O País do Lula
"Lula, mesmo preso tem mais poder do que Temer, recebe mais e muito mais importantes visitas do que quem ainda está de presidente do Brasil. Quem vem ao Brasil, quer ver o Lula e a ninguém mais", diz o sociólogo Emir Sader; "Lula é a parábola que expressa o Brasil de hoje. Preso, sem poder falar de viva voz aos brasileiros, como nos acostumamos desde há 40 décadas, é Lula quem detém as chaves do futuro do Brasil", afirma; "Porque o Brasil e o Lula se tornaram indissociáveis. Porque o Brasil tornou-se o País do Lula"
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Antes mesmo que se instale o governo do Lula, o Brasil tornou-se o País do Lula. Tudo gira em torno do Lula. Todo mundo só se pergunta sobre o Lula. Candidatos falam mais do Lula do que de qualquer outro tema.
Lula, mesmo preso tem mais poder do que Temer, recebe mais e muito mais importantes visitas do que quem ainda está de presidente do Brasil. Quem vem ao Brasil, quer ver o Lula e a ninguém mais.
Como o Brasil se tornou o País do Lula? Antes de tudo porque sua trajetória de vida é a mais expressiva do que foi o Brasil nos anos 1950, 1960, 1970. Filho de nordestinos pobres, de família numerosa, família Silva, educados pela mãe, imigrantes para São Paulo num pau-de-arara, viveram a situação dos milhões de nordestinos na cidade grande, discriminados – cabeças-chata, paus-de-arara, baianos, entre outros epítetos -, trabalhando no que era possível trabalhar um menino pobre na cidade grande – engraxate, office-boy.
Trilhou o caminho dos operários imigrantes naquela época: escolhido pela família para ter o máximo de formação que alguém como ele poderia ter: tornou-se torneiro mecânico. Comia em marmita que sua mãe preparava, tantas vezes sem mistura nenhuma, o que o fazia ir comer longe dos outros, para que não vissem o ralo que era seu almoço.
Como milhares de outros operários daquelas imensas linhas de montagem, perdeu um dedo na maquina, por um acidente de trabalho. Como milhares de outros operários, participou das lutas em defesa dos seus interesses, começando a frequentar o sindicato dos metalúrgicos.
Como poucos dentre tantos, se destacou e se tornou líder dos operários metalúrgicos, tendo sido eleito presidente do sindicato. Liderou as mais importantes greves operarias da historia do Brasil, aquelas que quebraram a espinha dorsal da política de arrocho salarial da ditadura militar, política que permitiu o crescimento econômico batizado de "milagre", de que os santos do milagre eram os trabalhadores.
Desde aquele momento Lula tornou-se um personagem nacional e, logo, conhecido no mundo, como líder classista contra o regime ditatorial. Liderou a fundação do PT, impulsionou a fundação da CUT, sendo dirigente fundamental dos dois, incentivou a fundação do MST, participou das grandes lutas populares que levaram ao fim da ditadura.
Convencido de que só a luta política poderia resolver os problemas dos trabalhadores, foi candidato a governador de São Paulo, a deputado na Assembleia Constituinte, depois a presidente da republica. Naquele momento Lula já era protagonista fundamental da historia brasileira, portador da esperança de milhares de brasileiros. Quando concorreu com Collor, no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, representava a todos os que lutavam pelo aprofundamento da democracia no Brasil, pela justiça social, pelos direitos dos trabalhadores, pelo fim da fome e da miséria no País.
Diante dos governos neoliberais de Collor e de FHC, Lula esteve e todos os grandes combates de resistência à privatização do patrimônio nacional, da extinção de direitos dos trabalhadores, do Tratado de Livre Comercio das Américas (ALCA).
Até que Lula conseguiu que a esperança vencesse o medo e ele se elegesse presidente do Brasil. A partir daquele momento, seu destino e o destino do Brasil passaram a se confundir. O sucesso do seu governo foi o sucesso do Brasil. Seu prestígio internacional foi o prestígio mundial do Brasil. Transformou-se no maior líder popular do País, conforme o País foi ganhando contornos dos sonhos do Lula: um pais em que todos comessem três vezes por dia, em que não houvesse mais pessoas abandonadas, em que os brasileiros tivessem orgulho do seu País.
Lula saiu do governo com 80% de referências negativas na mídia, mas com 87% de apoio, o que nunca ninguém nem chegou perto de ter. Foi a maior consagração que um dirigente político pode ter.
Lula elegeu e reelegeu sua sucessora e, a partir do golpe de 2016, que pretendia construir um País totalmente oposto ao Brasil do Lula, passou de novo a liderar o País na luta de resistência democrática, de resgate da economia e das politicas sociais que tinham caracterizado seu governo.
Hoje, seja ele ou quem ele indicar, o próximo presidente do Brasil, o País tornou-se, inquestionavelmente, o Brasil do Lula. A liberdade no Brasil é a liberdade do Lula. A democrática, a justiça social, a soberania nacional – todos são temas que identificam o Brasil com o Lula e o Lula com o Brasil.
Este ano, o ano da virada democrática no Brasil, paradoxalmente encontra o Lula preso sem nenhuma razão para sê-lo. Lula é a parábola que expressa o Brasil de hoje. Preso, sem poder falar de viva voz aos brasileiros, como nos acostumamos desde há 40 décadas, é Lula quem detém as chaves do futuro do Brasil. Para se candidatar e vencer de novo ou para indicar que dirigirá o governo do Lula, o governo em que Lula será o personagem fundamental. Porque o Brasil e o Lula se tornaram indissociáveis. Porque o Brasil tornou-se o País do Lula.
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