O que o artista independente e o povo têm em comum

O Brasil é uma potência em todas as áreas em que se possa imaginar. Mas é dever do Estado estimular a manifestação dessas potências

Que mal faz um violão?
Que mal faz um violão?


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Que a arte e cultura no Brasil é algo de difícil acesso à população, isso todo mundo já sabe. Desde quando eu me entendo por gente, ouço falar sobre a falta de hábito do brasileiro em ler um livro, em ir a espetáculos de teatro, em visitar um museu, em assistir concertos de ópera, etc. Existem motivos que dificultam ou até mesmo impedem totalmente o povo de consumir algo que não seja apenas TV, rádio e agora a rede social, esse último, que está ocupando o lugar da televisão, enquanto veículo de alienação coletiva.

Quando surgiu a internet, houve por parte das pessoas que sentem prazer em estudar e também em artistas anônimos, uma esperança no sentido de ter em mãos, uma forma de se ter contato com materiais de estudos e o grande público, respectivamente, uma vez que essas duas coisas, são necessários recursos financeiros para possuí-los, e o ciberespaço possibilita essas atividades quase que de forma gratuita; é quase porque ainda temos que pagar a mensalidade pra ter esse serviço. Obviamente a internet continua sendo a principal forma, atualmente para que as pessoas possam experimentar esse mergulho nesse mundo infinito do conhecimento e da auto divulgação, mas ainda assim, para que a análise consiga chegar em uma solução, sobre os problemas do acesso à arte e cultura ao povo, temos que adicionar na discussão, o fator dinheiro e o fator artista independente.

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Caso alguma empresa fizesse uma pesquisa na população, para saber sobre, se as pessoas gostariam de ir a teatros, salas de cinema, bibliotecas, museus, exposições artísticas diversas, eu tenho certeza absoluta que a resposta seria afirmativa na grande maioria. Também tenho certeza que isso é algo que todos sentem falta, por mais que o gosto por novelas, memes no Instagram e dancinhas no tiktok sejam fascinantes, mas acredito que um programa diferenciado semanal com a família cairia bem, no ponto de vista desses possíveis pesquisados. Mas e se essa investigação se ampliasse e abrangesse os artistas independentes? Aqueles artistas que não tem recursos, nem empresários, produtores, agentes, etc. Caso a pergunta da pesquisa fosse se eles gostariam de expor, divulgar, viver da sua arte, etc., igualmente tenho certeza absoluta que a resposta seria 100% afirmativa. No fim das contas, tanto o público quanto esses artistas estão carentes e distantes entre si. Ao observar quem tem condições de ir aos eventos e quem tem condições de promover os tais eventos, são pessoas que fazem parte da classe média e média alta; a famosa “panela”. Os artistas anônimos e o povão sofrem do mesmo mal, que é a falta de dinheiro; e como precisam trabalhar no modelo tradicional de horas semanais e receber salário, inclui aí outro problema que é a falta de tempo; pro povo, falta de tempo de sair de casa, e pros artistas, falta de tempo pra produzir.

Refletindo mais um pouco a respeito dessa situação, podemos concluir aqui que, o artista em questão faz parte dessa mesma população trabalhadora e consumidora. É muito comum encontrar pessoas trabalhando como motorista de Uber, entregadores de aplicativo, pedreiros, corretores, funcionários públicos, e tantas outras profissões, mas que no fundo gostariam de viver de arte. Mas como não existe um mercado e um incentivo amplo e eficaz por parte do poder público, estes decidem não se arriscar, e na primeira oportunidade, abandonam seus sonhos. Pode não parecer no primeiro momento ao examinar toda a conjuntura, mas o problema da falta de interesse do indivíduo em arte e cultura e o problema da ausência de mais artistas, estão conectados. Dessa forma, o que sobra é sempre a mesmice, o entretenimento raso, os enlatados, as lacrações, etc.

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Recentemente, participei de uma reunião voltada para os artistas do rock, que tinha como intuito, pensar formas de fomentar a volta desse estilo às paradas de sucesso. Estiveram presentes, artistas famosos e anônimos. E o que havia em comum em quase todos era a dificuldade em conseguir shows, falta de locais para se apresentar, falta de patrocínios, etc. Vi ali, relatos de lendas do rock que diziam não ter condições de preencher um edital, devido às enormes exigências e requisitos para participar, provando que esse formato de “apoio” aos artistas não funciona, pois se até os veteranos não conseguem, imagina os novatos.

Eu, particularmente, enquanto artista independente, vou utilizando o método, tipicamente brasileiro, que é guardar uma parte da renda do mês, para ir investindo aos poucos na minha carreira musical autoral, a partir dos cachês de shows voz e violão que ganho, na noite carioca. Porém, acredito que caso o poder público, tanto o municipal, quanto estadual e federal, começarem a investir pesado na cultura underground, não apenas na música, mas em todas as formas de artes, focando nas pessoas que não tem nem acesso a financiamento e nem a conhecimento sobre políticas de fomento, e ao mesmo tempo, facilitar esse acesso, acredito que ela possa gerar emprego e renda, da mesma forma que acontece com o mercado mainstream. E com relação ao público, é preciso desde já começarmos a defender a redução da jornada de trabalho, mantendo, é claro, a valorização do salário mínimo, com os direitos trabalhistas garantidos, além dos auxílios mensais para as pessoas de baixa renda, que já existem, pois assim, o povo terá tempo e dinheiro para consumir as produções culturais locais.

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O Brasil é uma potência em todas as áreas em que se possa imaginar. Mas é dever do Estado estimular a manifestação dessas potências, pois o único setor capaz de transformar a sociedade é o poder público, pois o poder privado só quer se aproveitar daquilo que já está pronto. Vamos apoiar a arte e cultura dos pequenos para que eles se tornem grandes, e contribuam para a continuação do desenvolvimento artístico brasileiro.

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