O ouro dos ianomâmi
"Apesar de reiteradas, inúmeras e sucessivas denúncias do genocídio progressivo dos ianomâmi, não se viu nenhuma visita oficial ou atenção a esta"
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As fotos expostas como suas costelas tão humanas como as nossas. Malária, águas ruins, roças roubadas, animais mortos, peixes agonizantes nas profundezas ou tremelicando ao sol. Somos vergonha na Etiópia e na Biafra!
Um bandeirante já ameaçava os indígenas de que botaria fogo nas suas águas, caso não mostrassem as suas jazidas do Goiás. Nos tempos do Anhanguera, onças, cobras, mitos, remédios, pajelanças, religiões, deuses, e os indígenas eram massacrados pela armada cristã, portanto cruz e bandeira em suas naus, sempre a bandeira. Por outro lado, o explorador europeu cultuava a existência de um éden tropical e do selvagem submisso, o “bom selvagem” neste mundo de delícias, bondades e... ouro! Todavia, vemos desolação e morte nas aldeias ianomâmi sob o cinismo desses anhangueras ambiciosos, bandeirantes decrépitos e cristãos falsos.
Nos bangue-bangues eram rifles contra flechas, metal contra madeira, a tecnologia contra o primitivo – a cultura americana é baseada nas armas até hoje e sempre há uma mais letal e assustadora. Na tela, a imagem de feio para índio e bonito para mocinho, tanto que até hoje se o meliante for “branco ou bonitinho” já é atenuante, se usar uma bandeira para escaramuça é patriota!
Na política do bangue-bangue Bolsonaro, de olhos claros, elogia a cavalaria americana que levara povos ao genocídio. Entretanto, o capitão na presidência ressaltou que não faria igual, mas quer diminuir a área da reserva dos ianomâmi, habitantes de uma região de Roraima e de muitas aldeias espalhadas e... ouro.
Apesar de reiteradas, inúmeras e sucessivas denúncias do genocídio progressivo dos ianomâmi, não se viu nenhuma visita oficial ou atenção a estas. Por sua vez, os acampamentos de garimpeiros receberam o ilustre ex-presidente em visita e ufania, denotando uma política deliberada de exploração.
A reserva, propriedade constitucional dos ianomâmi, foi devassada por forasteiros armados e empresas da mineração, defenestrada por madeireiros e estupradores de virgens, ladrões de roças, matadores de jornalistas como Bruno Pereira e Dom Phillips. A Funai não tem aviões ou barcos suficientes, os quais têm de sobejo os garimpeiros para o ilícito e, por fim, a escória e o mercúrio sujo descendo e infestando os veios d’água e rios agônicos.
Ianomâmi, que traduzido é ‘seres humanos’, devem estar fazendo a mesma inferência que o cacique Seattle fez ao presidente americano Franklin Pierce, em 1855, de que há coisas que não podem ser compradas. Diz Seattle que seus mortos não esquecem. A terra é parte e mãe deles, as flores suas irmãs, o cervo, o cavalo e os pássaros também seus irmãos. Pertencem à mesma família viva os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e do ser humano.
O espírito da mata viva não esquece. Cadê os verdes das matas devastadas? Onde está o verde da bandeira?
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