O PIB, as famílias endividadas e o futuro

Ora, para que o Brasil crescesse 2,5%, seria preciso que o governo agisse para tanto. E tudo o que vimos foi um governo confuso

(Foto: Sergio Moraes - Reuters)


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Sou vigilante de profissão. E, como fui fundador do primeiro sindicato de vigilantes do Brasil, tenho a obrigação de estar sempre vigiando aqueles que querem prejudicar os valores mais importantes da minha vida: a família, a dignidade da classe trabalhadora e a soberania do nosso Brasil. Não, não uso a palavra Brasil demagogicamente. Sei de sua relevância e de seus limites. O Brasil não pode estar acima de tudo. Pois se as famílias e a dignidade dos trabalhadores não estiverem no alto de nossos objetivos, o Brasil será apenas um território e não uma grande Nação.

Pois bem, quero falar do PIB de 2019, divulgado hoje pelo IBGE. No começo do ano passado, eu avisei que o otimismo dos analistas (ou seriam lobistas?) econômicos, que escrevem e falam na mídia, estava fora de prumo. Ora, para que o Brasil crescesse 2,5%, seria preciso que o governo agisse para tanto. E tudo o que vimos foi um governo confuso, hostil aos trabalhadores, propondo reformas que reduzem o poder de compra dos brasileiros assalariados, com mudanças trabalhistas (carteira verde-amarela) e previdenciárias (reforma da previdência) que prejudicam o mercado interno.

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Mas os “analistas” seguiram tentando fazer com que suas palavras virassem realidade, por mágica. Quando o governo do Capitão Capiroto, pelo seu ministro Guedes, especulador do mercado financeiro, viu a vaquinha indo para o brejo, ainda tentou salvar o gado, liberando o FGTS e o PASEP, para colocar um dinheirinho no comércio. Serviu para reduzir o vexame. E só. O IBGE anuncia que o Brasil cresceu 1,1%, apenas. Mas isso é estatística, e pode enganar os observadores se não for confrontada com a vida real do povo.

Pois bem, o desemprego continua atingindo quase 30 milhões de brasileiros. Não são os cerca de 12 milhões que aparecem nas pesquisas, formalmente desempregados. Em épocas de desemprego alto, por muito tempo, a pesquisa costuma enganar, não por maldade, mas por desalinhar-se da realidade. O que aparece na pesquisa é: quem procurou trabalho (e não apenas emprego) nos últimos 30 dias.

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Ou seja, quem trabalhou, mesmo que seja em um “bico” de poucos dias, e mesmo não tendo conseguido nem um salário mínimo no mês, é considerado ocupado. O IBGE, um instituto sério e competente, faz a distinção: trata-se de um subutilizado, ou seja, poderia e gostaria de trabalhar mais, mas não conseguiu. E ainda temos os desalentados, que desistiram de procurar emprego. Esse povo todo está passando muita dificuldade e mal compra um pouco pra se alimentar.

Aí, vem a notícia que aponta mais dificuldade para o futuro, 2020 e anos vindouros: o total de famílias endividadas em fevereiro de 2020 aumentou em relação a fevereiro de 2019, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC. A pesquisa considera como dívidas cheques pré-datados, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.

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As famílias com dívidas ou contas em atraso eram 23,8% em janeiro e 24,1% em fevereiro. A inadimplência também está maior que em fevereiro de 2019, quando foi de 23,1%. O porcentual de famílias que dizem não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso aumentou de 9,6% em janeiro para 9,7% em fevereiro. Em fevereiro de 2019, eram 9,2%.

Ou seja, está confirmando minha previsão, infelizmente.

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Famílias mais endividadas, pagando mais impostos, com menos esperança de empregos com carteira e direitos, e um governo que parece ter ódio de pobres e trabalhadores em geral. E o governo vendendo empresas sem que um centavo dessas vendas beneficie o povo brasileiro.

É como uma família vender o fogão para comprar comida e constatar que não tem como cozinhar a comida comprada.

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E as mudanças na previdência, aprovadas em 2019, fazem com que cada aposentado ou pensionista perca renda na hora de receber o direito pelo qual pagou por décadas.

Por isso, sigo vigilante. Não basta a vigília. É preciso alertar do perigo e combatê-lo. E eu aviso: esse é o segundo ano desse governo grosseiro, antidemocrático e arrogante. E não podemos permitir que o presidente, com o auxílio do Congresso Nacional, destrua as famílias, a dignidade da classe trabalhadora e a soberania do nosso Brasil. 

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Vamos à luta. A hora é esta e amanhã pode haver pouco a defender.

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