O racista nega a vida, quer um mundo VIP e ter reserva de mercado
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Raça não existe. O que existe é a espécie humana.
Toda vez quando eu olho a minha sombra no chão ou nos muros, nas paredes dos prédios e das casas, percebo que a minha silhueta é a de um ser humano. Tal constatação me leva a afirmar que todos os cidadãos são iguais perante Deus e às leis dos homens. No caso, as que vicejam no Brasil, País sob os ditames do Estado Democrático de Direito e de uma Constituição soberana, que ampara e protege a cidadania.
Trata-se de minha sombra, a sombra do meu corpo, que é similar a de qualquer corpo humano, seja ele masculino ou feminino, negro ou branco, vermelho ou amarelo. Tenho, e muitos como eu, de cor preta ou branca, a plena consciência de que todos os seres humanos, homens e mulheres, nascem iguais perante a lei e a sociedade.
Todos os cidadãos ou cidadãs nascem com boa índole e, no decorrer do tempo, alguns trilham seus caminhos por veredas tortuosas, mas a maioria segue à normalidade da vida, que é de crescer, trabalhar, estudar, casar, criar filhos, até que estes também cresçam, para darem continuidade a mais um ciclo da vida.
Contudo, sabemos nós, e de antemão, que a vida tem seus percalços e barreiras, e um dos piores deles, certamente o mais infame, é o racismo praticado por certos indivíduos e grupos que medem as pessoas por suas réguas desditosas e que causam dor, não somente àquele que foi vítima de racismo mas, sobretudo, à sociedade, que sempre paga um preço alto quando ocorrem os conflitos raciais.
Quero dizer que o racismo, tanto o dissimulado quanto o explícito, é indubitavelmente uma caixa de Pandora que, quando aberta, solta seus monstros. É assim no mundo e também no Brasil, quando vemos muitas pessoas de origem racial negra saírem às ruas para protestar quando se sentem acuadas pelo Estado policial ou pelos mercados de trabalho, empresarial e de consumo.
O Brasil é País racista e nele vive uma parcela da população que qualifica e desqualifica a pessoa humana pela cor de sua pele, pelos seus traços e cabelos, pela sua face. Por seu turno, os mesmos indivíduos que têm a desfaçatez e indignidade de avaliar seu semelhante por suas características étnico-raciais, recusam-se, perfidamente e desumanamente, avaliar o cidadão negro e de classe social popular e proletária por seu bom caráter, sua generosidade e solidariedade, por sua inteligência e capacidade de trabalho e competência.
O racismo é o pai do ódio e da intolerância, do apartheid entre as camadas sociais, além de ser o fomentador da desunião das inúmeras civilizações. O racismo é escravidão. Ele tem conotação diabólica e leva à tona a violência e a discórdia. O racismo tem como propósito fundamental separar a humanidade em guetos, por intermédio das distâncias, dos muros visíveis e invisíveis, porque seu caráter é elitista e todo elitista é preconceituoso e cúmplice atemporal da violência, inclusive a estatal.
O racista quer um mundo somente para ele e para os que ele considera seus “iguais”, porque, no fundo, ele é um ser fraco e medroso, covarde e vil. Tal sujeito inseguro e equivocado por natureza nasceu puro, bom e mereceria viver em um mundo plural, igualitário e democrático, onde todos os indivíduos respeitassem suas diferenças, a acolher e respeitar as diversidades humanas e sociais.
A face mais dantesca, a mais draconiana do racismo é porque esse sentimento infame e também sórdido tem essência separatista e excludente, porque possuidor de interesse econômico e social. É isto mesmo! O racista luta, sobretudo, por privilégios e benefícios, porque sua visão de mundo é curta, rasa e larga, além de perversa. Porém, não tem profundidade, no que diz respeito a compreender as diferenças humanas, que são as forças essenciais de nossa sobrevivência através de milhares de séculos, milênios, bem como as realidades de sermos humanos.
O racista quer um mundo VIP, uma sociedade para poucos usufruir a seu bel-prazer. O racista é, sobretudo, egoísta e hipócrita, porque vive do trabalho e dos serviços de todos os que são partes de grupos sociais de incontáveis comunidades humanas.
A verdade é que ele quer reserva de mercado e, com efeito, dominar a economia e as finanças, sendo ele patrão ou empregado. O racista aposta na exclusão para ele se dar bem. Ele deseja uma sociedade de castas, e, para atingir seus propósitos infames e sórdidos, utiliza-se de preconceitos e apóia lideranças inconsequentes, politicamente extremistas, a influenciar irresponsavelmente os setores e segmentos da sociedade, que se tornaram submissos ao fanatismo e radicalismo religioso, partidário e ideológico.
Lideranças cruéis e desassossegadas de alma e espírito, mas dispostas a dividir a humanidade, como se a humanidade não fosse uma só, pois única e indivisível.
Afirmo que o Dia 20 de Novembro, o Dia da Consciência Negra é, mais do que tudo, um dia de ponderação, reflexão, de pensar e rememorar a história dos povos que foram escravizados, assim como lembrar das terríveis consequências que tais sentimentos e ações por parte dos racistas e adeptos da hegemonia racial e econômica propiciam de atrasos e retrocessos às sociedades, às nações, aos países e à humanidade.
Racismo é guerra, desunião e sofrimento, miséria e morte. Racismo é exclusão e negação da existência do seu semelhante por causa de condição social e, principalmente, da cor da pele, pois a pobreza, a violência e a exclusão estão diretamente ligadas ao Racismo. Racismo é morte e se nega a edificar a igualdade e o direito à vida.
Viva o Dia da Consciência Negra!
É isso aí.
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