O que os comprometidos com a democracia e a ética devem fazer?
Enfim, o que não estamos discutindo com racionalidade é: como fazer a passagem? Se esta bomba estourar e envolver Chico e Francisco, como salvar o bebê e jogar a água do banho?
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O caso Petrobrás parece muito, mas muito grave. Acontece que quem é democrata não gosta de destruição das instituições. Por qual motivo? Porque elas têm a função de nos “colar”. Obviamente que nem todas instituições cumprem isto. No Brasil, aliás, são poucas que cumprem. Mas, para um democrata, a saída é a reforma. No tapa, na maioria das vezes, é trocar seis por meia dúzia. Em muitos casos, é trocar seis por dois.
Entrar na briguinha de partidos não é nosso papel. A democracia é muito mais que partidos. É garantia de estabilidade, de acordo de convivência, de pacto instável sobre as prioridades públicas. Não dá para ficar neste eterno jogo de “voto útil”. Vejam o ridículo por que passa o Lobão. Ou os meninos que podiam estar cortando cana e ajudando o país, mas preferem empunhar meia dúzia de bandeirolas e sacanear com os militares. Do lado dos eleitores vencedores, percebam a histeria geral. Pelo desespero deles se chega à conclusão que o melhor é reconstruir o país todo, já que imprensa, oposição, parlamento, judiciário, tudo, ou quase tudo, está dominado.
Não. Entrar neste mimimi não constrói absolutamente nada. Justamente porque os dois lados querem é desconstruir.
Minha preocupação é com o caminho de reconstrução, não o de demolição.
Se o que se vaza pela imprensa (que, aliás, agiu na ilegalidade ao divulgar o que era sigilo de justiça) é real, não restará nada dos pilares do sistema partidário. E, também, de algumas outras instituições.
Ora, o discurso fácil é abafar ou doa a quem doer. O problema é que abafar não parece respeitoso com quem colocou seu dinheiro nos cofres públicos. Mas, esta história de doer em quem doer é meio ignorante porque se não for bem conduzido, vai doer em nós, cidadãos. Ou seja, as duas frases fáceis podem estourar justamente em nós, que não colocamos a mão na cumbuca de lugar algum.
O que percebo é falta de cultura política em nosso país. Uma infantilidade generalizada. Confundem governo com Estado e nem param para pensar o que é uma instituição e como ela pode ser reformada ou substituída. Uma ânsia de começar do zero como se fôssemos os portugueses pilotando Nina ou Pinta, avistando um monte e decidindo fazer desta porção de terra um grande Portugal.
“Menas”.
Está na hora de baixar este vício na adrenalina que os marqueteiros conseguiram, com muita competência, fazer jorrar na nossa corrente sanguínea durante as eleições.
Mas, depois de abrir o presente de Natal, em poucos dias a vida volta ao normal.
Enfim, o que não estamos discutindo com racionalidade é: como fazer a passagem? Se esta bomba estourar e envolver Chico e Francisco, como salvar o bebê e jogar a água do banho?
Ninguém parece se candidatar.
Tenho a impressão que o melhor caminho seria adotar a agenda da reforma política de vez. Com muita força. Massificar a discussão.
Pedir licença para os partidos políticos, já que é bem provável que quase todos lambuzaram a mão com sei lá o quê, e assumir a responsabilidade cidadã (até topo a palavra cívica, se desejarem).
É a passagem que me preocupa.
Esta história de refazer o país a cada cinco ou dez anos é como reformar a nossa casa todo ano. Chega uma hora que nos perdemos nos cômodos, não nos reconhecemos em nada e um olhar panorâmico revela que o estilo que adotamos é o mais horrível Estilo Kitsch da história da arquitetura mundial.
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