O Rio só se salva com a volta da democracia
O sociólogo e colunista do 247 Emir Sader escreve que, "da mesma forma que o Rio foi privilegiado pelo governo anterior em termos de investimentos e políticas sociais, é uma vítima privilegiada do governo instalado pelo golpe de 2016 e do ajuste e da recessão que esse governo coloca em prática"
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O Rio sempre esteve na vanguarda da luta democrática no Brasil. Quando se deu o golpe de 1964, esteve entre os poucos estados que elegeu um governador não automaticamente alinhado com o governo militar. No processo de redemocratização, o Rio foi o cenário das maiores manifestações que liquidaram a ditadura e introduziram a transição à democracia. Quando a democracia foi retornando ao pais, o Rio foi um estado avançado na reconstrução do Estado de direito, da educação popular, dos direitos sociais da sua população.
O resgate econômico e social do Rio neste século esteve estreitamente associado às ações do governo federal, reativando a economia, injetando recursos diretamente e através da Petrobras, do BNDES, da reconstrução da indústria naval brasileira. Todos os retrocessos atuais tem igualmente a ver com a ruptura da democracia e com o ajuste fiscal imposto pelo atual governo federal.
Os efeitos desse ajuste e da recessão que ele provoca sobre o Rio tem sido devastadores. O desmonte de grande quantidade de estruturas produtivas da área energética, o estancamento dos financiamentos do BNDES, o desmonte da indústria naval, colocam o Rio na pior crise econômica da sua histórica, com efeitos arrasadores no plano social, a começar pelos maiores índices de desemprego do pais.
Da mesma forma que o Rio foi privilegiado pelo governo anterior em termos de investimentos e políticas sociais, é uma vítima privilegiada do governo instalado pelo golpe de 2016 e do ajuste e da recessão que esse governo coloca em prática. Candidatos a governar o Rio que estejam, de forma direta ou indireta, ligados a esse governo e a suas politicas econômicas, só representariam a continuação da tragédia que vive atualmente o estado. Poderão prometer recuperação econômica e outras coisas mais, porem se não renegam o governo ilegítimo surgido do golpe e que implementa politicas econômicas rejeitadas pelo povo brasileiro e pelo povo do Rio de Janeiro nas quatro ultimas eleições presidenciais, estarão enganando os cariocas.
O Rio de Janeiro é democrático, aberto, solidário, popular. O Rio tem uma vocação social, cultural, que precisa ser incentivada, implementada. O Rio só voltara' a ser feliz se deixar de ser marcado pela violência, pelo genocídio de seus jovens negros. Se fizer com que sua musica, sua arte, seu esporte, voltem a ser sua marca essencial. Que as mulheres passem a ter papel essencial na sociedade carioca. Que os jovens não sejam mais discriminados e excluídos, mas passem a representar o futuro que queremos para o Rio.
Há uma velha política e velhos políticos que tem que ser rejeitados, mesmo alguns que podem sugerir que seriam novidade, mas que nunca fizeram nada pelo Rio, mesmo tendo mandatos parlamentares. Tem eles o mesmo estilo da velha política, nem dizem o que fariam pelo Rio, menos ainda com quem governariam. Pulam de partido a partido, aparentemente sem ideologia, mas reproduzem o pior da velha politica: o clientelismo, negócios pessoais turvos, exploram imagem publica, às vezes esportiva, às vezes artística, mas reproduzem o pior da velha politica e dos velhos políticos.
As mulheres, os jovens, os negros, são os maiores ausentes da politica brasileira e também da politica do Rio. Deles depende a renovação da politica do Rio. Sem eles o Rio nunca será uma democracia social, cultural.
A ação antidemocrática da oligarquia politica tradicional diminuiu o tempo de campanha eleitoral, para dificultar os debates e para facilitar que os que já tem mandato possam se reeleger. O debate público só começará em 15 de agosto e irá até o começo de outubro. Muito pouco tempo, pelo que é necessário debater sobre o Rio. Pouco tempo para que caras novas se projetem para renovar o governo do Rio e suas representações parlamentares estadual e nacional.
Mas só a via democrática, nacional e estadual, pode resgatar do Rio da pior, mais prolongada e profunda crise da sua história, paralela à crise brasileira. Só o retorno da democracia pode salvar o Brasil e salvar o Rio.
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