O mundo se choca com um Brasil apequenado

"O mundo tinha se acostumado, neste século, com uma imagem marcante do Brasil. Líder da América Latina, que ele ajudava a projetar de forma extremamente positiva; força global na discussão e decisões dos grandes problemas do mundo; destaque ímpar na luta contra a fome e as desigualdades", lembra Emir Sader, que escreve da Europa e relata a percepção do local sobre a crise no nosso país: "E agora, desconcertados, veem a Argentina eleger um presidente rigidamente neoliberal e se instalar, ainda que por um golpe, um governo igualmente similar às devastadoras políticas de austeridade no Brasil"

"O mundo tinha se acostumado, neste século, com uma imagem marcante do Brasil. Líder da América Latina, que ele ajudava a projetar de forma extremamente positiva; força global na discussão e decisões dos grandes problemas do mundo; destaque ímpar na luta contra a fome e as desigualdades", lembra Emir Sader, que escreve da Europa e relata a percepção do local sobre a crise no nosso país: "E agora, desconcertados, veem a Argentina eleger um presidente rigidamente neoliberal e se instalar, ainda que por um golpe, um governo igualmente similar às devastadoras políticas de austeridade no Brasil"
"O mundo tinha se acostumado, neste século, com uma imagem marcante do Brasil. Líder da América Latina, que ele ajudava a projetar de forma extremamente positiva; força global na discussão e decisões dos grandes problemas do mundo; destaque ímpar na luta contra a fome e as desigualdades", lembra Emir Sader, que escreve da Europa e relata a percepção do local sobre a crise no nosso país: "E agora, desconcertados, veem a Argentina eleger um presidente rigidamente neoliberal e se instalar, ainda que por um golpe, um governo igualmente similar às devastadoras políticas de austeridade no Brasil" (Foto: Emir Sader)


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O mundo tinha se acostumado, neste século, com uma imagem marcante do Brasil. Líder da América Latina, que ele ajudava a projetar de forma extremamente positiva; força global na discussão e decisões dos grandes problemas do mundo; destaque ímpar na luta contra a fome e as desigualdades.

O mundo tinha se acostumado com a presença de grandes líderes como Lula e Dilma, e agora não entende e tem dificuldades de ver o Brasil tendo um governo presidido por um tipo medíocre, burocrático, sem ideias, palerma como Temer.

Mesmo para quem não conseguiu acompanhar a discussão sobre crimes de responsabilidade e impeachment, bastam essas mudanças regressivas para que todos se convençam que se trata de um golpe. Senão, como o país abandonaria uma política externa de tanto sucesso, políticas sociais que conseguiram melhorias notáveis no país, como substituiria líderes legitimados pelas vitorias eleitorais, por um grupo de políticos corruptos, incompetentes, antipopulares e antidemocráticos?

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O Fora Temer é mais conhecido que o próprio Temer. O golpista é usado normalmente para caracterizar o novo governo brasileiro. Ninguém entende como o maior líder político que o Brasil já produziu é vítima de uma perseguição política tão contumaz, sem que as instâncias do Judiciário o protejam mas, ao contrário, fazem parte dos ataques à democracia e ao movimento popular brasileiro.

Esse processo de tentar recolocar o país numa forma estreita, amoldá-lo às dimensões do mercado financeiro, causa espanto no mundo. Imprensa, partidos políticos, líderes sociais, intelectuais, artistas, todos expressam indignação em relação ao que se passa no Brasil e manifestam convicção de que não é possível que o país siga muito tempo nesse caminho de restauração de um modelo fracassado no Brasil e no mundo.

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Estou na Europa, no grande festival anual latino-americano na Bélgica, depois também fazendo conferências em eventos similares na Suécia e na Dinamarca. Eles, escaldados pelos desastres causados pelas políticas de austeridade – o nome do esquema neoliberal que assola a Europa há tempos –, olhavam para a América Latina com esperança, como referência. E agora, desconcertados, veem a Argentina eleger um presidente rigidamente neoliberal e se instalar, ainda que por um golpe, um governo igualmente similar às devastadoras políticas de austeridade.

As discussões, como não poderiam deixar de ser, versam sobre o que seria "a pior crise da esquerda brasileira", o "fim do PT" etc., com as conhecidas visões escatalógicas de uma esquerda curtida por tantas derrotas. Não se dão conta que as maiores derrotas da esquerda brasileira – e latino-americana –, se deram com os golpes militares e com a ascensão dos governos neoliberais.

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Que hoje a esquerda, mesmo sofrendo reveses, está nas ruas, com grandes manifestações de massa, na Argentina e no Brasil, com seus principais líderes nesses países – Lula, Dilma, Cristina – aclamados como os maiores líderes políticos, reconhecidos e legitimados pelo povo. Por isso mesmo são vítimas de covardes e midiáticos ataques que tentam destruir suas reputações, porque sabem que em disputas democráticas, todos os políticos da direita seriam derrotados por eles.

Quando houve as barbaridades ditas por Serra, por Temer, por Meirelles e por obscuros ministros derrotados eleitoralmente, assim como veem as versões absurdas da mídia brasileira, o mundo se dá conta de que algo muito estúpido ocorre no Brasil. E como chega ao mundo as imagens cotidianas das manifestações de repúdio a esse governo, o mundo se dá conta de que a esquerda tropeça e sofre dura derrota, mas está de pé. De que se esses governos não conseguem se transformar em ditaduras abertas, já sem camuflagem, serão de novo derrotados nas próximas eleições, e este período aparecerá como um triste e duro parêntesis, com a América Latina, antes de tudo o Brasil e a Argentina, reencontrarão o caminho do desenvolvimento com distribuição de renda e voltarão a ser referências fundamentais para a esquerda de todo o mundo.

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