O que vejo para 2016

Vejo o PT cada vez mais unido em torno da derrota do Impeachment e de um novo ajuste com tom desenvolvimentista moderado, que acalantará a mesma situação que na sociedade: esperança e ansiedade



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Mexendo no Twitter, deparei-me com um conjunto de "visões" do professor e cientista político Guadêncio Torquato, por quem tenho o maior respeito, ainda mais pelas belas fotos que ele posta nas redes sociais sempre com um copinho de uísque a ser encontrado na paisagem.

Acho válida esta perspectiva empírica, dada a quantidade atroz de erros que cometem doutos especialistas no assunto. Contudo, minha modesta capacidade de avaliação, forjada em apenas 20 anos de atividade política, intuem-me outras visões. Para quem interessar, seguem as dele no final do artigo.

1) As mídias sociais só merecerão uma nova observação se os partidos e candidaturas souberem articular uma mensagem mais programática através delas. Vejo que elas serão eficazes se forem usadas numa estratégia conjunta das candidaturas partidárias, sobretudo quando se tratar de candidatos/as jovens. No mais, cairão na dispersão informacional já acostumadas à presença delas. Se tudo como antes, elas poderão ser novidades determinantes apenas nas pequenas cidades.

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2) Vejo o/a eleitor/a centrado nas questões do emprego, do custo de vida, nos direitos e qualidade dos serviços públicos.Responder a estas questões de maneira crível determinará o voto. Por isso, vejo um desvantagem das propostas que exigirão "esforço" dos/as trabalhadores/as e dos/as mais pobres para "sair da crise".

3) Vejo a campanha paulista(na) centrada no que divide hoje São Paulo: ciclovias ou não? Direito ao espaço urbano coletivo (fechamento da Paulista para automóveis aos domingos) ou não? Imposto progressivo para financiar, por exemplo, ônibus com ar-condicionado para o maior bem-estar dos/as mais pobres ou não? Políticas sociais ou fechamento de escolas para ajustar a contabilidade pública?
O debate nacional será visto como politicagem e o principal recado das eleições paulistanas será se tem viabilidade um novo perfil de gestor público sem medo de travar as disputas pelo projeto de cidade que acredita.

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4) Vejo discurso eleitoral centrado em resolver os empregos e melhorar os serviços públicos. Em discussões mais complexas - como justiça tributária federativa - quem entrar vai dar com os burros n'água, falando para setores mais elitizados da classe média e do empresariado. Tal qual quem, pela esquerda, ornamentar demais o discurso com revoluções democráticas disso ou daquilo. A pauta popular é preservar o conquistado. A fase do passo adiante foi bloqueada pela crise econômica e política. Restabelecê-la será um desafio posto nestas eleições.

5) Também vejo a banalização das manifestações de rua afastando classe média, porém, isso será devido à derrota do Impeachment. Não haverá mobilização "das galeras de bolso completamente vazio", que estarão preocupadas com emprego, num misto entre a esperança, após prevalecer o governo (não por ele em si, mas por se manter o conhecido ante o duvidoso e incerto), e a ansiedade com a situação econômica vivida no dia a dia. Um sentimento popular dúbio e de transição rumo ao desfecho de 2016 em relação aos indicadores sociais e trabalhistas.

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6) Pode haver uma mobilidade de classes econômicas para baixo, mas não será capaz de instituir um sentimento de indignação, dada esta expectativa ante uma transição para dias menos ruins.

7) Prevejo um Judiciário predominantemente batendo na mesma tecla que descreveu o criminalista Kakay: criminalização dos ricos e pobres sem acesso à Justiça, intensificando-se sobre a criminalização da política, com foco no PT e no PMDB onde este for fiel ao governo federal, tentando impactar nos resultados das urnas. Todavia, este impacto se dará apenas se não houver mínimas respostas positivas da economia.

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8) Vejo o PT cada vez mais unido em torno da derrota do Impeachment e de um novo ajuste com tom desenvolvimentista moderado, que acalantará a mesma situação que na sociedade: esperança e ansiedade, que embalará positivamente as campanhas do partido. Por isso, não vejo Dilma presa ao suposto dilema do PT: "chupar cana e assoviar ao mesmo tempo". E vejo, portanto, o insucesso dos impactos eleitorais da criminalização da política e do PT.

9) Vejo um PMDB unificado na Convenção de março, mas com vitória da ala liderada pelo presidente do Senado, ainda que seja com um Michel Temer se reelegendo à presidência peemedebista enfraquecido. O partido seguirá dividido nas municipais, mas com hegemonia do governismo.

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10) Vejo a economia brasileira começando a respirar em março/abril, clímax da derrota do Impeachment, do que resultará na toalha jogada pelos empresários que se movem politicamente contra o governo, que passarão a investir conformados com o desfecho da última cartada de instabilidade política; e a gradual retomada da confiança dos empresários econômicos, que farão o mesmo porque confiantes nos reflexos da estabilização política sobre a economia. O País terá rumo: o da retomada dos empregos e a preservação das políticas sociais. Devagarzinho. Doses homeopáticas de esperança ansiolítica.

11) Ao invés da banalização de denúncias, vejo uma pressão forte sobre a Lava-Jato para apurar as denúncias contra o PSDB. Tal pressão será impulsionada pelos movimentos na sociedade e na institucionalidade contra o Impeachment, com a subsequente derrota deste.

