O recado que vem das prateleiras dos supermercados

"Há poucos dias, assisti a uma reportagem na TV sobre a persistência da inflação dos alimentos", relata

(Foto: REUTERS/Pilar Olivares)


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Lula completa um mês de governo exibindo um saldo expressivo. Em 30 dias, derrotou uma tentativa de golpe, encontrou chefes de estado e de governo reinserindo o Brasil no mundo das nações civilizadas, reuniu duas vezes todos os governadores e tomou para si o enfrentamento da tragédia humanitária que se abate sobre o povo Yanomami.

Também abriu o Palácio do Planalto para a retomada do diálogo com a sociedade civil, recebendo sindicalistas e reitores de universidades, dentre outros segmentos.

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E mais: pautou a agenda do debate político do país, denunciando o golpe de estado de 2016 e atacando vários dogmas do mercado financeiro, tais como teto de gastos e independência do Banco Central.

Sem falar que o presidente foi obrigado a, na prática, antecipar a posse, ao assumir a liderança das articulações políticas que levaram à aprovação da PEC da Transição.

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Tudo isso, enquanto ainda estrutura seu governo. Qualquer levantamento acerca do primeiro mês de todos os governos passados mostrará que nenhum deles começou pisando no acelerador tão fundo como Lula.

Contudo, não lembro que Lula tenha, pelo menos em pronunciamentos públicos, tocado em um assunto delicado, com grande potencial para influenciar no humor da população em relação aos governantes: os preços exorbitantes dos preços dos alimentos.

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Claro que esse é um problema para lá de complexo que não se resolve da noite para o dia, pois depende de várias ações de governo combinadas e com efeitos a médio prazo.

A volta dos estoques reguladores, o investimento maciço em agricultura familiar, o aumento do volume de crédito para os produtores e a decisão política de não destinar a maior parte da produção para a exportação, em detrimento do mercado interno, são apenas algumas ações apontadas por especialistas como capazes de conter a carestia.

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Há poucos dias, assisti a uma reportagem na TV sobre a persistência da inflação dos alimentos, na qual as pessoas entrevistadas relatavam que os preços pela hora morte da carne fizeram com que elas buscassem a alternativa do frango.

Só que, como o frango também subiu, optaram pelo ovo. Não contavam, porém, que até esse alimento superimportante na cozinha dos brasileiros disparasse de preço, registrando um aumento de 19% só nos últimos seis meses.

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Por coincidência, no mesmo dia, ouvi em um supermercado uma senhora dizendo: “Votei no Lula para ele dar um jeito nesses preços, mas até agora nada.” Claro que isso não significa que essa eleitora perdeu a paciência com apenas 30 dias de governo.

Mas quem sabe não pode servir de indicativo de que chegou a hora de Lula usar seu extraordinário poder de comunicação, e de pautar o debate nacional, para abordar em suas falas esse tema tão sensível.

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Nem que seja para, no curto prazo, apenas sinalizar a preocupação do governo com o drama vivido pelas pessoas na hora de levar comida para casa.

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