O problema não é a Copa, somos nós

Antigamente éramos contagiados pelo clima da Copa. São tantos os escândalos públicos, oficiais, corporativos que se esses sujeitos não entrarem de férias não haverá Copa. Só caos



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O Brasil vem se tornando o país dos escândalos. Ou meramente confirmando essa regra. Com a imprensa livre da censura ‘por ordem superior’, como se dava no tempo da ditadura, a coisa ficou mais transparente, sabida. Ou menos escondida.

Roubalheira generalizada no setor público, há décadas, em absolutamente todas as áreas e níveis (alguém conhece um único setor oficial sem ‘safadeza’?). Os vencimentos e benefícios de ‘autoridades’ que deveriam ‘fiscalizar’ qualquer coisa são estratosféricos. A bobajada do teto constitucional é uma piada. É um mar de cínicos austeros, exigindo tratamentos balofos e cafonas que mais lembram o Império e sua imundice e atraso.

Saiu no aplicativo do Estadão, 21.5.14, que o ex-menino pobre Joaquim Barbosa quer aumentar os salários dos juízes para 35, 40 mil. Isso o oficial. É ou não é uma festa? Ah, mas espera, não é ‘aumento’. Pois é, o nome é sempre maquiado, disfarçado. Mentido. Só o resultado é verdadeiro. E a sociedade otária, paga.

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No chamado mundo corporativo só se vê empresário especializado em ludibriar o consumidor, como nunca se viu na história do país. São aparelhos e utensílios cuidadosamente imaginados e criados para quebrar; exatamente isto. É o que se poderia chamar de ‘desresistência’ na disciplina Ciência dos Materiais, em engenharia. A dobradiça não é mais feita para aturar mil aberturas sem quebrar, mas somente trinta. Aí quebra, e a ‘moda’ é não mais se consertar. Ah não! Não há mais mecânicos e habilidosos, detalhistas e pacientes pesquisadores de defeitos. Agora tudo se descarta de uma única forma: troca. Parece um país de milionários.

Os serviços de atendimento ao consumidor, por telefone, existem e são exibidos em todas as embalagens e anúncios como um troféu da transparência comercial e do comprometimento empresarial. Só rindo. Todo mundo já percebeu que os atendentes são treinados para não resolver. É o inverso: se resolverem, podem ser demitidos. A mentira corporativa da ‘fidelização’ é o novo nome comercial da enrolação.

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Leites continuam sendo falsificados com o que se puder misturar neles, afinal o controle é sempre por amostragem. Frutas passaram a ser amadurecidas quimicamente para que os supermercados não percam dinheiro. Não há a quem reclamar, verdadeiramente.

Mas não se iluda, o jornalismo e a imprensa também se drogaram espetacularmente com o lucro do sensacionalismo. Perceberam que seus consumidores se nutrem avidamente de 5 conceitos: medo, escândalo, caos, pânico e terror. Esses conceitos passaram a ocupar as manchetes e as entrevistas. O lucro ficou muito mais fácil pela via do sensacionalismo. Já os leitores crédulos continuam na crença da ‘isenção ideológica’ dos jornalões-papel e da ‘verdade nua e crua’ dos especiais televisivos com seus apresentadores misturando firulas teatrais de como sentar e, de novo, sensacionalismo cênico de como passar a notícia.

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Os banheiros dos aeroportos continuadamente imundos e fétidos. Os dispositivos modernosos, eletrotécnicos, digitocomputadorizados de descarga, que as empresas juram que economizam água, aqueles que você não precisa encostar em nada e ‘ajudam a natureza’ – que lindo-, continuam chinfrins, enguiçados e porcos. Temperamentais, só funcionam quando querem. Devem variar com o que veem diante de si. Xixi, ou qualquer outra coisa grande, assustam e não funcionam. O aeroporto de Congonhas, SP, é um ótimo exemplo da imundície. São funcionários se esbarrando, e tudo sujo. Neste mesmo 21.5.14, por exemplo, era um caos.

O que permeia tudo isso? A falta de verdadeira indignação ética? Aquela cultural, gestada lentamente por um povo honesto, sensato, acostumado a não pegar o que não é dele, o contrário de o que se viu nos últimos dias em que hordas de um povo vagabundo mostrou a sua cara: ladrão. Foram geladeiras e fogões levados, apenas porque a polícia avisou que não estaria. É o oba-oba arrombado. Será com este exemplo estético que a Copa virá. Mas Copa? Ela não tem culpa de nada.

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Na atual sociedade do pequeno-consumo as classes menos favorecidas aprenderam a ‘reclamar’. Aí reclamam de tudo. Mas esta ponta do iceberg moral – a reclamação-, se vê praticamente avulsa e descolada de uma atitude pessoal densa, séria e educada. É uma reclamação-espuma. Um muxoxo.

O país precisava de uma reclamação contextualizada. Uma que fosse a resposta moral de um povo minimamente educado e que efetivamente pode se indignar com a safadeza pública. Mas como desatar esse nó górdio quando esse mesmo povo, quando pode, foge com geladeiras nas costas?

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Um dos sentimentos da Copa atual é o marasmo social. Lembro-me, criança, da Copa de 70. A impressão é que o país se enfeitou. É claro que o recorte histórico era, ali, da pujança mentirosa do Brasil grande, o milagre econômico dos ditadores. Mas houve uma inocência social que se perdeu. Não é a baboseira de saudosismo e dizer que antigamente era melhor. Era nada. Era muito ruim. Mas se havia uma ditadura militar, agora a ditadura é do quinto poder: a da publicidade. Grana e você que se lixe, torcendo e fingindo sua alegria.

George Orwell disse que o otimista é um pessimista bem informado. Já o filósofo afirmou que na próxima encarnação queria voltar ignorante, para viver rindo e ‘feliz’. Antigamente éramos contagiados pelo clima da Copa. São tantos os escândalos públicos, oficiais, corporativos que se esses sujeitos não entrarem de férias não haverá Copa. Só caos.

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