O regionalismo nordestino
Tenho uma visão muito crítica da tradição. Como disse uma vez a Ariano Suassuna, na UFPE, a tradição é ambígua e contém muita coisa ruim. É preciso selecionar o que é bom do que não presta
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O meu amigo e blogueiro José Luiz Silva, do Museu do Homem do Nordeste (Fundaj), incitou-me a falar sobre este tema, que já foi assunto de minhas preocupações em anos passados levando-me a publicar o livrinho: O FIM DO NORDESTE e outros mitos. Como disse uma vez, não sou um "nordestinado "ou "homem telúrico " de Raquel de Queiroz. E nem tenho João Grilo como modelo de herói. Tenho uma visão crítica sobre a construção da nossa identidade cultural. Que aliás tem mudado muito. Haja vista a poética de João Cabral de Melo Neto e o movimento mangue.
Se meus antepassados não tivessem saído de Beirute e vindo para o interior de Pernambuco. Talvez eu não tivesse nascido aqui ou teria outra identidade.
De toda maneira, como disse Ortega e Garret, nós somos nós e nossas circunstâncias. Tenho que aceitar que sou nordestino e conviver com isso. Mas as raízes de um povo não se contrapõem às suas asas para voar. Desde cedo entendi que para me contrapor ao atraso e ao conservadorismo da tradição (nordestina) tinha que me agarrar a um tipo de saber cosmopolita, mais universal, moderno, laico, republicano e… socialista.
A minha compreensão política da realidade me afastou do regionalismo nordestino, levando-me a fazer muitas críticas à obra de Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, Raquel de Queiróz e outros. Nunca fui a favor da estetizacão do atraso. A transformação da necessidade em virtude. Não alimento uma veneração pela cocada, o alfenim, a buchada ou feijoada .
Tenho uma visão muito crítica da tradição. Como disse uma vez a Ariano Suassuna, na UFPE, a tradição é ambígua e contém muita coisa ruim. É preciso selecionar o que é bom do que não presta (a homofobia, o preconceito racial, a misoginia e o misoneísmo).
Por isso que elogiei a poética manguebeat e suas canções críticas sobre a desigualdade social e a miséria. A mesma coisa com o auto natalino de João Cabral e o romance social de Graciliano Ramos.
Acredito que, como nos ensinou Josué de Castro, é possível recriar a nossa identidade num registro planetário, ser cidadão do mundo, conservando nossas características regionais: os pés na lama, mas a cabeça no mundo. Esse é o meu lema.
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