O paraíso é aqui
Guedes cambaleou, ficou por um fio, perdeu três ou quatro assessores que dele discordaram, mas não por causa das aplicações no Caribe
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Na música Haiti, de Caetano e Gilberto Gil, depois de um passeio pela desvalida sociedade brasileira, de pretos, pobres e famintos, salta aos olhos algo de desconcertante. Pensávamos que corrigíramos um número de distorções que nos tirariam do antigo patamar e nos elevariam ao futuro, em novas condições, vencidas a fome e a insensibilidade. De repente, revendo a atualidade, sua ferocidade, e a canção de Caetano e Gil, temos a impressão de que andamos para trás. Para já, contamos com um Ministro da Economia que não confia nos nossos regimes financeiros e deposita sua fortuna nas Ilhas Britânicas, um paraíso fiscal, no Caribe, no qual cresceu em riqueza de 9 para 52 milhões de reais, frente aos ajustes ou desajustes que ele mesmo implantou em nosso sistema. Criticado, defendeu-se alegando não ter feito nada de ilegal. Passara os negócios para a mulher e a filha (“laranjas”?), quando nomeado para as altas posições na administração Bolsonaro.
O Haiti é aqui? Ou somos, de fato, o Paraíso, no qual podemos nos dar bem e continuar impunes? Observemos que se a lei não pune semelhantes extravagâncias, é certo que a moral o faz. Em qualquer circunstância, estaríamos num capítulo da República prontos para mudar a chefia das funções públicas, e não para fingir que nada aconteceu e virar o rosto para o outro lado. É correto, como dois e dois são quatro, que as menores alterações de governo em nosso quadro de instabilidade atinge as riquezas e pobrezas do país, aumentando ou diminuindo, lá fora, nos paraísos fiscais, os montantes aplicados. O Sr. Guedes sabe disso. Os economistas que o cercam também não o ignoram – e agimos como se nada houvesse ocorrido, contentes e tranquilos, embora cada vez mais pobres e desvalidos como na canção dos nossos compositores.
Guedes cambaleou, ficou por um fio, perdeu três ou quatro assessores que dele discordaram, mas não por causa das aplicações no Caribe. Não gostaram do tal “Auxílio Brasil” temporário, de quatrocentos reais, para socorrer aos famintos e miseráveis. Gostariam que houvéssemos esquecido de que existem, morrendo de Covid-19 às quantidades, os últimos a chegarem à vacina. À luz fria da razão econômica, valem as reformas liberais, as privatizações, o ataque aos benefícios sociais que oneram as despesas do Estado. Dinheiro aplicado em paraísos fiscais são absorvidos dentro de uma ideologia na qual o que enriquece não pode se mostrar ruim. Sobre o socorro emergencial, o ex-Presidente Lula reagiu com sabedoria: “Que se dane Bolsonaro! O povo precisa do dinheiro. Devia ser de seiscentos reais em vez de quatrocentos”.
Enquanto isso, como canta a letra de Caetano e Gil, pobres, pretos e desvalidos se eternizam. A excentricidade plantada no Palácio do Planalto, não parece próxima de se esgotar. Acaba de associar publicamente a Covid-19 ao HIV. Uma de suas preferências, já o sabemos, é de se meter na seara científica e, de tanto repetir, consagrar asneiras. E nada lhe acontece. Eis porque podemos dizer que o Haiti não é aqui. O Paraíso é aqui. Não é aqui que vale qualquer coisa?
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