O que explicar ao porteiro sobre a duração da crise

Acabaremos numa convulsão social, e nas vésperas de uma guerra civil talvez veremos surgir algum líder que ponha abaixo essa patifaria que os ladrões apanhados na Lava Jato, que coincidem ser os vendilhões da pátria, estão fazendo com o Brasil e com o seu povo

Eliseu Padilha, Michel Temer e Henrique Meirelles
Eliseu Padilha, Michel Temer e Henrique Meirelles (Foto: Jose Carlos de Assis)


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Já não me emociono mais com conversas entre especialistas sobre a situação atual e o futuro da economia brasileira. É generalizada a percepção de uma corrida para o desastre na escala do que se tornou conhecida como a Grande Depressão dos anos 30 nos Estados Unidos. Trata-se, em geral, de uma sopa de números sobre a contração do PIB e o aumento do desemprego com elevado grau de impessoalidade. Parece que o desastre não se refere a nós diretamente, mas ao "outro". De uma certa forma parece que estamos protegidos.

Só me surpreendo pela emoção na hora que saio na portaria de casa ou entro no táxi. Então, com infinita ingenuidade, o porteiro ou o motorista me perguntam, como se eu tivesse uma varinha de condão: "Então, doutor, quando essa crise vai acabar?" Se eu fosse consultar minhas próprias convicções, diria imediatamente: "Não sei. Mas o Governo baixou uma lei que assegura o aprofundamento da crise ao longo de uns 20 anos. Não tenha nenhuma ilusão no curto, no médio e no longo prazo."

Fico imaginando o nível de perplexidade diante da situação que vivemos por parte das pessoas simples. Elas imaginam que, como toda a crise, esta também vai acabar. A dúvida é se vai durar seis meses ou um ano ou mais. Sem conhecer os determinantes da crise só podem fazer conjeturas baseadas sobretudo na esperança. Diante disso, o que podemos fazer em face dos questionamentos deles, nós que ousamos acreditar, com alguma audácia, que temos conhecimentos econômicos satisfatórios e capazes de estimar o curso futuro da história?

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Tenho cerca de 40 anos de profissão, e jamais vi nada semelhante à situação atual no Brasil ou no mundo. Diante de crises cíclicas os países tinham reações políticas mais ou menos padronizadas dentro do receituário da macroeconomia keynesiana. As crises podiam não ser curadas, mas eram minimizadas. No caso atual, temos política deliberada de aprofundamento da crise por pressão das classes dominantes financeiras e dos abutres que compraram os dirigentes políticos para destruir o espaço das estatais em favor do setor privado especulativo.

Vemos que, depois de comprar a preço de banana a siderurgia estatal, o sistema público de telecomunicações, grande parte da Vale do Rio Doce, e parte do sistema elétrico, o capital vadio avança sobre a Petrobrás, os bancos públicos, as empresas de engenharia abaladas pela Lava Jato e, finalmente, a própria água, como ocorre com a Cedae sob a infame pressão do ministro Henrique Meirelles. A crise não é casual. Ela é um instrumento para fragilizar o Estado e liquidar com a soberania econômica brasileira.

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Nos cálculos do Governo entreguista, 20 anos será tempo suficiente para reduzir a osso o setor público brasileiro e eliminar qualquer possibilidade de avanço no Brasil rumo a um estado de bem-estar social. Querem nos impor a receita original chinesa de superexploração do trabalho para viabilizar um capitalismo superlucrativo. Daí a prioridade de reformar a Previdência e a CLT a fim de reduzir ao mínimo, ou mesmo eliminar, os direitos dos trabalhadores. Foi para isso que se adotou a PEC-55, a PEC da Morte.

Claro, ninguém levaria a sério uma lei orçamentária inconstitucional, para durar 20 anos, se não houvesse uma realidade política infamante por trás disso. A elite dirigente que, a serviço da classe dominante, fez um contrato com a depressão através dessa lei, provavelmente calcula que dominará o poder por esse tempo graças ao sistema de compra de votos com dinheiro, com ministérios e com cargos públicos, mediante artifícios que deram certo no impeachment e continuaram a render frutos nas recentes votações no Congresso.

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Diante disso, ocorreu-me dizer ao porteiro e ao motorista de táxi: Não sei exatamente quanto tempo vai durar a crise mas lhe garanto que, por um esquema radical da extrema direita ou da extrema esquerda, alguma novidade surgirá das manifestações sociais do tipo a que assistimos em Vitória. Não é que eu queira isso. Mas acabaremos numa convulsão social, e nas vésperas de uma guerra civil talvez veremos surgir algum líder que ponha abaixo essa patifaria que os ladrões apanhados na Lava Jato, que coincidem ser os vendilhões da pátria, estão fazendo com o Brasil e com o seu povo.

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