O que Josué Alencar nos diz sobre Alckmin
Se Josué Alencar não quer aparecer nessa foto, pode significar que quatro minutos em dez, todos os dias na TV, junto a Alckmin, seja algo pior do que muitos imaginam. É isso que o empresário mineiro está nos dizendo
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As últimas semanas, de intensa movimentação no cenário político pré-eleitoral, um tanto atabalhoado por todo o atraso causado pelas incertezas decorrentes da instabilidade do governo golpista e da prisão injusta imposta ao ex-presidente Lula, colocaram dois mineiros como peças chave naquela que se afigura a chapa principal da centro-direita: o PSDB de Geraldo Alckmin. As movimentações de Josué Gomes da Silva, conhecido por "Josué Alencar" em referência ao pai, e de Antônio Anastasia são centrais na definição do candidato a vice na composição que tentará se viabilizar na tarefa inglória de se livrar da imagem de candidatura do sistema.
Josué é peça estratégica na demanda tucana por mostrar-se em 2018 como candidatura de centro. Com o filho de José Alencar, que já foi cortejado pelo próprio PT para sua chapa, favorita disparada segundo as pesquisas, Alckmin tenta capitalizar a lembrança dos tempos de prosperidade do país, argumentando que era a composição com o setor produtivo nacional o pilar mais importante da melhora na qualidade de vida e desenvolvimento econômico do final dos anos 2000, e não o PT. Este, no argumento traçado pela cúpula tucana, teria feito ruir o pacto econômico erguido nos anos 1990 (devido à corrupção, assistencialismo e todo aquele discurso reiteradamente apresentado pela direita). Desta forma, a chapa Alckmin-Alencar poderia ser defendida como um amálgama das eras FHC e Lula e, assim, abriria margem para o PSDB defender sua agenda e viabilizar-se, enfim, como o centro.
Mas já diria o estrategista político Carlos Matus: nenhum planejamento deve ocorrer de forma normativa, desconsiderando o cenário e o que pensam os demais agentes, incluídos aí aliados, adversários, produtores, especuladores e a jóia da coroa no processo eleitoral: o povo. Por isso, Josué sabe que meter a mão na cumbuca tucana representa, agora, um risco grande de arranhar sua imagem pessoal e o legado do pai, bem visto, este sim, tanto pela direita quanto pela esquerda. Josué, hoje dono do imenso império industrial têxtil da Coteminas, é o sintoma de que, lá no íntimo, as elites produtivas do país receiam embarcar no projeto encabeçado pelo PSDB, justamente porque ele não tem nada de centro. É ultraliberal, conforme denunciou em carta o senador americano Bernie Sanders, e portanto prejudicial ao setor industrial brasileiro. Com Ciro escanteado e sem saber qual será o futuro permitido ao PT pelo Estado de exceção que se constituiu no Brasil pós-golpe, Josué pode afastar-se da política, mal tendo entrado.
Isto joga Alckmin nas mãos de sua outra e mais previsível possibilidade: marchar com o DEM e assumir o que, de fato, sua candidatura representa: uma proposta definidamente à direita liberal, poucos graus à esquerda da candidatura Bolsonaro, porém simétrica ao modelo do Governo Temer, o que por si só atrai a rejeição da esquerda e do eleitor que hoje encontra-se à extrema direita. Se, até 2014, este segmento do eleitorado tinha no PSDB um refúgio anti-PT, é difícil convencê-lo agora, com um candidato garantido no segundo turno numa eleição sem-Lula (cenário indesejável, porém possível), a migrar para o PSDB.
Por isso, Alckmin esteve pressionado a negociar com seu partido a cessão da chapa postulante ao Governo de Minas a Rodrigo Pacheco, jovem deputado do DEM, tirando do páreo o ex-governador Antônio Anastasia. Neste sábado (28), no entanto, a mesma foi oficializada, desarticulado o desejo do DEM. Pacheco seria apresentado como "o novo" e, portanto, livraria a centro-direita mineira do estigma deixado por Aécio Neves e a imagem do golpe e do escândalo da JBS. Esse xadrez todo, entretanto, ainda pode terminar com a previsível e esclarecedora indicação do ministro da Educação de Michel Temer, Mendonça Filho, para a Vice-Presidência da República.
O substrato da movimentação política pré-eleitoral, ao ser desvelado, dá muito mais os indícios da correlação de forças e da leitura política correta do momento que uma ideia sacramentada do que vá acontecer. Portanto, pouco importa se o PSDB vai terminar obrigado a ceder espaço ao DEM em troca de Mendonça Filho, se Aldo Rebelo rasgará sua biografia em troca do posto pelo Solidariedade (outra possibilidade aventada), se Josué voltará atrás no flerte com a direita, ou ainda se vai aparecer algum "J. Pinto Fernandes sem nada a ver com a história", como diria Carlos Drummond de Andrade.
O que ressalta, nesse instante decisivo, de aquecimento para a batalha política que vai se travar, é que a indefinição na dança das cadeiras dos vices mostra o quanto as forças políticas fisiológicas do país não confiam na figura e no projeto liderado por Geraldo Alckmin. Ao mesmo tempo, evidencia o quanto o palanque mineiro é importante, com seu imenso eleitorado e grande capilaridade, e o quanto o PSDB sai atrás ao disputar um estado em que a presidente deposta, Dilma Rousseff, fará campanha para o Senado e lidera com ampla margem para o segundo colocado (que é Aécio Neves e sequer deve disputar o cargo, o que amplia a vantagem de Dilma).
A "vitória" da conquista das alianças partidárias e do tempo de TV, afinal, pode mostrar-se insuficiente se o que o tucano tiver a apresentar não puder preencher com qualidade os quatro minutos de conversa com o eleitor. Se Josué Alencar não quer aparecer nessa foto, pode significar que quatro minutos em dez, todos os dias na TV, junto a Alckmin, seja algo pior do que muitos imaginam. É isso que o empresário mineiro está nos dizendo.
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