O novo ciclo do PT
"O caráter que tenha a nova redemocratização vai definir o futuro do Brasil pelas próximas décadas, provavelmente em toda a primeira metade do século XXI. Por isso, é a batalha contemporânea maior a enfrentar", escreve o sociólogo Emir Sader
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Por Emir Sader
O PT já tem história, uma história relativamente curta em comparação com outros partidos importantes da esquerda no mundo. Mas, comparativamente também, uma história de extraordinário protagonismo, pelo tempo relativamente curto da sua existência.
O PT, fundado em 1980, no final do período da ditadura militar, em 1989, com o Lula, disputava o segundo turno da eleição presidencial. Ao longo da sua segunda década de existência, o PT liderou a resistência ao neoliberalismo, vivendo um primeiro período difícil, diante do consenso neoliberal, que derrotou o Lula no primeiro turno, duas vezes – 1994 e 1998.
Mas o partido tinha conseguido eleger uma grande e importante bancada parlamentar, governos municipais e estaduais, tinha um protagonismo nacional muito significativo, tinha conquistado o espaço político nacional principal na oposição aos governos neoliberais. Além de consolidar a liderança do Lula, como o mais importante líder popular da nossa história, depois do Getúlio – a quem viria a superar, nos seus governos.
O primeiro período da história do PT é o que vai da sua fundação às eleições de 1989, da sua formação e projeção nacional. O segundo, o da resistência ao neoliberalismo, ao longo de toda a década de 1990. O terceiro, o dos governos do PT, o período, até aqui, mais importante da história do partido, de 2003 a 2016. O quarto é o atual, de resistência, novamente, depois de termos sido as vítimas diretas do novo golpe e dos governos que o instalaram.
O novo período que vai se abrir, será o da luta pela redemocratização do Brasil, quando se abrem novos horizontes para o país e para o PT, com a luta pela eleição do Lula para a presidência do Brasil. O partido tem que se reciclar, tem que estar à altura dos desafios e circunstâncias. Será um período até as próximas eleições presidenciais – outubro e novembro de 2022, ou outubro, se der primeiro turno, ou antes, de ser para impormos o impeachment.
Interessa o tempo político, as prioridades que o partido tem que definir. Creio que essas prioridades têm que ser as de definir o caráter do novo processo de redemocratização. Um período distinto do anterior, inclusive pelo papel protagônico que a esquerda pode ter, através da força alcançada pelo PT.
Temos que ter consciência do déficit democratico que temos, isto é, o logro maior dos governos do PT foram as políticas sociais, a luta contra as desigualdades. A consciência popular que levou ao sucesso dos nossos governos, à sua eleição e reeleição, se baseou no sucesso, em grande medida, no sucesso das nossas políticas sociais.
Mas não conseguimos desenvolver, paralelamente, a consciência democrática a nível de massas. Significativo – e dramático – que não pudemos desenvolver mobilizações populares para defender o governo da Dilma, no golpe de 2016, por falta dessa consciência a nível popular. Não se valorizava ainda a democracia, como o regime em que a maioria decide.
Temos agora, para enfrentar um novo processo de redemocratização – nosso principal objetivo de luta -, que é encarar um tema como o tipo de Estado e de democracia que queremos para o Brasil. Temos compromisso com a redemocratização antes de tudo do Estado, mas também do conjunto da sociedade e das relações de poder. Pensar que Estado o Brasil necessita para lutar contra as desigualdades, para promover a democratização geral do país, para afirmar a soberania externa, para promover a democratização dos meios de comunicação, a reforma agrária, a reforma urbana, a reforma tributária, entre tantas outras, que realize a democracia que o país nunca teve e necessita imperiosamente.
É provável que essas transformações democráticas profundas só possam ser viabilizadas mediante uma Assembleia Constituinte. O caminho da redemocratização depende de um projeto político estratégico, mas também de uma tática de sua colocação em prática, que depende da correlação de forças, das forças que conseguirmos ter, do bloco de forças que se comprometa com a redemocratização e da força dos seus adversários.
Com certeza, o caráter que tenha a nova redemocratização vai definir o futuro do Brasil pelas próximas décadas, provavelmente em toda a primeira metade do século XXI. Por isso, é a batalha contemporânea maior a enfrentar.
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