O petê e o sinal de Jonas
Os papaku também desconheciam a palavra natureza, essa que é feita de árvores, águas e animais; para os papaku, eles, as árvores e os animais não podiam existir de forma dissociada, "não pode existir a natureza e a gente, isso é bobagem", desconversava o grande cacique de bunda nua
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Nu como vimos ao mundo e aglomerados em uma praia deserta, estávamos nós três, ascetas em isolamento social voluntário desde sempre: eu, o venerando mestre cafuna e o sapientíssimo cacique papaku, último espécime de sua etnia.
A lua já ia alta e uma deliciante e escamosa carapeba crepitava na fogueira de gravetos e gravanhas - este último vocábulo é um significante sem significado, criado por manoel de barros, cuja única utilidade é servir como material para poesia.
Fumavamos, esses três reis magros, o cachimbo do velho cacique e jogávamos conversa fora, maiêuticamente.
Areia morna por baixo, céu estrelado por cima e a bruma leve levitando no meio.
Falamos sobre deus e o diabo, sobre o cristo loiro de roliúde, o colorismo do movimento negro, o feminismo branco, o vitiligo de maicou djéquisson e sobre a grande buceta que se abriu como arte no solo pernambucano.
“Brennand, lembrou mestre cafuna, erigiu diversos falos firmes por hellcife; no marco zero, ele colocou um pirocão de 32 metros de altura a causar calafrios nos transcendentes transeuntes que já não transam a algum tempo; mas a xoxota que brota na terra, aquela vulva seca que se liquefaz em chuvas hídricas, como a fenda funda e fértil de gaia, causou alvoroço no patriarcado e nas mães e futuras mães dos patriarcaloides” protestou o mestre, cafunescamente.
Lembrei aos amigos que ao redor do mundo abundam fálicas esculturas e obeliscos, estátuas de homens com suas piroquinhas nuas estão por toda a europa; nos jardins, as senhorinhas deixam-se fotografar, sentadas ao chafariz, tendo ao fundo a escultura de um garotinho nu, a mijar em jacto na fonte.
Nos natais, todo presépio tem aquela presepada do menino-deus com a vareta de fora; o problema, segui meu raciocínio, é que a vulva de gaia estava fora de um contexto erótico ou pornográfico, e fora deste contexto, a buceta é uma boca silenciada; nela só se fala ao ginecologista.
A putificação das mulheres e a pornificação da vida, nessa armadilha que é o pornôcapitalismo, faz com que as mulheres tenham duas bucetas: uma, que é estimulada a ser mostrada ao mundo, como mercadoria; e a outra, silente, que recebe o nome de vagina.
Resulta, paradoxalmente, como excesso de exposição e ocultamento; francsico brennand disse certa vez que "a gente não sabe nada sobre o ciclo menstrual e das marés", acrescentando que a sociedade não apenas desconhece a sexualidade como a banaliza. esse é o mal estar, essa é a infelicidade da caretice castrada pelas carolas e pelos canalhas.
Papaku lembra que sua tribo era feliz porque não conhecia a palavra felicidade, e muito menos o seu antônimo; por isso, não viviam freudianamente em busca de uma e em fuga da outra.
Os papaku também desconheciam a palavra natureza, essa que é feita de árvores, águas e animais; para os papaku, eles, as árvores e os animais não podiam existir de forma dissociada, "não pode existir a natureza e a gente, isso é bobagem", desconversava o grande cacique de bunda nua.
Pergunto ao nobre cacique sem tribo, que estava vestido apenas com uma minúscula tanga de penachos, o que ele achava dessa aliança das esquerdas em apoio à baleia rossi.
Papaku gosta de exemplos bíblicos. como aquele hurão, do voltaire, tentaram catequizá-lo, mas ele acabou por mostrar que são hipócritas as pessoas que usam um livro de lendas e fábulas para enganar o povo, prescrevendo-o como se da verdade falasse.
Mas costuma dizer que gosta do livro e o lê sempre.
Papaku se esquivou em falar das esquerdas, optou por lembrar apenas do partido dos trabalhadores sem trabalho.
Segue o fio do nosso sábio de penachos:
“Qual jonas, o petê lançou-se de cabeça no lamoso mar em tormenta, oferecendo-se em oferenda e deixando-se engolir, tragado como fumo, pelo cetáceo emedebista.
“Passará três dias no ventre de baleia (rossi).
“Depois disso, será regurgitado em uma ilha ignota.
“Terá o petê, como o jonas da fábula, aprendido a lição?
“Sairá o petê, uma vez ressurrecto, às ruas e vielas de nínive, a farejar o cheiro do povo e pregar a boa nova, como bem cobrou certa vez um certo mano brown?”
Ninguém disse mais nada e mais nada lhe foi perguntado.
A carapeba já estava no ponto.
Palavra da salvação.
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