O neogolpe, os cínicos e os vitoriosos

Se Lula, Mariza, filhos, netos e bisnetos são donos de vinte tríplex e vinte fazendas não é caso de impeachment de Dilma. O crime de responsabilidade como ato de Dilma Rousseff não apareceu, claudica e até hoje precisa ser 'explicado'. Está aí a prova endógena, epistêmica de que este crime não é crime. Mas mesmo assim os cínicos e poderosos podem 'ganhar'

Brasília - DF, 27/07/2016. Presidenta Dilma Rousseff entrevista para Jornal Asahi Shimbun no Palácio da Alvorada. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Brasília - DF, 27/07/2016. Presidenta Dilma Rousseff entrevista para Jornal Asahi Shimbun no Palácio da Alvorada. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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O título vem com uma tentativa de conceito e duas percepções.

Talvez eles 'contribuam' – que ingenuidade-, para os que têm dificuldade com uma leitura menos primária, ou atávica a si própria, nesses tempos sofisticados de compreensões tão complexas.

Talvez eles só desmascarem quem tenta se esconder numa ideologia válida, ácida, intolerante e mesmo assim até legítima, afinal cada um é o que quer ser, mas nada disso dá 'direito' a se querer impeachment de um presidente da república, ótimo ou péssimo; simpático ou com cara de carranca; que saiba falar ou seja uma caricatura ambulante quando abre a boca.

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O que está havendo com Dilma Rousseff na política não é golpe, é um neogolpe, e o neogolpe não é o golpe, mas um golpe cujo golpe é não dizer que é golpe, pelo menos para quem quer que golpe se diga golpe, daí o grande golpe a Dilma é não ser aquele golpe, mas o neogolpe, que mente sua ontologia, mas todos sabem que é golpe.

O malabarismo esquizofrênico acima é proposital. Talvez retrate os tempos difíceis atuais. Há duas leituras deles: ou há um golpe escrachado e mundano contra Dilma, como alguns veem, ou há um neogolpe muito sofisticado, envolvendo tacitamente 'simpatizantes' em todos os Poderes e órgãos do Estado, cada um contribuindo, na hora de sua competência funcional, para empurrar mais um pouquinho Dilma para o abismo.

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É aqui que o tal do neogolpe se perfaz e, ao mesmo tempo cria dificuldade para que muitos consigam ver.

Opositores cínicos a Dilma repetem o mantra de que 'as instituições estão funcionando', como se esse pulsar burocrático inercial da débil máquina estatal quisesse dizer algo. Que piada.

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No neogolpe o que não pode parar de funcionar jamais é essa porcária máquina estatal, lenta, mentirosa e inatingível. Exatamente para que o mantra funcionalístico do maquinismo seja enfiado goela abaixo no povo-TV otário como ração no pato para foie gras.

Confrontem-se 'verdadeiros' e 'cínicos'; mas agucem-se as percepções. Um pouco como Voltaire ensina no Dicionário filosófico, no verbete 'Amizade', ensinando que amigos têm pessoas sensíveis e virtuosas. Já malvados têm cúmplices; ambiciosos têm associados; políticos têm os de feitio faccioso e os príncipes têm cortesãos.

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O mero fato de a defesa de Dilma ter conseguido produzir provas técnicas e sérias de que não houve crime de responsabilidade – insiram-se aí TCU e MP desfazendo acusações estupradas de última hora-, mesmo com acusadores insistindo com outras provas já seria o bastante – sim, o bastante- em qualquer tribunal do mundo, jurídico ou político para se absolver. A 'dúvida', em toda a história do Direito, nunca militou a favor da condenação. A não ser nas ditaduras e nos golpes.

Aí estão os cínicos. Mas aí também podem estar os 'vitoriosos'. Como aqueles a quem o professor Darcy Ribeiro se referiu na Sorbonne ao receber o título de Doutor Honoris Causa, dizendo 'não queria estar no lugar dos que me venceram'.

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Dilma Rousseff não está sendo derrubada por um ato criminoso seu. Este ato criminoso que os cínicos aprenderam rapidamente que precisam meramente 'falar', 'insistir', 'repetir', construir a frase 'o crime de responsabilidade está claríssimo', como se estivesse. 'Falar' a palavra 'crime' não cria crime.

Dilma enfiou os pés pelas mãos numa gestão autocentrada, egocêntrica e efetivamente ruim. Demorou séculos a pedir perdão e, mais uma vez, não o fez com a sinceridade que se lhe seria exigível. Este parágrafo não é para 'alegrar' serelepes mentais de plantão achando que só ele salva todo o artigo e prova que 'no fundo' o autor sabe que Dilma merecia ser impichada. Não merececia. Há um repugnante golpe, neogolpe ou nome perverso e indecente que se imagine dar.

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Se Lula, Mariza, filhos, netos e bisnetos são donos de vinte tríplex e vinte fazendas não é caso de impeachment de Dilma. O crime de responsabilidade como ato de Dilma Rousseff não apareceu, claudica e até hoje precisa ser 'explicado'. Está aí a prova endógena, epistêmica de que este crime não é crime. Mas mesmo assim os cínicos e poderosos podem 'ganhar'.

Esses tempos vão deixar, por baixo, toda uma geração em 'náusea', como Jean-Paul Sartre imaginou Antoine Roquentin. Mas a 'vingança' – nome estigmatizado por um pensamento piegas e carola- faz o prato de comida esfriar, sem, contudo, deixar de servir como alimento. O gosto altera, o prazer diminui, mas o tempero da História é poderoso e acaba salvando o paladar.

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