O que é um doutor?
Doutor é quem possui doutorado. O doutorado ou doutoramento pressupõe a elaboração de tese inédita sobre algum assunto, com produção de novos conhecimentos, de nova ciência e tecnologia, ou de novas interpretações de fatos
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À luz de mais uma mentira e falsificação no Ministério da Educação, seguida de correção e desmentido para escamotear a indignação com o crime, volta à tona o significado do título de doutor.
Doutor é quem possui doutorado. O doutorado ou doutoramento pressupõe a elaboração de tese inédita sobre algum assunto, com produção de novos conhecimentos, de nova ciência e tecnologia, ou de novas interpretações de fatos. Essa tese precisa ainda ser submetida a uma banca examinadora e por ela aprovada. Muitas vezes é necessária uma defesa pública, com arguição pelos membros da banca, que devem ser especialistas no assunto da tese. Na defesa, é exigida do candidato ao título de doutor a capacidade de sintetizar suas descobertas em uma apresentação e também detalhar o conhecimento consultado e gerado por meio de respostas às perguntas feitas pelos examinadores. Em Humanidades, é comum que a tese elaborada, defendida e aprovada torne-se um livro sobre aquele assunto. Nas Ciências Exatas, é cada vez mais frequente a elaboração da tese escrita por meio da juntada de artigos científicos em revistas especializadas que foram publicados pelo candidato ao longo do desenvolvimento do doutorado. Além desses pressupostos, há os de caráter acadêmico e formal, como a seleção do aluno para o programa de pós-graduação correspondente de uma instituição devidamente credenciada, o cumprimento de créditos (aulas ou outras atividades executadas), submissão a exames – como as chamadas qualificações – e a existência de um orientador daquele trabalho.
Assim, o cumprimento dos créditos é apenas uma pequena parte dentro desse processo que leva anos de trabalho experimental, de pesquisa e de levantamento de informações. A presença de um aluno de doutorado em sala de aula, portanto, está muito longe de qualificá-lo para o título de doutor. A maioria dos programas de pós-graduação também possui restrições sobre a validade desses créditos cursados, que caducam após algum tempo.
O doutorado é tipicamente a sequência do mestrado, para o qual não é exigido o ineditismo, mas há um bom tempo é permitido a alunos recém-formados na graduação ingressarem diretamente no doutorado, desde que contemplem uma série de pré-requisitos, dentre eles, ter já demonstrado excelência no desenvolvimento de um projeto de pesquisa. O assim chamado doutorado direto é uma forma de acelerar a formação de um pesquisador. Muitas teses também são desenvolvidas em parcerias com empresas ou outras instituições não acadêmicas, conciliando-se os diversos interesses na elaboração de novos conhecimentos.
No âmbito universitário, os colegas doutores raramente usam o título para se dirigirem uns aos outros. Quando muito, somos chamados de professores, refletindo a nobre profissão, desprezada em tempos correntes, é verdade, mas símbolo de resistência à barbárie. O título de doutor é, portanto, a exigência acadêmica para o desenvolvimento de muitas atividades, como a de professor universitário, pesquisador, cientista e gestor de projetos de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico. É também uma medida da especialização e competência profissional, ainda pouco requerida no setor empresarial brasileiro, mas fundamental em outros países.
No entanto, chamar certos profissionais de doutores é algo cultural no Brasil que reflete a falsa necessidade de reforçar a autoridade daquele que detém um conhecimento – por exemplo, médicos e advogados – sobre a maioria da população que não possui tal saber. Historicamente, os primeiros títulos de doutor foram em Teologia e Filosofia, concedidos pelas universidades europeias no século XI, para aqueles que eram considerados aptos a ensinar, após a realização de amplos estudos em suas áreas. No Brasil, a tradição de chamar médicos e advogados de doutores remonta à origem de tais cursos, pois esses profissionais, ao término da graduação, também defendiam uma tese que os qualificava ao título. Mas isso não é mais assim, apesar de mantida a tradição – e arrogância de muitos – na manutenção do inexistente título de doutor a quem apenas conclui a graduação. Também não são doutores os que apenas cursaram disciplinas ou tiveram suas teses reprovadas, fato raro, mas, como viemos a saber, comum nas hostes governamentais.
Conheço poucos advogados e médicos que são doutores, e os muitos doutores que conheço não são chamados pelo título que possuem, mas, sim, por seus nomes.
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