso tudo, uma possibilidade real. A derrota da ameaça fascista, por outro lado, é um imperativo ético para a restauração da democracia, do diálogo, da paz, do respeito, do amor, da igualdade, da diversidade e da tolerância no Brasil.
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