O teto do antipetismo
O antipetismo cresceu, sim, mas bem menos do que o “necessário”. Metade dos brasileiros não deu bola para o massacre de Dilma e a outra metade está muito dividida e dificilmente irá toda para a oposição
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Desde 2006, a cada eleição presidencial a cantilena oposicionista-midiática é a mesma: dessa vez, vai. Em 2006, o terremoto do mensalão fez a mídia e seu aparato político, a dita oposição, acreditarem que tinham “matado” Lula – politicamente, por mais que a vontade fosse literal. Em 2010, as teorias eram sobre como o mesmo Lula não conseguiria transferir votos a Dilma.
Em 2014, a aposta é na queda da aprovação a Dilma e ao seu governo. Uma queda que de fato ocorreu. Porém, o que os entusiastas dessa teoria parecem não enxergar – ou não querer enxergar – é que essa queda não se resume a Dilma; a classe política perdeu aprovação de forma generalizada, tanto à direita quanto à esquerda, passando pelo centro.
Poucos se dão conta de que, apesar de Dilma não ter mantido a aprovação estratosférica que chegou a ter – e que quem lê este blog sabe que, por aqui, sempre foi vista com reservas –, na última pesquisa Ibope, por exemplo, a presidente da República apareceu com impressionantes 52% de votos válidos contra 48% da oposição todinha somada. Incluindo nanicos.
Estudo recente feito por esta página mostrou que o desempenho dos pré-candidatos de oposição, ao menos até aqui, não difere em nada das três eleições anteriores. Aliás, aquele estudo revelou que o desempenho de Aécio Neves está até um pouco abaixo da média que costumam ter os candidatos do PSDB na pré-campanha.
Sim, Dilma apareceu com aprovação e desaprovação empatadas no último Ibope – respectivamente, 47% e 48%. Porém, a divulgação da avaliação só da presidente e a ocultação da de governadores e prefeitos esconde que essa desaprovação atingiu a todos os governantes. Nem por isso é crível que todos os outros chefes de governo não serão reeleitos.
Mas o mais impressionante é metade da opinião pública apoiar a presidente. Ela, seu padrinho político ou seu partido apanham todo dia na mídia. Supostas “más notícias” da economia tomaram jornais, telejornais, revistas, portais de internet, rádios. E o máximo que conseguiram foi dividirem o país?
Não vamos nos esquecer de que isso foi alcançado sob o silêncio quase absoluto de Dilma, quem, até que Lula concedesse entrevista a blogueiros pregando que reagisse, praticou quase uma autocensura, deixando que a mídia a esmagasse sem sequer esboçar reação.
O que aconteceria se Dilma não tivesse se autocensurado? Dificilmente teria perdido tanta aprovação. Só que vem aí a campanha eleitoral na tevê, quando ela, seu padrinho e seu partido terão espaço para dizer tudo aquilo que hoje não pode ser dito em pé de igualdade com o “noticiário” massacrante.
O que a mídia chama de “discurso do medo” apavorou tanto a mídia e a oposição simplesmente porque é um discurso muito forte. Por que é forte? Porque se baseia em fatos – quais sejam, no que ocorreu no passado e nas propostas oposicionistas do presente, como no caso das “medidas amargas” pregadas por Aécio Neves e Eduardo Campos.
Este blog acalenta a opinião de que a grande maioria dos brasileiros, incluindo a parte politizada, em média tem memória fraca. Esquece-se do clima que a mídia estabeleceu nas eleições presidenciais anteriores, do nível de ataques de 2006 e 2010. E também de que a força pré-eleitoral da oposição não era menor do que a de hoje.
Sim, Dilma está mais fraca do que estava Lula em eleições anteriores, mas a oposição também está.
Mais da metade dos brasileiros que pretendem votar permanece ao lado de Dilma. É impressionante. Esse contingente está resistindo a um massacre da presidente empreendido ao custo de uma quantidade imensa de dinheiro que vem sendo despendido pelos grandes grupos de mídia. E, ainda assim, mais da metade do eleitorado votante resiste.
Segundo o Ibope, há cerca de 10% de indecisos. Porém, seria preciso uma mordaça em Dilma, em Lula e no PT para que todo esse contingente se decidisse pela oposição. Há o outro lado da moeda que as vítimas da avalanche midiática ainda não analisaram, mas que irão analisar quando os candidatos tiverem espaço na televisão e no rádio.
A grande esperança da direita midiática é a Copa. A aposta no caos, em alguma tragédia causada pelos grupos cada vez mais desmoralizados que prometem até atacar delegações estrangeiras, porém, é exagerada. Até a colunista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde, que se dedica a atacar Dilma, Lula e o PT todo dia, acha que quanto mais excessos os grupos que prometem que “não vai ter Copa” cometerem, mais apoio a Copa terá.
Tudo somado, esses 40% que hoje prometem votar em Dilma certamente ampliar-se-ão em um eventual segundo turno. E quem diz isso não é este que escreve, mas o pré-candidato Eduardo Campos, quem, na última segunda-feira, no programa Roda Viva, disse que Aécio inspira terror nos que se beneficiaram das ações do governo federal.
Eduardo parece estar descobrindo que, no bastante provável segundo turno, seu eleitorado não o seguirá, caso adira a Aécio. O PSDB, por razões óbvias, continua sendo visto como o partido dos ricos e dos que pensam que são ricos. Como em 2002, 2006 e 2010, caso haja segundo turno dificilmente ele obterá melhores resultados que Geraldo Alckmin e José Serra.
Aécio diz que se “especializou” em “derrotar o PT” em Minas Gerais, como se o seu desempenho em seu reduto eleitoral bastasse para se eleger presidente. Alckmin também se “especializou” em “derrotar o PT” em São Paulo e, ainda assim, foi surrado por Lula em 2006.
O antipetismo cresceu, sim, mas bem menos do que o “necessário”. Metade dos brasileiros não deu bola para o massacre de Dilma e a outra metade está muito dividida e dificilmente irá toda para a oposição. A parte que não for será mais do que suficiente para ela se reeleger. O antipetismo atingiu seu teto. E não é alto o suficiente para devolver o poder à elite branca.
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