O silêncio dos culpados
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Anthony Hopkins já era um ator conhecido quando participou das filmagens de Silêncio dos inocentes, filme de 1991, com enorme sucesso de bilheteria e de público. Seu personagem, Hannibal Lecter, era um psiquiatra diabolicamente assassino, a tal ponto perigoso que o encerraram dentro de uma gaiola especial. O ator inglês assim adquiriu notoriedade. Deixou de ser admirado por poucos, como antes, e passou a ser reconhecido e pago por produções caras e populares. A lembrança daquele filme, assinado por Jonathan Demme, quase uma obra de horror, só não se encaixa como uma luva na atual situação brasileira porque guardamos peculiaridades. Nada de tão diferente a ponto de notabilizar a Vice Procuradora da República Lindôra Araújo como uma magistrada impecável em suas funções. A ousadia que demonstrou na análise dos resultados da CPI da Covid, descartando a maioria das acusações como sem substância, demonstra que não teme o desprestígio junto à população e prefere as homenagens de autoridades no poder. Revelou-se, sem dúvida, Hannibal Lecter mais terrível do que o original.
A CPI da Covid não se reuniu em silêncio. Funcionou sob os holofotes e as câmeras de televisão. Suas conclusões se fizeram acompanhar pela população nos seus acertos e erros. Culpados, devidamente investigados, não podiam ser julgados por ela, mas entregues às autoridades competentes, incluindo o Procurador Augusto Aras. Quem esperava semelhante atitude da parte da Sra. Lindôra Araújo? Podia-se prever medo, timidez, até vontade de sair correndo. Mas que afrontaria a opinião pública com tamanha desfaçatez parecia imprevisível.
No filme de Demme, a inocência não garantia nada. A maldade personificada realizava os seus instintos, mais forte do que o sistema prisional. Havia o desejo de punir, impossível de se mostrar presente pela própria natureza dos personagens. Nos processos da Sra. Lindôra, os culpados permaneciam mudos, à espera de que usasse a sua ciência para... absolvê-los. Isso bastaria para que o Presidente Bolsonaro repetisse orgulhosamente que seu governo não se caracterizava por corrupção, como se ninguém, no seu grupo, se valesse de mãos leves para fazê-lo. Na verdade, não nos enganemos. Se os culpados exultarem em nome da impunidade, poupados pela Vice Procuradora, aconselha-se que aguardem. O mundo gira e põe de cabeça para baixo conceitos solidificados. Ainda mais que a culpa não punida recai sobre a cabeça dos pobres. Eles abundam nas ruas, na miséria, à espera de quem os defenda.
Senadores que participaram da CPI continuam conscientes da vontade geral de chegar aos culpados, sobre o tapete de um escandaloso morticínio. Afinal, cidadãos que caíram por culpa de um governo disposto a jogar todas as cartas em remédios inúteis. Hoje há a consciência de que estamos na hora de definir prioridades. As eleições já apontam vencedores. Motociatas e discursos de bravata não alteram as inclinações da opinião pública. Há gente com receio da cadeia, armazenando loucuras para acalmar os ânimos. A Sra. Lindôra, nossa Lecter tropical, deve ser uma delas. Que espere. Já fez o seu trabalho. Ampara-se em seu silêncio e na certeza de que o futuro não se anuncia com ares de vingança.
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