O PT e a extrema direita no Brasil
De acordo com o sociólogo Emir Sader, "se os governos do PT não tivessem conseguido introduzir transformações importantes nas relações de poder e na própria estrutura social do Brasil, a direita não teria tido uma reação tão radical. Não mobilizaria todos os recursos de que dispõe, legais e ilegais, para se enfrentar à possibilidade de retorno do PT ao governo"; Não teriam apelado para a monstruosa campanha da extrema direita, apoiada nas igrejas evangélicas e alimentada por uma gigantesca máquina de fakenews e de robôs, que colocou a candidatura do Haddad na defensiva"; estudioso acrescenta que Lula foi "alijado" da campanha eleitoral de forma "absurda e ilegal"
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Depois de ser dominado pela polarização entre o PSDB e o PT em seis eleições presidenciais seguidas, ao longo de quase um quarto de século, a polarização se desfaz, a partir do golpe contra a Dilma e o governo de Temer. Deu-se, aparentemente, os que pretendem ser terceira via, como a Marina, o Ciro, entre outros.
Mas o resultado não é o que eles pretendiam. O PSDB, tendo questionado a vitória eleitoral da Dilma apoiado o golpe contra ela e participado do governo de Temer, perdeu seu lugar como representante tradicional da direita brasileira, que havia assumido com o governo de FHC. O ex-presidente do partido, Tasso Jereissati, fez a autocrítica por esses erros, incluindo a adesão ao pacote de maldades aprovado no Congresso para ajudar a desestabilizar o governo da Dilma, mas já sem tempo de salvar o seu partido do desastre.
O PSDB cedeu o lugar de representante da direita a uma corrente de extrema direita, o bolsonarismo. Já no primeiro turno pesquisas demonstravam que a grande maioria dos eleitores tucanos em São Paulo, seu estado tradicionalmente mais forte, preferia o Bolsonazi ao Alckmin, isto é, haviam debandado para a extrema direita, abandonando o candidato tradicional do partido, ex-governador do estado, revelando o processo de radicalização das bases do partido havia sofrido.
Um processo similar a esse não ocorreu na esquerda. Apesar dos prognósticos de que o PT sofreria um processo similar, o partido resistiu muito bem, sob a liderança do Lula e continua a ocupar o lugar central no campo da esquerda, na polarização política nacional. Se mantem como o partido de maior bancada na Câmara de Deputados, elegeu ou reelegeu seus governadores do nordeste, região em que o PT, em aliança com outros partidos, elegeu ou vai reeleger a todos os governadores da região. O PR continua liderando a esquerda, em aliança com alguns partidos no primeiro turno, com todos no segundo turno, num bloco que inclui a todos os movimentos sociais.
Não se deu com o PT na esquerda o processo que o PSDB sofreu na direita. O partido que poderia ocupar o lugar do PT, o PSOL, aumentou seu numero de deputados, mas segue sem poder exibir experiencias de sucesso e governos, de cidades ou de estados. Seu candidato a presidente, um quadro de grandes qualidades pessoais e politicas, como o Guilherme Boulos, líder de um movimento social de grande expressão, recebeu apenas 0,5% de votos, o pior desempenho do partido em todas as campanhas presidenciais.
Que relação tem o PT com esse fortalecimento da extrema direita? Esse fenômeno é claramente a reação raivosa das elites brasileiros e de amplos setores das classes medias às imensas conquistas das classes populares durante os governos do PT. Ainda que não se trata de uma revolução, e' o mesmo mecanismo de surgimento de processos contrarrevolucionários como reação aos processos revolucionários.
Se os governos do PT não tivessem conseguido introduzir transformações importantes nas relações de poder e na própria estrutura social do Brasil, a direita não teria tido uma reação tão radical. Não mobilizaria todos os recursos de que dispõe, legais e ilegais, para se enfrentar à possibilidade de retorno do PT ao governo. A forma como tantos setores das elites fecham os olhos para declarações brutais do candidato, assim como a posições absurdas, para se apegar a ele como única possibilidades de evitar o retorno do PT, confirma como este é o inimigo fundamental da direita e das elites brasileiras.
Não teriam apelado para a monstruosa campanha da extrema direita, apoiada nas igrejas evangélicas e alimentada por uma gigantesca máquina de fakenews e de robôs, que colocou a candidatura do Haddad na defensiva, tendo que defender-se o tempo todo das estapafúrdias acusações, difundidas de forma generalizada na sociedade. A campanha passou a ser pautada pela extrema direita, com seus temas, mentiras e ameaças.
Mesmo com toda essa monstruosa campanha, pesquisa interna feita agora no segundo turno confirma que o Lula ganharia do Bolsonazi sem problema, caso não tivesse sido, de maneira absurda e ilegal, alijado da campanha eleitoral, revelando como a sua liderança sobrevive a tudo isso.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247