O que será da esquerda depois das eleições

Fortalecimento dependerá também da difícil luta para mudar em grande medida a composição do Congresso, elegendo uma grande bancada do PT e da esquerda

(Foto: Divulgação)


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Por Emir Sader

Não estou entre aqueles que subestimam as eleições. Claro que atuar em função das eleições é equivocado. As eleições devem ser o resultado de um extenso trabalho político, ideológico e de massas.

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Mas as eleições são a forma de disputa do governo na democracia. É porque obteve a maioria dos votos da população que os governos do PT puderam desenvolver o grande e meritório trabalho de diminuição das desigualdades no país, de combate à fome, de realização de política externa soberana. 

Mas essas vitórias foram resultado de um longo trabalho do PT de resistência aos governos neoliberais do Collor e do FHC, construindo, ao longo do tempo, o programa que Lula colocou em prática a partir de 2003. As eleições foram o resultado dessa longa acumulação de forças, que conseguiu convencer a maioria dos brasileiros que a maior prioridade do país não é o ajuste fiscal, mas as políticas públicas.

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Hoje a esquerda vive uma situação favorável para as próximas eleições. Tem o Lula como candidato favorito para as eleições presidenciais, tem candidatos favoritos para os governos de muitos estados, a começar pelo nordeste, ao que podem se somar outros estados importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná. Seria um conjunto de governos estaduais, entre os do PT, do PSB e de outras candidaturas anti-bolsonaristas, que configuraria um campo consistente de governos estaduais.

O desempenho deles, especialmente em estados onde a esquerda nunca – ou quase nunca governou -, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, será muito importante para o futuro da esquerda, mais além do que possa ser uma nova presidência do Lula.

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Claro que o futuro da esquerda e do próprio Brasil depende da vitória do Lula e do que poderá ser seu governo. Se consegue, mesmo em meio a grandes dificuldades - pela mais pesada herança que um governo jamais recebeu no Brasil -, retomar o crescimento econômico, implementar as políticas sociais, ampliar o mercado interno de consumo de massas, formalizar a situação da grande maioria de trabalhadores precários e reencaminhar o Brasil pelo caminho do crescimento e da justiça social, o país e a esquerda estarão em situação muito favorável.

A esquerda terá mostrado, na prática, suas diferenças com a direita, como somente a esquerda é capaz de levar o Brasil a superar a crise atual, que é possível resgatar a situação interna do país e seu prestígio internacional.

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Será a reafirmação de que a polarização neoliberalismo x antineoliberalismo é a fundamental no país, que a direita representa o neoliberalismo, que só acentua o poder do capital especulativo e, com ele, as desigualdades, enquanto a esquerda representa o crescimento econômico e a distribuição de renda.

O PT certamente se fortalecerá, pelo governo Lula e pelos governos estaduais que consiga eleger, especialmente no nordeste, mas com peso determinante para o futuro do partido caso se dê a vitória do Haddad em São Paulo e seu governo, coordenado com o Lula, sejam as alavancas para o Brasil e São Paulo fortes e consolidados. A superação dos governos tucanos em São Paulo será um elo decisivo para a consolidação da esquerda no estado mais importante do país, sem cuja adesão ao antineoliberalismo, essa luta não terá consistência e continuidade em todo o Brasil.

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Esse fortalecimento dependerá também da difícil luta para mudar em grande medida a composição do Congresso, elegendo uma grande bancada do PT e da esquerda, antes de tudo. Esta composição dificilmente será majoritária, terá que depender de complexo processo de alianças com o MDB, com o PSD e com outros partidos, de composição heterogênea, assim como com governos estaduais igualmente complexos nas suas políticas. Este será um trabalho essencial para favorecer as condições do governo federal e para que a situação política do país se transforme em uma de hegemonia real da esquerda – como já havia conseguido realizar no segundo mandato do Lula.

A situação dos outros partidos de esquerda já é mais difícil de prever, embora uma vitória do Lula e de governos progressistas em estados importantes seja um cenário favorável também para esses partidos. O PSB, pelos governos estaduais que pode eleger – mesmo se distintos entre si – poderá se fortalecer, mas pode, ao mesmo tempo, enfraquecer sua bancada parlamentar. Sua participação em um governo Lula será importante para o governo e também para a correlação de forças internas a esse partido.

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Situação similar deverão ter o PSol e o PCdoB, que estão em processo de enfraquecimento, que poderão superar a cláusula de barreira – especialmente este último – somente pela federação com o PT. Suas bancadas podem diminuir, sua expressão política também pode ser menor. O enfraquecimento também em relação ao PT poderá aumentar a tentação de adesão a esse partido, pela força e o prestígio que o governo Lula deverá trazer.

O bloco de forças de esquerda será determinante para o futuro do Brasil. Da sua unidade, coesão, desempenho nos governos e no Congresso, dependerá, junto ao desempenho do governo Lula, seu futuro e o futuro do próprio Brasil.

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