O nome e a coisa
Só pode ser de uma cultura machista que acha engraçado rir, achar cômico e hilariante interiorizar o sexo feminino. 0utra coisa o regime de leitura de toda obra de arte é polissêmico, permite várias leituras e interpretações
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O filósofo francês Michel Foucault, escreveu que a nossa sociedade nos instiga a falar do sexo em demasia, para reprimi-lo, censurá-lo, não para promove-lo, exibi-lo ou esclarece-lo. A vontade de verdade constituída pelas ciências, a filosofia e a musicalização do sexo -se falar na indústria do sexo - tem como objetivo escondê-lo, é não apresenta-lo. Digo isso em razão da espetacularização e publicitação da sexualidade, em nossos dias.
Dois eventos chamaram muita atenção sobre essa "vontade de verdade sobre o sexo" em nossa cidade: uma intervenção artística de uma artista plástica no espaço público do Recife, interpretado por uns e outros como uma imensa vagina de lábios escarlate e as canções do falecido Genival Lacerda. 0 que tem a nos dizer esses dois acontecimentos?
Primeiro, tem a questão do espaço público e o direito ou não do artista impor a contemplação dia cidadãos de vida das dessa ou daquela obra de arte, sem o seu consentimento prévio. Segundo, as interpretações dos espectadores mais ou menos involuntários. Aquilo é uma vagina, uma fenda, um buraco, uma flor, uma decoração ambiental? - Por que a sociedade ou alguns artistas privilegiam a exposição pública dos órgãos genitais femininos e não também masculinos? Por que a sexualidade genital e não as outras formas de sexualidade polimorfas ? Há algo de fixação na sexualidade das mulheres, que parece um discurso machocêntrico ou falocêntrico, que parece interditar o exposição do sexo masculino, como feio, bizarro, pouco artístico. Não será a exposição unilateral da genitália feminina uma estratégia discursiva-imagética a serviço de uma moral e uma estética masculina, que faz das mulheres objeto de exposição.
O segundo ponto tem a ver com as canções picarescas e de duplo sentido do falecido G. Lacerda. De onde vem essa mania obsessiva de ridicularizar a condição feminina, seja nas piadas picantes ou nas letras das músicas de duplo sentido, cantadas por certos artistas para o gáudio da nação dos machos, menoscabando, humilhando, ridicularizando as mulheres? - Só pode ser de uma cultura machista que acha engraçado rir, achar cômico e hilariante interiorizar o sexo feminino. 0utra coisa o regime de leitura de toda obra de arte é polissêmico, permite várias leituras e interpretações. Há uma certa distância entre o signo e a significação.
Basta lembrar o exemplo polêmico da "piroca de Brennand" que custou, aliás, a reeleição de Roberto Magalhães. 0 mapa da decodificação das coisas reside mais nas obsessões e fixações de quem ver do que nas próprias coisas. Onde ser ver uma vagina gigante, pode se enxergar uma flor. Tudo é possível, quando se trata de intervenções não autorizadas no espaço público. Mas que promove a artista, não tenhamos dúvida. Propaganda gratuita e eficaz.
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