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12) Como perfis de outubro 2016, vejo como novidade relevante as candidaturas de jovens mulheres, negros e LGBTs embaladas nas lutas sociais de oposição à agenda conservadora de Eduardo Cunha. Tais lutas entornarão favoravelmente ao governo na batalha anti-Impeachment (simultânea ao Fora Cunha), o que levará lideranças engajadas pelos direitos civis a desejarem disputar as eleições. De outro lado, a dura oposição de candidaturas ao inverso. Perfis novos numa polarização entre o progressismo e o conservadorismo no plano ideológico, cuja composição em prefeituras e parlamentos municipais nas cidades com mais de 200 mil habitantes determinará os rumos do Brasil para 2018 e será o indicador verdadeiro de vitória ou derrota do governo, que, mais do que um tipo de gestão, é uma filosofia de nação. Por isso, é fundamental investir em candidatos que apoiam causas progressistas.

13) Vejo cada ator político tentando a pose dos 3 macaquinhos - "não vi, não falei, não ouvi" - mas obrigados a responder a pergunta-chave "como se combate a corrupção?". Com mais punitivismo e força das corporações ou com mais participação e controle social? A resposta predominante mais o resultado dito no ponto acima determinará também o Brasil de 2018. O perigo é governo e oposição sentirem-se "vitoriosos" projetando um Brasil mais refém das corporações e de propostas de soluções menos democráticas e desvalorizadoras da política, o que só será capitalizado efetivamente pela oposição e pela direita em geral, com reforço das tendências mais retrógradas da sociedade.

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14) Vejo menos Espelho de Narciso. Quem quiser sobreviver a 2016 terá que apostar, ainda que como soluções pontuais consistentes aos problemas do País, numa demarcação de projetos. E só há duas disponíveis com viabilidade: a de quem protege os pobres, os trabalhadores e promove direitos, serviços e políticas públicas e de quem defende o oposto, ainda que com "sapateado de catita". A diferença agora é que os que se somam ao primeiro campo terão que reconstruir sua credibilidade. O caminho da anti-política, dadas as questões da ordem do dia para a população, só encantará setores da classe média. Com ela se poderá dialogar de modo mais produtivo para o Brasil por meio da ênfase nas causas progressistas.

15) Vejo também tensões pré-eleitorais fortes quanto ao financiamento de campanha: quem dispuser de maior naco do fundo partidário terá vantagem de partida, por isso um dos aspectos da judicialização da política será o de tentar sangrar os recursos do PT. Porém, o xis da questão será mesmo a capacidade de inovar para mobilizar a doação de pessoas físicas. Só campanhas com construção participativa de propostas com a sociedade, mobilização pública, envolvimento de bases partidárias e das coligações e com know how nessa seara ampliarão a vantagem. Mas, engana-se quem crê que isso produzirá mais amadorismo "libertário" na política. Sobretudo em relação à novidade relevante descrita em relação aos perfis de 2016, só campanhas que conjuguem baixo custo com profissionalismo em amplos campos abrangidos por uma campanha eleitoral se destacarão.

16) Vejo o Judiciário tentando entrar fundo no labirinto dos Regimentos do Parlamento, mas este reagindo à altura, do que resultará numa reacomodação da harmonia entre os poderes. Entrar só se pedir licença ou não for percebido.

17) Vejo Lula como a estrela das campanhas petistas de 2016, para consolidar e recuperar sua credibilidade junto à força do partido, para projetar 2018 com ou sem ele, mas sendo determinante. Disso sairá o paradoxo entre a ainda mais desesperada incursão por "pegá-lo" e o desesperado temor das reações populares diante desta hipótese, cuja resultante que se pode esperar num ano de ampla mobilização social - que é um ano eleitoral- só pode ser levar o PT a uma vitória arebatadora.

Por fim, o professor não citou, mas faço questão: trocando em miúdos, o PT não sairá com uma vitória acachapante, mas com uma vitória totalmente imprevisível e inesperada, contrariando a maioria esmagadora dos analistas atuais.

Como diz o Rochinha: quem viver, verá.

Seguem as "visões" de Guadêncio Torquato:

"Vejo expansão das mídias sociais este ano. Um fenômeno a ser observado. Mídias sociais como formadoras de opinião.
Vejo maior autonomia do eleitor este ano. Menos influência da política tradicional.
Vejo campanha paulista refletindo o nervosismo do Brasil. São Paulo como pulmão do pais.
Vejo discurso eleitoral centrado nos braços sociais do Estado, força aos municípios( municipalismo) e repactuação da Federação
Vejo banalização das manifestações de rua. Afastando classe média e arregimentando galeras de bolso completamente vazio
Vejo 5 milhões de pessoas da classe C voltando p classes D e E. Indignação crescerá.
Vejo Judiciário em linhas divergentes: entrar mais ou diminuir inserção na avenida da política?
Vejo PT também muito dividido: ser desenvolvimentista e ser contracionista. A favor e contra Governo dele mesmo.
Vejo PMDB muito dividido. Mas chegando ao ponto de união perto do Congresso em março.
Vejo fundo do poço em março/abril. Economia esfrangalhada. País sem rumo.
Vejo banalização de denuncias: uma comendo a outra. Poucos conseguem distinguir alhos de bugalhos. Canibalização recíproca.
Vejo perfis de outubro 2016: assépticos, tradicionais, profissionais liberais, mulheres, celebridades, jovens, pequenos empresários.
Vejo cada ator político tendo pose dos 3 macaquinhos: não vi, não falei, não ouvi.
Vejo Espelho de Narciso sendo o principal objeto a balizar discursos, entrevistas, opiniões. Estado-Espetáculo no clímax.
Vejo tensões pré-eleitorais fortes: grana. Como fazer campanha sem dinheiro?Maná não cai dos céus.
Vejo Judiciário entrando fundo no labirinto dos Regimentos do Parlamento. Judicializando a política. Uma faca de dois gumes.
Vejo Dilma presa ao dilema do PT: chupar cana e assoviar ao mesmo tempo.
Vejo Lula subindo ao patamar mais alto da ameaça. Pode escapar? Pode. Em termos".

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