O não-lugar da ontologia afrikana em suas tradições

É crucial compreendermos a necessidade do resgate e da preservação das formas, línguas, características e subjetividades que perfazem as expressões afrikanas



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Se eu pudesse lembrar algo para nós neste momento é de que uma cultura não se perpetua sem sua língua.

Afirmamos isto parafraseando uma conhecida expressão da Dra. Marimba Ani referenciando o complexo sistema de defesa do corpo humano: "Sua cultura é seu sistema imunológico" e sem cultura - conjunto de elementos materiais e imateriais que constituem um povo, não é possível identificarmos seu ethos, sentido, elemento chave para a constituição de sua unidade.

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Um dos meios mais estratégicos adotados pelo colonialismo branco europeu para separar nossos ancestrais afrikanos de sua cultura, foi a separação de nossos antepassados de seus familiares/comunidade como também de seus nomes.

Para diversas culturas afrikanas se não todas das mais diversas que compõe o continente, compreendem que o nome é uma palavra de poder. O nome, e mais, a língua qual este está atribuído, caracteriza cultural e ontologicamente um ser dentro da sociedade. Não obstante é comum em expressões culturais como a capoeira e o candomblé nas diasporas haver ritualísticamente um momento de renomeação que lhe trará tal pertencimento à comunidade.

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Este nome precisa ser constituído da língua cultural da pratica que este individuo está sendo iniciado. Assim, não só os nomes pessoais, como também o nome dos elementos rituais e sociais em que o ser se insere.

Quando observamos isso pelo lado imposto, colonizante, temos o que chamamos de racismo estrutural pois os símbolos, signos, nomes e práticas espirituais e religiosas religam o ser a esta cultura dominante. Ou seja, neste sentido para o negro é um não-lugar de ontologia e pertencimento, um não-lugar de se definir cultural e existencialmente enquanto preto e preta.

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É crucial compreendermos a necessidade do resgate e da preservação das formas, línguas, características e subjetividades que perfazem as expressões afrikanas. A oralidade e sua prótase, elemento não-textual, vivo e cheio de sentidos que cabem a cada ser-sendo, um universo, uma biblioteca viva para avançarmos em assuntos como sustentabilidade, modos de produção, consumo e relações. Assuntos estes que têm se mostrado cada vez menos possíveis de serem tratados neste modo sistêmico monocórdio, egoico e individualista mesmo através das correntes filosóficas mais humanistas do mundo ocidental.

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