O tempo em que tudo tem sido esquecido, menos Lula

O problema não é a velocidade de imposição das medidas entreguistas e anti-sociais do Governo Temer. O problema é a velocidade com que as esquecemos. Esquecerão Lula? Não, não esquecerão

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo 24/01/2018 REUTERS/Leonardo Benassatto
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo 24/01/2018 REUTERS/Leonardo Benassatto (Foto: Jose Carlos de Assis)


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O problema não é a velocidade de imposição das medidas entreguistas e anti-sociais do Governo Temer.

               O problema é a velocidade com que as esquecemos.

               Esquecemos da entrega do pré-sal.

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               Esquecemos do retalhamento da Petrobrás para possibilitar sua privatização aos pedaços.

               Esquecemos da emenda 95, de congelamento do orçamento primário por vinte anos, que contém em seu bojo a progressiva retração dos recursos destinados aos setores sociais ao longo de duas décadas.

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               Esquecemos da reforma trabalhista com virtual liquidação da CLT, pelo que já está em curso uma total precarização do mercado de trabalho, a generalização da terceirização e a virtual submissão do trabalhador a esquemas desumanos como o trabalho intermitente, em época de depressão do mercado de trabalho.

               Esquecemos da portaria do Governo, só revertida  diante de forte clamor da opinião pública, para relaxamento das regras contra o trabalho escravo.

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               Esquecemos da lei que, ao longo dos próximos anos, possibilitará o perdão de um trilhão de dólares em impostos pelas grandes petrolíferas estrangeiras que ganharam os campos do pré-sal.

               Esquecemos do infame projeto de financeirização da dívida ativa dos Estados, depois de negociadas, pelo qual agências financeiras privadas (empresas independentes) se apropriam de recursos públicos com aberrantes taxas de lucro.

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               Esquecemos da mala de dinheiro do Loures, dos 51 milhões do Geddel, das denúncias convincentes da Procuradoria Geral da República contra Temer e da sua declaração de inocência por mais de dois terços da Câmara.

               Esquecemos de tudo isso porque a mídia esqueceu, e a mídia esqueceu porque está no negócio do esquecimento.

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               Essa altíssima taxa de esquecimento também tem sua razão de ser na própria velocidade com que o Governo, em sua origem ilegítimo, propõe medidas sobre medidas sem necessidade de aprovação do povo, contando apenas com a maioria do Parlamento que comprou com cargos, ministérios, emendas parlamentares e publicidade oficial.

               É possível que a cortina de esquecimento não cubra a própria falsa reforma da Previdência, mesmo manipulada pelo Governo e pela Globo, porque a sociedade, examinando seus próprios interesses de forma  objetiva, bloqueará a iniciativa. Entretanto, não se espantem que, se passar o projeto, ele caia também no esquecimento de uma opinião pública cada vez mais dopada pela manipulação e pelo niilismo midiático.

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               Esquecerão Lula? Não, não esquecerão. O descalabro do Governo Temer, na medida em que não possa culpar eternamente o governo anterior pelos seus desmandos e incapacidade política e administrativa, acabará construindo na imaginação do povo a imagem anterior de um tempo muito melhor. Esse tempo não será esquecido, estejam certos.

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