O PT, a paz e a guerra

"10 entre 10 figuras do PT, depois de 2016, apontaram como erro não ter apostado na mobilização popular. Esse erro não estaria sendo repetido?", pergunta Bepe

(Foto: Ricardo Stuckert)


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O Partido dos Trabalhadores concentra sobre seus ombros grande parte do peso da responsabilidade de governar o país e melhorar a vida do povo.

Após esta obviedade estelar, vamos direto ao ponto deste artigo: não estaria o maior partido de esquerda do hemisfério sul incorrendo outra vez no erro de canalizar todas suas energias políticas apenas para as questões relacionadas ao governo?

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A direção do PT, por acaso, discute uma estratégia para o caso da burguesia, mais uma vez, partir para a ruptura da ordem democrática?

Um partido comprometido com a soberania popular e nacional, como o PT, não tem que estar preparado para todos os cenários?

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Quais são as ações planejadas pelo partido para a disputa política, cultural e ideológica na sociedade visando o derrota do fascismo, cujos valores estão hoje impregnados na população?

Ressalva importante: não creio que o alarmismo sobre a iminência de golpes seja um bom caminho. Durante o governo Bolsonaro, alguns analistas respeitáveis do campo progressista previam golpe de estado praticamente todas as semanas. Isso não ajuda.

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Mas não custa lembrar que dez entre dez dirigentes, parlamentares e outras figuras públicas do PT, depois do golpe de estado de 2016, apontaram como grave erro estratégico não ter apostado na organização e mobilização popular como antídoto para a ruptura da ordem constitucional por parte das elites.

Esse erro não estaria sendo repetido ? Afinal, quem, em sã consciência, pode apostar todas as fichas no compromisso democrático da Faria Lima, dos grupos de mídia, das forças armadas e nas polícias?

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Sem falar na expressiva base social e política da extrema-direita sempre à espreita.

Decididamente não me incluo entre aqueles que adotam a posição romântica de que basta uma decisão política para, como num passe de mágica, organizar o povo e mobilizá-lo.

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Ao contrário, a receita que servia, por exemplo, na resistência à ditadura e nos primeiros anos da redemocratização está obsoleta. O mundo do trabalho mudou, as demandas dos bairros periféricos são outras, a expectativa das pessoas é diferente e os políticos e a política são vistos com ceticismo por expressivas parcelas do povo. Não há, portanto, fórmula pronta e o desafio é enorme. 

Todavia, se o debate sobre um tema tão complexo não for pautado, aí mesmo é que o horizonte permanecerá turvo e nenhum passo será dado em direção à retomada do enraizamento popular por parte das forças  da esquerda.

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Vale lembrar que a resistência ao golpe de 2016 se limitou à vanguarda social e política, ficando bem aquém do poder de fogo necessário para fazer frente à avalanche parlamentar-judicial e midiática que desabou sobre a democracia brasileira.

Marx alertava que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.

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Claro que a prioridade absoluta deve ser reconstruir o Brasil, retirando-o dos escombros da devastação fascista o mais rápido possível e dentro da normalidade democrática. O problema é que não se vê no PT nenhuma outra preocupação que não seja a de governar.

É evidente que é essencial a consolidação e ampliação da frente ampla formada em torno de Lula, para garantir a governabilidade. Mas partido é partido, governo é governo.

É só um apelo à reflexão.

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