O suicídio de André Valadão

O empresário da fé passou a intensificar o seu discurso de ódio contra os homossexuais, após ter um relacionamento homoafetivo divulgado nas redes sociais

pastor André Valadão
pastor André Valadão (Foto: Reprodução/Facebook)


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Observando atentamente a postura e as falas do empresário evangélico André Valadão, percebe-se que ele trava uma luta desesperada com a sexualidade que precisa esconder dentro da Bíblia que ele costuma utilizar para atacar pessoas que não precisam omitir da sociedade a sua verdadeira orientação sexual. Observando mais atentamente o comportamento de outros ditos heterossexuais evangélicos, e não evangélicos também, é possível identificar a mesma luta contra a sexualidade reprimida. E eu não estou aqui apenas repetindo uma narrativa com relação a homossexuais enrustidos, que atacam os assumidos para matar o desejo que têm dentro de si. Eu quero propor uma reflexão sobre a morte. A física e a existencial. Mas, como assim, Ricardo?

Como diria, Jack, o estripador, vamos por partes. Comecemos pela narrativa construída e disseminada por boa parte dos evangélicos, de que eles são perseguidos por pregarem a verdade de Jesus Cristo e que isso já estaria previsto na Bíblia. A mesma Bíblia que destina trechos de alguns livros para classificar a relação entre pessoas do mesmo sexo como “abominável” e condenar os homossexuais ao fogo do inferno. E é com base nesses trechos, que André Valadão estruturou a sua bandeira “teo-ideológica” e pretende, ao mesmo tempo que mascarar a sua sexualidade apócrifa, se transformar em um grande perseguido por defender a palavra de Deus. Mesmo que ele tenha que sugerir a morte de homossexuais ou o próprio suicídio, como fez durante um culto que celebrava em uma de suas empresas nos EUA, e ainda foi aplaudido pelos fiéis à ele presentes ao local. 

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Após a “perseguição”, que pode incluir até um indiciamento criminal, afinal de contas, fazer uma convocação pública para o assassinato de um grupo de pessoas é crime - ou, pelo menos, deveria ser - essa cantilena liturgia anti homossexualidade vai alegar que a esquerda e o bicho papão do comunismo, querem proibir o cristianismo no Brasil, porque querem destruir a família tradicional, a moral, os valores, a ingenuidade de “chapeuzinho vermelho” e todo o blá blá blá fundamentalista que já conhecemos. Vale lembrar a declaração dada pelo também evangélico, Deltan Dallagnol, no programa “Roda Viva”, dizendo que a Bíblia determina a submissão da mulher ao homem e advertindo a quem contesta, que isso era uma determinação de Deus, você concordando ou não. Na ocasião, Deltan estava se posicionando contra o PL das fake News, que, segundo ele, abria uma brecha para uma “censura” a pastores que pregam essa orientação e restringiriam a leitura desses textos. Um raciocínio lisergicamente bíblico.

Ex positis, teríamos o cenário ideal para a incitação de uma guerra civil-religiosa, que mobilizaria a muitos desavisados, alienados e mal-intencionados pela “fé”, com a finalidade de desestabilizar a sociedade e o atual governo, que é manifestamente contrário a tal pensamento, em nome da defesa da palavra de um deus que só vive e reina no inferno dos corações de milhões de Valadões e Deltans, que, infelizmente, dividem conosco as suas amargas e dúbias existências neste planeta. Eu já escrevi aqui há um tempo, que Jesus Cristo é o cara mais sacaneado da história da humanidade. E André Valadão não me deixa mentir, quando se apresenta como mais um de seus discípulos. Nunca que Jesus andaria com ele ou o escolheria para pregar o seu evangelho. Nunca!

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O mesmo não podemos dizer do deputado Marco Feliciano, outro empresário da fé, que subiu à tribuna da câmara para defender o seu sócio no ramo da alienação religiosa, e ratificar a intolerância que os textos bíblicos estimulam contra os homossexuais, porque foram escritos por homens que pensavam como eles dois e também atribuíam à Deus os seus preconceitos. A diferença é que esses homens viveram há dois mil anos atrás, numa época em que já existiam homossexuais, mas que a civilização talvez não estivesse suficientemente amadurecida e humanizada para compreender certos aspectos pessoais da natureza humana. E Feliciano usou do mesmo argumento de Deltan Dallagnol, defendendo que, dentro das igrejas, os pastores podem orientar a seus fiéis como bem entenderem, desde que encontrem respaldo bíblico para as suas falas. Ele também disse que a esquerda e o comunismo querem destruir os valores cristãos da sociedade. É que a liberdade de expressão em nome do deus deles se sobrepõe às leis, ao direito à vida de pessoas LGBTS e aos ensinamentos do próprio Jesus Cristo, que, pelo que se sabe através de suas inserções na Bíblia, não se preocupava com a orientação sexual das pessoas.

O problema se agrava porque no livro de Levítico 20:13, está escrito que “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles. ” E como punir judicialmente os simpatizantes e praticantes desse texto bíblico, se a Bíblia é, para muitos, a palavra de Deus? Mesmo que Deus nunca tenha escrito pessoalmente nenhuma linha do livro, e tudo o que nele está contido é apresentado como inspiração “divina”? E aqui eu sugiro outra reflexão. Que certeza nós temos de que esses homens estavam realmente inspirados por Deus? Sobretudo, quando aprendemos que Deus é amor, misericórdia e perdão. E Jesus Cristo quando esteve entre nós, manifestou esse amor, essa misericórdia e esse perdão. Seria a Bíblia um livro controverso? Vale, no mínimo, uma análise a respeito. Voltando a André Valadão e a morte sugerida de homossexuais, chama a atenção o fato de ele ter começado a intensificar esse discurso de ódio contra os homossexuais, após o jornalista e deepfaker, Bruno Sartori, revelar em seu Twitter que teve os dois tiveram um affair. Sartori também revelou que sabia de outros casos homo afetivos de André Valadão e que se arrependeu de um dia ter ficado com o pastor.

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Chegando na morte, a física costuma ser a única saída encontrada por muitos homossexuais por não se aceitarem, devido ao preconceito que sofrem, inclusive, dentro da própria família. A existencial eles experimentam em vida diariamente, quando são atingidos por olhares de reprovação, gestos de repulsa e por palavras de ódio revestidas de divindade suprema, como as proferidas por André Valadão, que, muitas vezes, os definem como uma “aberração” e dignos de irem para o inferno. Um sujeito que vive por um fio entre essas duas mortes. A existencial, ele vivencia ao se travestir de pastor e incitar a intolerância contra outros seres humanos. A física, ele poderá experimentar, por sugestão própria e pelas mãos de algum fiel obediente de sua seita, no dia em que assumir a sua verdadeira identidade ou quando não houver mais dúvidas quanto à sua sexualidade auto vigiada. Que morra como preferir. O que André Valadão não pode continuar fazendo é incitar crimes contra uma parte da humanidade e seguir impune. Afinal, Deus é amor, mas o Estado, que é laico, é responsável por impor justiça aos criminosos aqui na terra.

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