O mito da integração racial pacífica
O Brasil se especializou, ao longo de sua história, em cunhar meias verdades como verdades absolutas e como fatos incontestes; isso tudo, para encobrir verdadeiros genocídios cometidos por nossas classes dominantes e seu desprezo vil pelas classes subalternas e aos seus interesses
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O Brasil se especializou, ao longo de sua história, em cunhar meias verdades como verdades absolutas e como fatos incontestes; isso tudo, para encobrir verdadeiros genocídios cometidos por nossas classes dominantes e seu desprezo vil pelas classes subalternas e aos seus interesses.
Darcy Ribeiro, autor de uma obra-prima que descortina o DNA de nossa formação como povo, seu livro “O Povo Brasileiro” desmonta de forma categórica o mito da integração racial pacífica propagada mentirosamente por nossas elites.
Segundo o antropólogo, “nossa unidade nacional resultou de um processo continuado até a contemporaneidade de grande violência e segregação política, num esforço colossal e deliberado de supressão de qualquer identidade étnica”.
O doloroso massacre de uma concepção de desculturalização das matrizes indígenas e africanas que compõemjuntamente com a europeia, nossa formação enquanto povo, são dignas dos grandes genocídios cometidos pela humanidade.
Sob o prisma de dois conceitos inegociáveis - o de colonização e do Salvadorismo - embutimos e cristalizamos o pensamento de que a ordem social e suas miseráveis e seculares diferenças são sagradas, imutáveis e inflexíveis.
Antes segregados nas senzalas, despossuídos de direitos e de qualquer acepção de cidadania, fizemos de nossa abolição uma farsa, um embuste, uma mentira.
Continuamos a castigar estes seres como segunda classe devido à ancestralidade dos senhores da casa-grande; utilizamos outros métodos, embora, não obstante, usamos ainda a força estatal para a manutenção da ordem social e para a contínua mentira de nossa integração “pacífica”.
Não damos emprego, mas sim subempregos, com salários indignos à sobrevivência; trocamos as senzalas por periferias e favelas, sem saneamento básico, escola, posto de saúde; não temos mais o tronco, mas empregamos a força da polícia, os grupos de extermínio; não mudamos a forma de continuarmos escravizando.
Pela desconsciência, pela manutenção perniciosa da ordem sagrada.
Nesta tragédia que é a nossa formação, de uma aparente uniformidade cultural, esconde-se a perversidade gerada por nossa estratificação social, onde uma camada privilegiada, de mentalidade escravocrata, se opõe aos descendentes do Brasil negro, do Brasil índio.
A contemporaneidade mostra, inconvenientemente, a nossa desintegração racial onde as classes outrora escravas, hoje marginalizadas, são meras estatísticas nos telejornais.
Não possuem história e nem lastro, assim como seus antepassados.
Continuamos a propagar uma saga inverídica e não se alforriaram, ainda, as outras matrizes que compõem o povo brasileiro, assim denunciou Darcy Ribeiro, atualíssimo na compreensão do Brasil.
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