O prazo de validade de Henrique Meirelles

"Em condições normais de temperatura e pressão, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já estaria sob intenso bombardeio de entidades empresariais, de lideranças políticas e de colegas palacianos, que pediriam sua cabeça. O motivo: em quase cinco meses de gestão, a situação fiscal se agravou, o desemprego subiu, a produção não reagiu, a arrecadação tributária continua em queda livre e nem mesmo a inflação cedeu", diz Leonardo Attuch, editor do 247; segundo ele, Meirelles, que pretendia repetir FHC e ser presidente da República após assumir a Fazenda de um governo fruto de impeachment, terá que lutar para sobreviver aos próprios resultados

Brasília - DF, 22/06/2016. Presidente em Exercício Michel Temer durante reunião com ministros do Núcleo Econômico. Foto: Beto Barata/PR
Brasília - DF, 22/06/2016. Presidente em Exercício Michel Temer durante reunião com ministros do Núcleo Econômico. Foto: Beto Barata/PR (Foto: Leonardo Attuch)


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Em condições normais de temperatura e pressão, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já estaria sob intenso bombardeio de entidades empresariais, de lideranças políticas e de colegas palacianos, que pediriam sua cabeça. O motivo: em quase cinco meses de gestão, a situação fiscal se agravou, o desemprego subiu, a produção não reagiu, a arrecadação tributária continua em queda livre e nem mesmo a inflação cedeu, como comprova o IGP-M acumulado em 10,66% nos últimos doze meses. Ou seja: praticamente, não há resultados positivos na gestão Meirelles.

Um dos fatores que garante uma tolerância maior ao ministro é o discurso de que o atual governo recebeu uma “herança maldita” na economia, com esqueletos que ainda estariam surgindo em várias frentes. Outro é ampla coalizão empresarial que deu suporte à mudança política ocorrida no Brasil e que, de certa forma, se associou a esse processo. Criticar Meirelles, portanto, seria admitir o próprio erro de avaliação. Portanto, ainda que praticamente todos empresários estejam perdendo muito dinheiro, o que predomina é o silêncio.

Essa paciência, no entanto, tem prazo de validade. Ela é proporcional ao tempo em que ainda será possível vender ao público a tese da herança maldita. Com cinco meses de gestão, há quem ainda tolere esse tipo de desculpa. Mas se os resultados não surgirem rapidamente, Meirelles será confrontado pelos próprios números da sua passagem pela Fazenda. Em agosto, a arrecadação caiu mais de 10%. No mesmo mês, o rombo fiscal foi de R$ 20,3 bilhões. A produção da indústria de máquinas e equipamentos afundou 17%, o que comprova que os investimentos ainda não voltaram – o que é óbvio numa indústria que opera com altíssima ociosidade.

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O mais grave é que não há nenhum sinal no horizonte de medidas capazes de provocar alguma reação na demanda. O mercado interno agoniza com a queda do emprego e da renda dos trabalhadores. Lá fora, a Organização Mundial do Comércio reduziu a quase zero suas previsões de expansão das trocas internacionais – e, ainda que houvesse crescimento potencial das exportações, a valorização cambial tornou as empresas brasileiras menos competitivas.

A Meirelles, restou apenas a expectativa de que o congelamento dos gastos públicos, que será votado nos próximos dias, sinalize uma maior confiança dos agentes econômicos no País, mas essa proposta chega num momento em que o próprio Fundo Monetário Internacional revê o dogma da austeridade e pede que países ricos gastem mais para estimular suas economias.

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O ministro imaginava que poderia repetir, com Temer, a história do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi ministro da Fazenda de Itamar Franco e, com o Plano Real, foi catapultado ao Palácio do Planalto. No entanto, o próprio FHC já deixou claro que o “plano Meirelles” não trará qualquer bônus eleitoral, uma vez que só promete sangue, suor e lágrimas.

Mais do que renunciar a qualquer ambição presidencial,  Meirelles terá que lutar, a partir de agora, para sobreviver aos próprios resultados.

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