O outro lado da moeda

Deltan Dallagnol
Deltan Dallagnol (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)


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Fazer política não se revela uma tarefa simples. Exige, às vezes, nervos de aço. Situar-se num contexto e assumir o lado certo da moeda, enquanto o tumulto nos cerca, constitui um dado de específica sabedoria. Muitos são os que invadem o setor e sucumbem, atraídos por cobiças que os desfiguram e deformam até se tornarem irreconhecíveis. Ainda que represente um desafio irresistível, sem as condições necessárias para enfrentar os obstáculos, o desacerto ocorre nos primeiros enfrentamentos. Por isso se diz que a atividade implica em um conjunto de qualidades, sem as quais o insucesso se torna inevitável. E há as idas de vindas, os cantos de sereia, as reviravoltas do destino, pegando-nos desprevenidos. Mas o pior na atividade diz respeito aos atalhos, saídas que parecem convenientes e conduzem ao malogro. Isso para não falar da atração quase impossível de fazer face, em certas pessoas, pela insinceridade, os que se fingem de lebre e não passam de gatos ou raposas, quando não se mostram, simplesmente, hipócritas. 

O caso Deltan Dallagnol salta aos olhos como um mau exemplo de político, entre aqueles que se superestimam, julgando-se espertos, e se revelam tolos, despreparados e ambiciosos. Depois de mil artimanhas, esforçando-se por convencer o mundo de que pareciam especiais, verificou-se banal nas invenções. A trajetória no Ministério Público já não o recomendava como alguém destinado à respeitabilidade. Havia usado da mídia como um prestidigitador, desrespeitando a lei, em claras manipulações que funcionaram a curto prazo, desmoralizando-se em seguida. Toda a maldade armada contra o Presidente Lula e os 580 dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, jogou areia nos olhos, incapaz de se firmar a longo prazo, quando a poeira baixou e se distinguiu a fragilidade das tramas. A malícia da carreira política com que acenou depois, enquanto contornava as exigências da legislação eleitoral e nelas pisoteava como um trator –, enganou por poucos meses, para logo cair nas garras da desmoralização e ser condenado. De herói a vilão, o percurso, diminuto, rapidamente se esgotou. 

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Daí por diante, o que se verificou até agora se mostrou previsível. Entrevista à imprensa, cercado de bolsonaristas, cara de choro, diagnósticos de perseguição ou vingança dos desafetos, nada daquilo convenceu. Terá de gramar o peso da condenação, cada vez com menos prestígio na medida em que se afasta dos holofotes e da retórica dos debates no Congresso. O jus sperniandi, como jocosamente dizem os juristas diante das reclamações dos condenados, se reduz a uma reação. Não dá para apagar o fato de que se refere aos perdedores. 

Um olhar para o que aconteceu em Curitiba, por ocasião da chamada “lava-jato”, em companhia de um juiz parcial, revelou um rosário de crueldades, não mais do que isso. O STF se deu conta do que ali se desenrolava e se posicionou contrariamente, anulando decisões. Para um politico inteligente e talentoso como Lula, o que surgiu mais tarde foi como conhecer uma outra face da moeda. Dallagnol, igualmente. Só que a sua moeda veio como desastre; a de Lula, como sucesso, coragem, persistência e ciência em saber esperar, tudo, enfim, que caracteriza a político no melhor sentido da palavra.

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