O mundo calça chuteiras, mas não precisa ficar cego para os abusos que ocorreram no Catar
Explorados ao máximo, imigrantes morreram para construir estádios onde se realizará um dos mais belos espetáculos da Terra, que combina arte, estratégia e força
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Daqui a pouco começa a Copa do Mundo no Catar, e durante quase um mês veremos em campo arte, estratégia, força e garra também, em muitos casos. O mundo calçará chuteiras. Como gosto de futebol, será um período de bom entretenimento.
A Copa, entretanto, deve ser vista também por outros aspectos, além da exposição do que há de melhor no futebol. É oportunidade para propagandas em geral.
Não é segredo para ninguém que o Catar, ao organizar a Copa, dá sequência a um plano de usar o futebol para melhorar sua imagem no mundo, associada a violações de direitos.
E parece ter sido bem sucedido, ao contrário do que ocorreu no Brasil.
Em 2013, alguns dias antes do início da Copa das Confederações, que marcariam a inauguração dos estádios para o mundial no ano seguinte, explodiram as Jornadas de Junho.
O protesto era contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, mas logo surgiram cartazes cobrando “Hospital padrão Fifa”, e atacando o governo de Dilma Rousseff.
Protestos gigantescos capturaram a atenção que certamente se concentrariam para as virtudes do futebol, e também para a organização da Copa.
O Brasil tinha novos estádios, aeroportos, avenidas e modais de transporte, além da melhoria dos já existentes.
Mas o que seria uma festa e a demonstração de eficiência — não do governo apenas, mas do Brasil — virou oportunidade para propaganda política, que, ao final, resultaria em Jair Bolsonaro.
Para quem duvida que haja conexão entre as Jornadas de Junho, a Copa e Bolsonaro, vai a pergunta: Por que a camisa amarela da Seleção Brasileira virou uniforme do bolsonarismo?
Tudo começou em 2013. Resta saber se foram ações espontâneas.
A história há de mostrar, mas já se sabe que movimentos como o Brasil Livre (corruptela de Passe Livre) nasceram ali, com patrocínio obscuro.
Em relação à Copa do Catar, oito anos depois, os protestos são muito mais tímidos, e nenhum no próprio país. E, nesse caso, há motivos reais para barulho.
Morreram operários na construção de estádios e outras obras de infraestrutura da Copa, em número que não se sabe ao certo.
O que se tem certeza é que trabalhavam em condições extremamente adversas, um escândalo que ganha maiores proporções se considerado que o Catar é o país mais rico do mundo.
O Catar tem renda per capta superior a 120 mil dólares anuais e pagava relativamente pouco a imigrantes que trabalham como operários.
Também lhes negava direitos básicos, como jornada de trabalho decente. E dava ao patrão o direito de vetar a transferência para outra empresa. Ou seja, semiescravidão.
ONGs como a Human Rights Watch (HRW) tentam articular fundo para indenizar as famílias dos que morreram e também os trabalhadores vítimas de abusos que sobreviveram.
No Brasil, a HRW não recebeu sequer resposta da CBF, que organiza o futebol brasileiro. O pedido era no sentido de se manifestar junto à Fifa para que uma fração dos lucros bilionários com a Copa fosse destinada a essas famílias.
Sobre as denúncias dos abusos no Catar, a CBF publicou texto em que recomenda “foco no futebol”.
Tudo bem, o futebol é bonito e apaixonante. Mas não precisamos ficar cegos para o que ocorre no entorno dele.
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