O positivismo temerário
A mensagem que hoje emana do poder central em nosso país é claramente positivista. Não só o lema, extraído da bandeira nacional e resumo da divisa de Augusto Comte, mas principalmente as ações que tentam freneticamente implementar evidenciam a orientação filosófica da turma de Temer
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A mensagem que hoje emana do poder central em nosso país é claramente positivista. Não só o lema, extraído da bandeira nacional e resumo da divisa de Augusto Comte – "o amor como princípio, a ordem como base e o progresso como meta", mas principalmente as ações que tentam freneticamente implementar evidenciam a orientação filosófica da turma do Temer.
Para os positivistas o progresso passaria pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia sob o controle das elites. Confundem ciência com cientificismo e camuflam a problemática da constituição do mundo, substituindo a teoria do conhecimento pela teoria científica e reduzem o ser humano ao "homo economicus".
Os sinais da aderência acrítica ao positivismo são claros, por exemplo, na proposta de reforma do ensino médio. Pretendem eliminar disciplinas que estimulam o desenvolvimento do espírito crítico, como a Filosofia e a Sociologia e, em paralelo, querem dar ênfase naquelas que são de fato importantes para o embasamento científico e tecnológico, mas que orientam a educação apenas para formação da mão de obra e não para a cidadania.
As decisões em relação ao mundo do trabalho, da saúde, da comunicação social (quebrando a comunicação estatal), a privatização de estatais estratégicas e a despudorada delimitação de garantias e direitos individuais também estão na mesma linha. Há uma perigosa tendência para encarar a vida só pelo lado prático, útil e coerente com uma determinada ordem.
A ordem que querem implantar guarda aderência com uma visão limitada e arrogante, que pode ser sintetizada na expressão da língua latina – "ordo ipse est quiddam divinum" (a ordem é em si algo divino) e resulta na estratificação da sociedade em classes, e que popularmente se resume na frase "manda quem pode, obedece quem tem juízo".
O progresso que vislumbram os "neopositivistas" tupiniquins tem a ver apenas com o desenvolvimento econômico, sem levar em conta as demais dimensões da vida e dentro de uma lógica que compreendem como sendo a única. Exatamente aquilo que Celso Furtado denunciava como um mito.
Para responder à questão fiscal propõe a desvinculação dos recursos para o financiamento da saúde e da educação e a desindexação dos benefícios e do salário mínimo. Além disso, voltam à questão do estabelecimento de critério desumano de idade para a aposentadoria dos trabalhadores.
É impressionante que, em meio a uma crise tão séria, os partidos não comprometidos com a maioria da população brasileira procuram apagar tudo aquilo que significou inequívoco avanço para uma sociedade mais justa e equilibrada.
E ironicamente chamam esse plano de "Ponte Para o Futuro".
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