O poder bélico do bolsonarismo

"A penetração do Bolsonaro nas Forças Armadas é produto do trabalho de politização e ideologização das tropas durante décadas; realidade que expõe o comando do Exército ao risco de insubordinações", escreve o colunista Jeferson Miola

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)


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O poder político do Bolsonaro se origina em estruturas armadas e violentas. E se vincula ao fanatismo/charlatanismo religioso. O poder da facção extremista é resultado de um amálgama que condensa uma base religiosa, miliciana e militar assim representada:

  1. praças e a imensa maioria de subalternos e oficiais intermediários das Forças Armadas, além de inúmeros comandantes [incluindo da reserva] das 3 Armas, mas em especial do Exército;
  2. polícias militares estaduais, altamente bolsonarizadas. Em muitos Estados, encontram-se PMs radicalizadas, fora de controle, obedientes a lideranças bolsonaristas e insubordinadas ao comando de governadores [Ceará, SP, RJ, BA …];
  3. milícias e grupos paramilitares abastecidos com armamentos e munições contrabandeadas e/ou roubadas de quartéis do Exército e das polícias militares estaduais;
  4. segmentos evangélicos midiatizados e dominados por charlatães que pregam crenças reacionárias e odiosas e estimulam o conflito social; e
  5. milícias cibernéticas propagadoras de mentiras, ódio, injúrias, racismo e supremacismo branco, que têm interface com o mundo militar/guerra híbrida.

A penetração do Bolsonaro nas Forças Armadas é produto do trabalho de politização e ideologização das tropas durante décadas; realidade que expõe o comando do Exército ao risco de insubordinações.

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No último período, Bolsonaro promoveu mudanças normativas que contrariam o estatuto do desarmamento e a legislação e que favorecem o armamento das milícias e da criminalidade.

Por ordem direta dele, o Comando Logístico do Exército revogou portarias de monitoramento e rastreabilidade de armas e munições. Com isso, o Exército perdeu capacidade de rastrear armas e munições contrabandeadas e/ou roubadas de quartéis do Exército e das PMs.

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Reportagem do Estadão [10/5] concluiu que “o desvio de armas e munições dos quartéis das polícias e do Exército para facções criminosas, clubes de tiro e milícias virou rotina”.

O jornal alerta que este “mercado ilegal de armamento vem se sofisticando cada vez mais”. Um mercado que abarca “de granadas de luz e som da Presidência, como as utilizadas para dispersar multidões, a fuzis da Polícia Federal”.

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Este armamento é receptado por bandos de assaltantes de bancos, milícias, organizações criminosas, narcotraficantes. Ou seja, abastece as estruturas de poder do bolsonarismo.

Na grotesca reunião ministerial de 22/4, que entrou para a história como uma assembléia da sociedade do crime no Palácio do Planalto, Bolsonaro foi taxativo: “Eu quero todo mundo armado!”. Em 2 de junho, Bolsonaro anunciou que planeja liberar irrestritamente o uso de armas no Brasil!

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Num dos seus últimos atos como integrante da “sociedade do crime”, Moro assinou portaria [23/4] que triplica a quantidade de munições que brasileiros podem comprar. Com a portaria, cerca de 218 milhões de projéteis poderão ser comercializados por ano no país – o suficiente para alvejar, com razoável folga, cada brasileiro com um tiro!

O presidente da Taurus reconheceu [31/3] que “o país está se transformando num balcão de negócios de armas. As empresas que vierem para cá vão apenas importar ou montar aqui. Hoje, compensa mais importar da nossa fábrica na Geórgia do que produzir aqui”.

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Bolsonaro, sintomaticamente, prometeu em entrevista na CNN [5/6] “que brevemente nós vamos poder importar armas a uso individual sem imposto de importação”. A justificativa dele para esta decisão é assombrosa: o fim dos impostos de importação é “uma boa medida que vai ajudar todo o pessoal do artigo 142 e 144 da nossa Constituição”, ele disse.

O candidato a Hitler brasileiro adota uma série de medidas de estímulo ao armamento, inclusive de armas pesadas e, ao mesmo tempo, desregulamenta e elimina os controles sobre o comércio, a posse, o uso e circulação de armas e munições.

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Tal como na Alemanha dos anos 1930 e na Itália dos anos 1920, aqui as milícias também desempenham papel essencial na estrutura de poder da extrema-direita bolsonarista. Por isso Bolsonaro acelera e amplia o poder militar da sua facção.

O poder político do Bolsonaro advém desta combinação perigosa: subalternidade e oficialato intermediário das Forças Armadas + polícias estaduais + milícias paramilitares + segmentos evangélicos bolsonarizados + milícias cibernéticas. Para lembrar: o artigo 144 da CF diz que as polícias militares são forças auxiliares e de reserva do Exército.

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É com esta fonte de poder que Bolsonaro gera temor e se impõe na vida institucional do país em condições de afrontar os demais Poderes e de ser acatado como Comandante Supremo das FFAA.

Bolsonaro radicaliza o confronto para criar um ambiente de caos e de violência aberta e mortal aos opositores do fascismo.

Bolsonaro representa o estágio nunca antes visto de militarização e de para-militarização da política no Brasil. Com o agravante de que a guerra civil para liquidar os opositores ao fascismo frequenta o imaginário lunático do bolsonarismo.

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