O show inútil do general kamikaze

"O esforço de Pazuello serviu para complicar mais sua situação, para caracterizar melhor suas responsabilidades, mas não servirá para isentar Bolsonaro de todo o mal que fez ao povo brasileiro", analisa a jornalista Tereza Cruvinel

(Foto: Leopoldo Silva)


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Por Tereza Cruvinel

No depoimento à CPI da Covid, o general Pazuello candidatou-se a ser chamado de tudo, menos de não ser caninamente leal a Jair Bolsonaro. Para blindar o chefe, assumindo o papel de bode expiatório que lhe foi reservado, mentiu, tergiversou, distorceu fatos e manipulou a história em curso do morticínio por Covid19.

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 A história que ele contou não bate com a que foi vivida e sofrida pelos brasileiros. Jurou que fez tudo certo, tudo por conta própria e nunca recebeu ordens de Bolsonaro, embora tenha dito “um manda e o outro obedece”.

Inútil, porque as digitais de Bolsonaro estão bem gravadas.  Ele mesmo registrou, por todos os meios, sua pregação contra as medidas de isolamento e proteção, como o uso da máscara, contra a compra de vacinas e a favor da cloroquina e de outros emplastos inúteis, dando uma ilusão de segurança aos seguidores de seu apelo para levarem uma “vida normal”, ao encontro da doença e da morte.  

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Para blindar Bolsonaro, agindo como um soldado kamikaze,  chegou ao ponto de dizer que o chefe é um nas redes sociais, postagens e aglomerações, e outro na vida real do governo.  Seu nervo vago não reagiu quando foi confrontado com vídeos em que Bolsonaro vociferava contra vacinas e negava a realidade da pandemia.  

Dizendo-se defensor do isolamento, calou-se quando surgiu o vídeo em que ele diz que não adiantava ficarem todos em casa. Isso lá em Manaus, com o vírus galopando. Que o importante era irem ao posto de saúde e pegar os remédios se sentissem algo. 

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Sim, os remédios recomendados pelo Tratecov, o aplicativo que ele jura nunca ter sido postado. Um hacker é que o colocou no ar, e como disse um senador,  hacker tão competente que conseguiu veicular uma matéria na TV Brasil, nossa antiga TV pública, hoje TV do Bolsonaro, exaltando a utilidade do aplicativo. 

Não vou ficar enumerando mentiras. Foram muito mais que as 14 do primeiro dia,  contadas pelo relator Renan Calheiros. O Brasil inteiro viu, e mesmo o bolsonarista mais renitente deve ter sentido vergonha alheia por ver um general do Exército mentir tanto.  

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Quando mentia, era inteligente. Quando não mentia, fingia-se de burro. Foi o que fez quando o senador Randolfe tocou num dos pontos mais graves, e este vale repetir aqui.

A compra das vacinas Pfizer continuava empacada no final do ano, por conta da inexistência de uma lei que autorizasse o governo a assinar um contrato isentando o fabricante de responsabilidade por efeitos colaterais. A minuta de uma medida provisória continha artigo neste sentido. E Randolfe teve acesso a ela na época.

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Mas quando o texto chegou ao Congresso com a assinatura de Bolsonaro, o artigo não constava do texto. O senador fez uma emenda reiterando a autorização, que foi aprovada, mas o trecho foi vetado por Bolsonaro. Ele não queria a compra da vacina. E só com isso, ele atrasou em muito o contrato.

O assunto acabou sendo resolvido pelo Congresso, num projeto assinado pelo presidente do Senado, para não irritar o Planalto com a autoria do senador da oposição. E finalmente foi sancionado, porque naquela altura Bolsonaro e filhos já haviam se rendido à vacina, ante a pressão crescente por uma solução para a mortandade.

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O esforço de Pazuello serviu para complicar mais sua situação, para caracterizar melhor suas responsabilidades, mas não servirá para isentar Bolsonaro de todo o mal que fez ao povo brasileiro, empurrando milhares para a morte, seja com as pregações que levaram a descuidos, seja com a sabotagem da vacina ou a empurroterapia da cloroquina. O relatório não será feito em cima de depoimentos, mas do conjunto de elementos probatórios. E Bolsonaro os forneceu e continua fornecendo com fartura.

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