O recado da Bolívia com a prisão de Camacho: peguem o fascistão
Os bolivianos nos ensinam tardiamente: não deixem o grande golpista solto, escreve Moisés Mendes sobre a prisão de Fernando Camacho
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Por Moisés Mendes, para o 247
Todos os líderes do golpe de 2019 contra Evo Morales, que não fugiram da Bolívia, foram presos a partir de março de 2021. Menos um, o mais poderoso de todos, o fascistão boliviano Luis Fernando Camacho.
Camacho só foi preso agora, na quarta-feira, por participação no golpe de três anos atrás e por voltar a conspirar contra a democracia ao insuflar greves em setores essenciais e bloqueios de estradas.
O recado que vem de lá é a repetição do alerta que tem sido feito aqui: se os grandes fascistas não forem contidos, a engrenagem golpista continua funcionando.
Camacho é governador de Santa Cruz de la Sierra, o reduto do latifúndio e dos grandes empresários, onde circula o dinheiro e o rolo.
É chamado no Brasil de Bolsonaro boliviano por suas posições extremistas. Mas não é bem assim. Foi líder estudantil, vem de família rica e é influente na elite econômica de Santa Cruz.
Ganhou projeção como líder do Comitê Cívico do Estado, um ajuntamento de direita que alguns chamam de TFP boliviana, sem formato de partido, e sempre trabalhou na articulação política.
Já Bolsonaro era um tenente medíocre, de família pobre. Segundo o general Eduardo Villas Bôas, nunca foi militar, porque apenas passou pelo Exército.
Camacho, que já foi acusado de lavagem de dinheiro no Exterior (Panamá Papers), é um político organizador e agregador.
Bolsonaro sempre foi solitário e atuou como lobo avulso por 27 anos na Câmara, até se transformar na gambiarra anti-Lula.
Camacho esteve em liberdade até agora, sempre tramando um novo golpe, porque se beneficiou de uma sequência de fatos que não pouparam seus parceiros da extrema direita.
O golpe acontece em novembro de 2019. Em outubro de 2020, Luis Arce, do mesmo Movimento ao Socialismo de Evo, é eleito presidente. O golpismo é derrotado.
Em março de 2021, o Ministério Público inicia uma série de prisões de golpistas civis e militares. Jeanine Añez, a senadora que ocupou a presidência durante o golpe, é presa.
São presos todos os chefes das três armas, o chefe da Polícia Nacional (a PM federal deles) e oficiais subalternos.
Só dois líderes escapam. O general Williams Kaliman, chefe das Forças Armadas, que pediu para deixar a ativa logo depois do golpe e fugiu para os Estados Unidos, e Luis Fernando Camacho.
Ninguém sabe até hoje por onde anda Kaliman. Mas Camacho ficou livre e solto. Havia sido eleito governador de Santa Cruz uma semana antes de o Ministério Público deflagrar as prisões do ano passado.
Pode ter sido poupado por um erro de cálculo do MP, que retardou as prisões, ou pelo receio do próprio MP e do Judiciário de que, como provável eleito governador do Estado mais poderoso, não deveria ser enfrentado.
Camacho foi o líder civil do golpe em 2019. Foi ele quem empurrou a Polícia Nacional para um motim e depois forçou a entrada dos militares na crise.
Lidera um conglomerado de partidos chamado Acreditamos e vinha comandando as rebeliões contra o adiamento do censo que poderia aumentar a representação (de direita, claro) de Santa Cruz no Congresso na eleição de 2025.
Com a prisão dele, o Ministério Público desarmou uma bomba, com atraso, e acionou outra. Luis Arce e o próprio Evo terão de provar que podem segurar as reações da oposição.
O que importa é que MP e Judiciário decidiram que era hora de enjaular um sujeito viciado em golpe. Pegaram um extremista que poderia se cacifar à presidência da República.
O mais importante, e que resume tudo, é que está preso o chefe das arruaças. Já estavam encarcerados os mandaletes dele, sem e com farda, e até milicianos que atiçou contra Evo Morales.
Os bolivianos nos ensinam tardiamente: não deixem o grande golpista solto. Peguem os fascistões logo depois de um golpe ou de uma tentativa, ou eles continuarão mobilizando e financiando milicianos, terroristas, manés e patriotas.
No Brasil, Bolsonaro é o líder de todos eles, mas há outros fascistões ainda em atividade, principalmente entre grandes empresários financiadores das milícias digitais e dos acampamentos. O Camacho brasileiro é um capacho endinheirado de Bolsonaro.
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