O pastor que não ressuscitou e a fé idiotizada numa ópera neopentecostal bufa
O caso de um pastor da cidade de Goiatuba evidencia o quão dificultoso é dialogar, política e racionalmente, com os neopentecostais evangélicos
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Há um debate em torno de uma suposta arrogância por parte da esquerda, por ela não dialogar com os evangélicos brasileiros e ainda considerá-los “ignorantes”. Obviamente, provocar essa reflexão é tão válido quanto tentar entender a fé idiotizada de boa parte do rebanho de ovelhas neopentecostais, que se submetem à vara santa e ao cabresto ungido de pastores que, quando não são reconhecidamente charlatães e exímios picaretas, são lunáticos, esquizofrênicos e viajantes na maionese ungida.
O caso de um pastor da cidade de Goiatuba, município de Goiás, que morreu, mas havia pedido ainda em vida que não fosse enterrado, pois ressuscitaria no terceiro dia após a sua morte, como Deus lhe havia prometido, evidencia o quão dificultoso é dialogar, política e racionalmente, com os neopentecostais evangélicos. Mais absurda do que a profecia do líder religioso, foi a presença de dezenas de fiéis em seu velório tentando impedir o sepultamento e pedindo para que o caixão fosse aberto, na fé de que a tal “promessa de Deus” se cumprisse. As vezes penso que estamos vivendo um apocalipse a conta gotas, retratado através de uma ópera neopentec ostal bufa.
Foi esse tipo de cristão neopentecostal que acreditou na possibilidade de ressurreição do pastor, que votou em Bolsonaro dizendo que ele era um novo messias. Um homem enviado por Deus para defender a família tradicional brasileira, acabar com a corrupção e resgatar os valores morais da sociedade. O puro suco da ignorância religiosa e da fé idiotizada sob as pregações de falsos profetas, aproveitadores da inocência e da estupidez humana. Rumo a um abismo profético e existencial, esses fiéis seguem dando glórias aos lobos vorazes que vestidos em pele de cordeiro os convencem de que eles estão a caminho do céu.
Se os roteiristas da facada em Bolsonaro tivessem tido mais um pouquinho de criatividade, teriam planejado a sua ressurreição três dias após o suposto atentado, após uma “oração de poder” feita por algum dos líderes neopentecostais que o bajulam. O problema seria definir quem seria o “ungido” responsável por ressuscitar o mito. Malafaia? Edir Macedo? Marco Feliciano? R.R. Soares? Qualquer um dos escolhidos representaria fielmente a manifestação da vigarice e da picaretagem que permeia e pontua a “unção” e a ação desses seres nefastos e oportunistas que oferecem aos mais incautos um deus dinheirista, violento, desonesto, prec onceituoso e fanfarrão.
A lavagem cerebral e a alienação promovida por tais líderes, são responsáveis por tornar milagre, aquilo que é apenas tosco e trash. Se Deus castigasse mesmo as pessoas que brincam com o seu nome, não haveria mais neopentecostais evangélicos na face da terra. Mas há quem jure que ele se ira mesmo é com esquetes de grupos de humor e com enredos de escolas de samba. Ele teria mandado até a Covid 19 para punir a humanidade, depois de ter sido exposto no desfile da Mangueira em 2019. Apoiar a um genocida, miliciano, corrupto e coautor de mais de 600 mil mortes no país, tudo bem. É a sua vontade.
É triste constatar que o medievalismo da religiosidade cristã foi reinventado e Deus foi novamente sequestrado por um grupo de fundamentalistas sem fundamento e sem racionalidade. Me desculpem a sinceridade, mas se a esquerda quiser mesmo dialogar com essas pessoas falando uma linguagem que elas entendam, terá que prometer a indicação de Jesus Cristo para uma vaga no STF no próximo governo Lula e instituir o antigo testamento como a nova constituição da república. E se Jesus Cristo não corresponder às expectativas, “a gente tira” e pede intervenção alienígena e a volta da ditadura dos dinossauros.
Que Deus ressuscite o cérebro dessa gente.
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