O que o escândalo das fake news nos diz sobre MG?
Ainda há de se descobrir muito sobre essa fraude eleitoral que, ao que tudo indica, produzirá não apenas um presidente, mas uma série de políticos ilegítimos no poder
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A última semana se encerrou sob o burburinho da ação ilegal de empresas, patrocinando a disseminação fake news em favor do candidato Jair Bolsonaro, num esquema que pode se mostrar multimilionário. Isso, se antes era dinheiro não declarado de campanha, hoje trata-se de transgressão mais grave, por ferir uma das normas mais importantes da legislação eleitoral: a proibição do financiamento empresarial.
Sempre se desconfiou de que esta regra, sem uma reforma política para mudança no sistema eleitoral (especialmente com a aprovação do voto em lista, despersonalizando a eleição proporcional e valorizando a política partidária), sem o uso exclusivo do fundo partidário e sem a desmarketização do programa eleitoral de TV e sua transformação em inserções partidárias e pools televisivos semanais com debates, poderia colocar o Brasil no caminho de uma eleição com espaço exíguo para discussão do país.
O financiamento privado por pessoa física, ainda que limitado a 10% da renda anual, permite o aumento do poder de grandes fortunas pessoais na disputa eleitoral, tornando desproporcionalmente competitivos candidatos sem qualquer história política, mas muito dinheiro para se fazerem mais vistos que os adversários, autofinanciando-se ou beneficiados pelo patrocínio robusto de fortunas pessoais variadas.
A emenda, portanto, ficou pior que o soneto. Se antes o financiamento privado permitia a negociação de pautas públicas de interesse empresarial, subjazia o chefe de Estado como controlador do filtro do interesse público sobre o privado, a despeito dos negócios em jogo. Mesmo gestões polêmicas como o PMDB fluminense ou o PSDB de Minas Gerais resguardaram certo compromisso social, do qual dependiam Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Aécio Neves ou Antônio Anastasia para manterem seus capitais políticos.
Agora, não sendo os empresários reféns da política tradicional, entram de cabeça como "pistoleiros" políticos que participam desse processo apresentando-se como a não-política, velando o flagrante descompromisso com o interesse público em benefício de vaidades, interesses econômicos pessoais ou de terceiros. Esta coluna já explicou a que meios os bilionários da "nova política" podem recorrer para usar dos cargos públicos para enriquecer, às vezes licitamente na forma, porém sempre deploravelmente no conteúdo. Basta usar do poder da caneta para tomar medidas que valorizem as ações, imóveis e os setores econômicos em que investem.
A negação da política e sua contaminação por interesses particulares encontra sua quintessência na propaganda eleitoral via Whatsapp, em que, sem ter o que apresentar aos cidadãos, os não-políticos disseminam falsidades contra seus adversários, caso de Jair Bolsonaro no plano nacional, e possivelmente de Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro e João Dória (PSDB) em São Paulo. Em Minas, Romeu Zema (PN) nadou de braçada na rejeição de seus principais adversários, Antônio Anastasia (PSDB), o herdeiro político de Aécio Neves (PSDB) e relator do golpe de 2016 no Senado Federal, e Fernando Pimentel (PT), impactado pelo antipetismo da classe média e pela gestão sabotada pelo Governo federal.
Desta forma, vendeu-se com facilidade como a novidade no processo eleitoral, apresentando a mesma falácia do correligionário João Amoêdo na corrida presidencial, de que ele e seu secretariado não receberão salário, de que não vai morar no Palácio das Mangabeiras, dentre outras. Via mensagens de Whatsapp disparadas aos milhões na última semana de eleição, Zema sequer precisou mentir sobre seus adversários, os quais já eram suficientemente flagelados pela realidade, justa para Anastasia, injusta para Pimentel, que não tinha ferramentas suficientes para se defender. Entrando com o peso do dinheiro na reta final de campanha, bastaram alguns dias para que Zema saltasse dos 7% que tinha, voto da elite tucana cansada do PSDB, para 41%.
Aliado a isso, embora ainda não haja levantamentos qualitativos sobre a disseminação de notícias por empresas de marketing digital em Minas Gerais, certamente o vínculo entre a campanha de Zema na reta final e o chamado a votos para o Senado em candidatos variados do neoconservadorismo antipolítico brasileiro, Dinis Pinheiro (SD), Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PHS), insuflou o voto desses nomes que corriam por fora na disputa às duas vagas mineiras, derrubando a votação de Dilma Rousseff.
Não fosse por isso, Dilma venceria as eleições, em primeiro ou, quando muito, em segundo lugar. Pesquisas para o Senado erram, especialmente quando estão em jogo duas vagas, pois não conseguem captar a força dos candidatos quando somadas a primeira e a segunda opção dos eleitores. Ainda assim, nas eleições anteriores em que ocorreu essa disputa, em 2002 Eduardo Azeredo (PSDB) e Hélio Costa (PMDB) venceram sem sustos Tilden Santiago (PT) e Sebastião Quintão (PSB), além de outros nanicos. Em 2010, Aécio Neves deixava o Governo estadual e era pule de dez, enquanto a disputa renhida entre seu colega de chapa, o ex-presidente Itamar Franco (PPS), e o então ex-prefeito de BH Fernando Pimentel era previsível, terminando com vitória para o aliado de Aécio. Historicamente, disputas para o Senado são vencidas por nomes muito conhecidos, pois mobilizam menos o debate público e apelam à experiência política, chamando o eleitor a decidir na última hora e beneficiando ex-governadores e presidentes. Em 2018, tudo mudou.
Portanto, os sobressaltos das eleições mineiras de 2018 não são da ordem da imprevisibilidade das pesquisas. Isso pode ser aplicado a inúmeros resultados eleitorais da região sudeste, para os Executivos estaduais, para senadores e deputados estaduais e federais, sendo o possível vitória de Bolsonaro na corrida ao Planalto a joia da coroa. Ainda há de se descobrir muito sobre essa fraude eleitoral que, ao que tudo indica, produzirá não apenas um presidente, mas uma série de políticos ilegítimos no poder.
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