O Primeiro Cabra
"O roteiro original de 1964 de Cabra Marcado para Morrer chega em ebook gratuito acrescido de minha análise do projeto e do seu uso no documentário de 1984"
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Todo mundo sabe que o projeto de Cabra Marcado para Morrer nasceu há exatos 60 anos, quando Eduardo Coutinho conheceu Elizabeth Teixeira, viúva recente, em comício na Paraíba. Dois anos depois, em 1964, ele e ela começavam a filmar uma reconstituição ficcional da história do líder camponês João Pedro Teixeira, trabalho interrompido pelo golpe civil-militar. Quando o retomou 17 anos depois, Coutinho partiu do material filmado em 64 para recuperar a história do filme, da família de Elizabeth e do país.
O Cabra virou o clássico que é, mas pouca gente conhece os detalhes do que o diretor pretendia com seu projeto inicial. Quando pesquisava no acervo do Instituto Moreira Salles para a Ocupação Eduardo Coutinho, em 2019, eis que me deparo com a íntegra do roteiro original: 35 páginas datilografadas, 423 cenas numeradas, contando a história da ascensão de João Pedro na liderança da Liga Camponesa de Sapé, seu trabalho na organização dos lavradores, as pressões do latifúndio sobre os trabalhadores, o assassinato de outro líder antecipando a do próprio João Pedro, a sua prisão e por fim o atentado que o abateu à beira de uma estrada. O roteiro "de ferro" continha diálogos, comentários de um cantador, indicações cenográficas e anotações manuscritas de Coutinho à margem das páginas.
Uma brochura com o roteiro podia ser manuseada pelo público na Ocupação do Itaú Cultural, em São Paulo, em 2019, mas não na reedição do IMS, em 2020, quando a pandemia desaconselhava a manipulação pública do material. No ano passado, sugeri ao instituto que o publicasse como uma forma de fechar o círculo do conhecimento a respeito da saga Cabra Marcado para Morrer.
O resultado está disponível a partir de hoje no site do IMS, junto com uma "página de autor" dedicada a Coutinho. Para a publicação do livro digital O Primeiro Cabra preparei um pequeno estudo do projeto original, desde a chegada de Coutinho à Paraíba com a UNE Volante, 60 anos atrás. No ensaio que acompanha o roteiro, eu analiso as pesquisas que lhe deram origem, as ações previstas para serem filmadas, o modelo narrativo e as opções estilísticas de Coutinho, bem como o uso que se fez do material captado na edição final levada a cabo por Eduardo Escorel entre 1981 e 1983.
O cotejo entre as intenções desse roteiro de 1964 e o resultado do documentário de 1984 nos permite avaliar muitas coisas a respeito de Coutinho e do cinema brasileiro. Se o Cabra/64 era fruto da vontade de um grupo (o CPC da UNE) de expressar a vivência popular, o Cabra/84 era o desejo de um documentarista de se abrir para essa vivência propriamente dita.
Acessem o ebook aqui e a "página de autor" do Coutinho aqui.
O lançamento do ebook é acompanhado de algumas exibições de Cabra Marcado para Morrer e dois documentários correlatos nas salas de cinema do Instituto Moreira Salles do Rio e São Paulo, conforme programação a seguir:
IMS Rio
6/10, quinta, 18h: Cabra marcado para morrer8/10, sábado, 15h45: Cabra marcado para morrer8/10, sábado, 18h: A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia
IMS Paulista
6/10, quinta, 20h: Cabra marcado para morrer8/10, sábado, 16h: Cabra marcado para morrer9/10, domingo, 16h: A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia14/10, sexta, 22h: Cabra marcado para morrer
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