O santo guerreiro e o dragão da maldade

Que volte para as trevas, de onde saiu por um lapso, um golpe de Estado, algo que, em vez de perpetuar, devemos corrigir e esperar que não se repita



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Causa espécie a capacidade de certos artistas de captar sinais profundos nos dilemas da sociedade. Glauber Rocha, nosso importante cineasta, revelou possuir semelhante talento. Em filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol ou O dragão da maldade contra o santo guerreiro, lá estavam estampadas características da nossa formação a ponto de nos perseguirem, depois de vê-las, sem sair da nossa mente. Segundo essa interpretação, no Sertão miserável, havia forças poderosas se esgrimindo numa espécie de luta eterna, com pitadas de maldade e de santidade. Passou-se o tempo e, de repente, frente aos acontecimentos ligados ao atual pleito, vemo-nos novamente diante de algo que a razão parece entender, mas se mantém perdida e intrigada. 

 Na ânsia de ganhar, a campanha eleitoral revela caráter e põe à mostra sintomas que, nos filmes de Glauber, havíamos presenciado com tamanha intensidade. Obcecado pela ideia da recondução ao cargo, o capitão não sabe mais o que fazer para alcançar padrões de popularidade, patrimônio que ele próprio pusera a perder ao longo de seu mandato. Ficaram à sua disposição resíduos de possibilidades que, cavando a terra, mostram a cabeça coroada dos dragões da maldade, cada vez mais sedentos de ódio e de difamação. A vontade de se afirmar não hesita diante de nada, recorre a mentiras, enquanto nas praças públicas, Lula lidera multidões fartas da opressão e da carência de direitos em função de uma economia pessimamente gerida. Esgotam-se os espaços para gente nas ruas largas e nas esplanadas escolhidas a dedo para abrigar multidões. Discussões serenas e civilizadas, como pedem alguns, não surgiram nem nos debates televisivos, controlados pelos apresentadores para não autorizar confusões. Impossível uma troca de opiniões a respeito dos destinos do país se um dos lados acusa e difama, esquecendo-se até das regras da boa educação. Aliás, em tal plano, se houvesse um concurso, perderia feio. O operário metalúrgico, criado por uma mãe solteira com oito filhos, destaca-se em respeito pelo outro. É mais uma demonstração do que, nos filmes de Glauber, para um espectador atento, salta aos olhos, por trás de uma história que transita, livremente, entre o bem e o mal. O que o Dragão da Maldade ignora, o Santo Guerreiro exibe em doses duplas como se, com ele, readquiríssemos o nosso desejo de cidadania, na construção do país. De um lado a estupidez, a ignorância letrada segundo os ritos do quartel. De outro, uma sensibilidade adquirida na própria existência, nos dissabores da decepção, nos ditames do sofrimento que, olhando para trás, não lhe faltaram na biografia.

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As pesquisas de opinião não medem qualidades de caráter. Nem propriamente medem a popularidade de cada um. Calculam oscilações do instante, direções da brisa que ora empurram para um lado, ora para outro. Caráter fica por nossa conta, por conta de quem sabe, perfeitamente, depois de intensos sacrifícios, o que o futuro nos reserva. Pobreza, miséria em doses cavalares, NÃO! Conforto para cada um de nós, universidades de qualidade, direitos humanos e respeito mútuo para todos, incluindo indígenas, SIM! Quanto ao Dragão da Maldade, que volte para as trevas, de onde saiu por um lapso, um golpe de Estado, algo que, em vez de perpetuar, devemos corrigir e esperar que não se repita. Mais uma vez, vale a pena citar Glauber: “Se entrega Corisco! Eu não me entrego não!”. E estamos com ela, basta coragem.

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