O skate e a irreverência que incomoda os conservadores: como Rayssa Leal chegou ao topo

Fadinha, como a atleta é conhecida, superou muitos obstáculos para praticar em nível elevado um esporte que chegou a ser poibido em São Paulo por um prefeito de direita

Rayssa Leal (foto: arquivo pessoal)
Rayssa Leal (foto: arquivo pessoal) (Foto: Reprodução | Wander Roberto/COB)


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Ia escrever sobre o incêndio da estátua do Borba Gato. Foi uma ação cuidadosamente organizada, com a contratação de um caminhão-baú e a mobilização de cerca de 10 pessoas. 

Mas Rayssa Leal roubou a cena. E fui procurar conhecer um pouco da sua história e da história do esporte que deu ao Brasil a segunda medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio.

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Fadinha, como é conhecida, tem uma trajetória pessoal que lembra a do próprio skate, que se popularizou graças a adolescentes de famílias humildes da Califórnia, EUA, que nos anos 70 desafiavam as autoridades de seus municípios com manobras radicais em espaços públicos. 

Na Noruega, o esporte foi proibido entre 1978 e 1989, sob alegação de que colocava em risco a vida de adolescentes. 

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No Brasil, um político de direita, Jânio Quadros, proibiu o skate no Parque Ibirapuera e depois em toda a cidade. Coube a uma política de esquerda, Luiza Erundina, liberar a prática de esporte na cidade.

Assim, os adolescentes deixaram de apanhar da Guarda Municipal criada por Jânio Quadros para fazer suas manobras radicais. 

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Depois disso, foram criadas pistas de skate em São Paulo, seguindo o exemplo de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que já tinha uma pista desde 1976. Com isso, os skatistas puderam praticar seu esporte com segurança.

Fadinha também superou muitos obstáculos até colocar a medalha de prata em seu peito, no Japão. Ela ganhou o skate de um amigo do pai, em Imperatriz, Maranhão, quando tinha 7 anos e demonstrou imediatamente intimidade com a prancha sobre rodas. 

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Pouco depois, sua mãe postou o vídeo em que ela, vestida de fada, faz a manobrada conhecida como “heelflip”, depois de algumas tentativas frustradas, em que caía. O skatista mais conhecido do mundo, Tony Hawk, compartilhou o vídeo, mesmo sem conhecê-la.

Mesmo já relativamente conhecida, sua família não tinha dinheiro para levá-la aos campeonatos nacionais de skate. Convidada para ir a Blumenau, Santa Catarina, para participar de uma prova, a mãe só conseguiu dinheiro para o voo de ida. 

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Com a ajuda de outros participantes, elas obtiveram recursos para a volta. Mas de ônibus, em viagem que demorou três dias.

Em 2015, convidada para participar de outra prova em Santa Catarina, mãe e filha recorreram a um crowdfunding, para arrecadar dinheiro contado, para ida e volta. Pediram 3 mil reais, arrecadaram pouco mais de 4 mil reais.

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O sucesso nas provas pelo país e o vídeo compartilhado por Tony Hawk chamaram a atenção da imprensa, e ela acabou o personagem central de uma longa reportagem na TV Globo, na véspera do Dia das Crianças.

Foi quando ela conheceu Letícia Bufoni, uma das estrelas do esporte em nível mundial, também destaque pela irreverência. 

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Letícia fez publicidade de desodorante em que aparecia de salto alto sobre o skate, descendo pelo corrimão, com a mensagem: "Forte o suficiente para homens, mas feito para mulheres”.

Ao ver Letícia Bufoni no estúdio de TV, Rayssa chorou, e não escondeu que estava diante de seu maior ídolo. 

Hoje, Rayssa e a família já vivem do esporte - os pais deixaram o trabalho para administrar a carreira dela.

Ainda está longe de atingir o nível de estabilidade financeira de Letícia, que mora na Califórnia e é muito bem remunerada, graças aos contratos de publicidade e aos cachês que recebe por competição.

No Japão, Rayssa superou Letícia, desclassificada nas eliminatórias. E declarou por que se saiu bem:

"Eu tento ao máximo me divertir, porque tenho certeza de que, se divertindo, as coisas fluem naturalmente. Tem de deixar acontecer”.

Como não ser fã dessa menina?

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