O mundo dos otakus

As razões para a disseminação dessa subcultura e a proliferação dos otakus não é tão óbvia assim. Pode ser por conta de um pessimismo generalizado



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Nos últimos dias tenho pensado muito na vida no Japão. Não, eu nunca morei lá e nem me identifico especialmente com a cultura nipônica. Mas descobri uma nova espécie de pessoas que vive lá e fiquei obcecada lendo sobre eles e tentando entender o que os leva a serem o que são.

Estou falando dos otakus, termo japonês que define jovens obcecados por computadores, mangás, animação e videogames e sem grande desejo de sexo.

Os otakus são geeks que mergulham num mundo de fantasia, deixando de lado qualquer possibilidade de vida social e amorosa presencial, carnal. E eles são muitos hoje no Japão.

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O que mais me impressionou na minha descoberta é que há otakus de quase 40 anos, alguns casados, que vivem uma história de amor virtual paralela ao seu cotidiano real. Os otakus têm pouco interesse em sexo e se não houver nenhum fato novo nas próximas décadas no Japão, eles serão responsáveis por um terço de redução da taxa de natalidade em 2060.

Especialistas atribuem essa fuga da realidade dos otakus a muitos anos de estagnação econômica que os desmotiva e os faz criar um mundo de fantasia onde eles se sentem felizes e realizados. A falta de ambição pós-guerra em transformar o Japão numa potência, a falta de vontade em fazer parte de grandes corporações e ter grandes salários contribuíram, segundo eles, para que essas pessoas, em número cada vez maior, sejam chamadas de herbívoros - pessoas passivas e sem desejo carnal.

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O mais impressionante de tudo o que descobri é que muitos otakus se relacionam com um videogame da Nintendo - Love Plus, só comercializado no Japão. São namoradas virtuais que se apresentam numa espécie de tablet e eles a levam pro parque, pro cinema e compram presentes e doces pra elas.

Sim, é estranho, bizarro.

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Minha impressão é que eles querem transformar a ilha numa espécie de Terra do Nunca, alegando que o relacionamento com uma garota virtual de 15 anos (e eles têm virtualmente um pouco mais) é o melhor dos relacionamentos de juventude, mas sem a pressão de casar e constituir família. Estão felizes. Saem por aí carregando o tablet pro cinema na cesta de suas bicicletas. Há otakus casados que omitem essa relação extraconjugal de suas mulheres. Eles as traem com verdadeiros tamagotchis.

É conhecido também o caso de um jovem japonês que se casou com seu Nintendo DS.

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Oi?

Acho que consegui justificar o meu estado de choque.

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Os casais japoneses hoje fazem pouco sexo, mesmo quando vivem juntos. E cresce o número de pessoas que, sem muito ou nenhum desejo sexual, querem relacionamentos com garotas virtuais perfeitas. Querem jogar o amor. Querem relacionamentos perfeitos, prolongando indefinidamente um estado de infância onde não há problemas, decepções ou grandes sofrimentos.

As razões para a disseminação dessa subcultura e a proliferação dos otakus não é tão óbvia assim. Pode ser por conta de um pessimismo generalizado e falta de perspectivas de se chegar ao nível de riqueza da geração de seus pais. Mimados?

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Se isso fosse razão suficiente, teríamos muitos brasileiros vivendo mundos virtuais de fantasia e alienação, já que vivemos crises e falta de perspectiva em muitas classes sociais. E encaramos tudo! Ou quase tudo.

O Japão lutou pra preservar sua cultura única em um mundo globalizado. Superprotegeu seu povo? Infantilizou os jovens em sua bolha? Fabricou otakus?

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Continuo pensando e compartilho minhas dúvidas e aflições agora com vocês leitores.

Afinal, se relacionar com máquinas, assumindo um personagem e abrindo mão de sexo e procriação não é um fenômeno de explicação fácil.

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