O Rio que odeia Bolsonaro

"O Carnaval sempre abordou, desde muito antes do Sambódromo, a crítica de questões sociais misturadas a costumes, mas só agora foi politizado ao máximo num ambiente tensionado pelo extremismo do bolsonarismo", diz Moisés Mendes do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Reprodução/Twitter)


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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia - As estruturas da contravenção misturadas ao Carnaval sempre estiveram a serviço dos políticos de plantão no poder do Rio. O fenômeno que se exibe agora parece ser o da desconexão entre o poder do Carnaval e o poder da direita representada por todas as suas expressões políticas na cidade.

Escolas e arquibancadas mostraram não ter relação nenhuma com Bolsonaro, Crivella e Witzel. O folião apenas curioso, incapaz de decifrar estruturas e significados, tem apenas suspeitas e pede explicações.

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O cenário sugere que não há mais, como havia nos bons tempos dos bicheiros que comandavam tudo, a convergência de interesses entre quem manda no Rio e quem manda nas escolas e constrói e leva a festa para o Sambódromo.

Os cariocas votam nos Bolsonaros para ajudar a elegê-los presidente, senador e vereador (o outro filho é deputado federal por São Paulo). Mas os Bolsonaros não têm vozes que os representem nas comunidades carnavalescas.

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É natural que essa desconexão se dê com Crivella, porque o prefeito e o diabo conspiram contra a festa. Mas Bolsonaro tem ‘base popular’ no Rio. O Carnaval, se é maltratado e não simpatiza com ele, poderia pelo menos ignorá-lo. Mas decidiu bater com força em Bolsonaro como nunca havia batido antes em políticos considerados algozes.

Os pesquisadores, e são muitos e são bons, podem oferecer respostas. Parece que se diluiu a relação até romântica da elite política e empresarial (Boni, da Globo, desfilava ao lado dos bicheiros e foi tema de samba-enredo da Beija-Flor) com o mundo das comunidades.

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Uma explicação possível pode levar a uma simplificação. Os bicheiros de antigamente, do tempo de Castor de Andrade, Luizinho Drummond, Anísio da Beija-Flor, Capitão Guimarães e Emil Pinheiro, não existem mais com o mesmo formato.

E a ligação de Bolsonaro não é com a contravenção tradicional, mas com o empreendedorismo sempre suspeito das igrejas evangélicas e o submundo do crime pesado das milícias. Há espaço para milicianos no Carnaval?

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Podem dizer, também como suspeita, que o Carnaval se ajustou à esquerda porque é patrocinado por ela. Sabemos que não é.

O Carnaval sempre abordou, desde muito antes do Sambódromo, a crítica de questões sociais misturadas a costumes, mas só agora foi politizado ao máximo num ambiente tensionado pelo extremismo do bolsonarismo, que carnavalescos e a elite do Carnaval decidiram encarar.

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A direita chega a apontar contradições: muitas escolas têm ligação com todo tipo de crime, mas homenageiam Marielle. Assim é o Rio.

Seria surpreendente se as escolas homenageassem Bolsonaro. E essa é a pergunta da Quaresma: alguma escola teria coragem de exaltá-lo, como a Paraíso da Tuiti exaltou Lula no ano passado?

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Há coragem suficiente para que algum dia uma escola, com a boa grana do esquema do Queiroz, desafie os religiosos bolsonaristas e saúde Bolsonaro no Sambódromo? É certo que não, nem com toda a dinheirama das rachadinhas.

Bolsonaro não é um Getúlio, um Jânio, um Juscelino, um Negrão de Lima e nunca será um Lula. Os bolsonaristas sabem, até pelos vínculos com os neopentecostais, que não conseguem associá-lo a uma festa. Ele odeia a festa e a festa o abomina.

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Mas Bolsonaro não é completamente refratário ao Carnaval. Tanto que usou o Twitter para registrar que muitos foliões o apoiavam nas ruas. Em Balneário Camboriú...

O Carnaval deste ano ajudou a denunciar que a base social popular de Bolsonaro é mais do que reacionária, moralista, religiosa e silenciosa, pelo menos no Rio. Essa base popular talvez seja mais precária do que se imagina e certamente é muito triste.

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