O Nordeste é um fazendão para Weintraub
Weintraub ainda não esquentou a cadeira do ministério e já terá de prestar contas das declarações xenófobas que agora emergem. Terá de lutar contra o poder do discurso
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Impressiona o olhar estereotipado que muitos têm do Nordeste, sobretudo, a elite. Sobretudo integrantes da Direita antipovo. A fotografia fincada em suas mentes é de um homem sertanejo, com chapéu de couro, suado, em cima de um jumento ou de famílias que persistem na luta por um direito básico: comida e água. Se este povo nordestino não tem sequer água e estão com fome, a prioridade deles certamente não é estudar. Assim, pensam.
Durante a campanha movida por whatsapp e fake news, fenômeno impressionante que todos nós testemunhamos, o então candidato Jair Bolsonaro sugeriu que o programa de carros-pipa deveria ser retomado no Nordeste. A visão retardada daquele capitão com décadas de paralisia na Câmara de Deputados, era de que a região remetia às consequências da seca de 15, esquecendo de uma região renascida a níveis chineses durante o governo Lula e onde a Transposição do Rio São Francisco é uma realidade frente aos mesmos paliativos que alimentaram políticos ardilosos da indústria da seca.
Quem conhece e mora no Nordeste sabe que Bolsonaro, no conjunto das excrescências que fala e da ausência plena de projetos nacionais, não tem apego qualquer pela região. O Nordeste não passa por sua cabeça.
Daí, e como dizia o Barão de Irararé, "de onde menos se espera é que não sai nada mesmo", o presidente dobra a aposta do radicalismo de extrema-direita antipovo, antinordestino, anti-negros, anti-mulheres, anti-gays, e alça um novo discípulo olavista ao Ministério da Educação, o Abraham Weintraub.
Bastou seu nome ser anunciado que as redes pipocaram a sua visão de mundo eternizada pelo poder da internet. O passado já o condena.
Com olhar escravista, vê o Nordeste como um grande fazendão. A elite nordestina, manda seus filhos para estudarem no Sudeste e voltarem "doutor". Os que ficam, alimentam os animais, ordenham as vaquinhas, plantam o feijão e torcem para Deus mandar chuvas. Assim, como o seu antecessor na pasta, o Vélez Rodriguez, ensino superior deve restringir-se a uma pequena elite interessada. Weintraub não apenas concorda, como tira toda a região Nordeste desta possibilidade.
"Em vez de as universidades do Nordeste ficarem aí fazendo sociologia, fazendo filosofia no agreste, [devem] fazer agronomia, em parceria com Israel. Acabar com esse ódio de Israel. Israel, nas faculdades federais, é loucura o que você escuta, né?", disse ele, em um vídeo que ganhou as redes sociais.
Nordestino não precisa pensar, refletir sobre sociedade, nem discuti-la. Não deve se ater à arte, nem à literatura. Jorge Amado, Dorian Jorge Freire, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Augusto dos Anjos, Rachel de Queiroz, Ferreira Gullar são pontos fora da curva. E se puxarmos uma lista na música e na ciência, o novelo não terá fim.
Weintraub ainda não esquentou a cadeira do ministério e já terá de prestar contas das declarações xenófobas que agora emergem. Terá de lutar contra o poder do discurso. E o discurso guarda uma sutil peculiaridade: a sua força transpõe a dissimulação. Certamente, o novo ministro vai dizer que "não é bem assim, que todos merecem respeito, que tiraram a fala do contexto e coisa e tal...".
Mas, como o discurso intrínseco em sua forma de ver o mundo tem poder maior, o que está por vir nesta aposta dobrada de Bolsonaro, não é apenas a de um Vélez elevado ao quadrado. É de uma ameaça às conquistas educacionais dos nordestinos, em forma de preconceito e retaliação.
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