O militar na berlinda
"A campanha eleitoral, oficialmente, não começou, mas o brasileiro não pensa em outra coisa", escreve o historiador
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A maioria não decide o voto a partir de avaliação de programas partidários. Temas como a recuperação da capacidade do Estado de impulsionar a economia, garantir educação de qualidade, cuidar da saúde, estimular o desenvolvimento científico e tecnológico, conduzir a política externa, proteger o meio ambiente e assegurar a defesa militar pouco dizem a quem não tem como se alimentar e morar decentemente, encontrar emprego e proteger-se da bandidagem.
A maioria observa a qualificação moral do candidato, avalia sua honestidade e imagina sua possibilidade de atender as demandas mais gritantes. Observa, também, seus amparos mais vistosos.
No caso do atual presidente, que pretende a reeleição, destacam-se os militares. Com o aval dos comandantes, o mandatário vinculou sua imagem às fileiras, hoje percebidas como privilegiadas pela bondade governamental. A carreira de oficial está em alta, tal como depois da queda de dom Pedro Segundo, como anotou Renato Lemos, biógrafo de Benjamin Constant.
Nos últimos anos, os comandantes entraram na chuva sabendo que se molhariam. Expuseram irresponsavelmente suas corporações. O mando político tem ônus e bônus. A farda hoje sofre com as pilhérias relativas a honestidade de propósito e a virilidade de seus integrantes. O esforço sistemático de décadas para firmar boa imagem vira fumaça diante sátiras arrasadoras.
Mas a exposição ao ridículo não deixa de ser vantajosa para as fileiras: evitam questionamentos mais difíceis do que explicar a licitação de compras de medicamentos para a disfunção sexual ou lubrificantes íntimos.
Por que, recebendo volumosos recursos, as corporações militares ainda dependem tão profundamente de complexo industrial-militar estrangeiro para se equipar?
Estas aquisições servem mesmo à defesa do Brasil ou, ao contrário, reforçam o poderio de potências que pretendem manter multissecular domínio sobre os povos?
O que explica o fato de o Brasil, com sua razoável capacidade científica, tecnológica e industrial e com seus pesados gastos com as corporações militares não produzir elementos básicos como mísseis, escudos antimísseis, aviões que funcionem sem equipamentos importados, sistema de vigilância espacial, defesa cibernética, submarinos...?
Para que servem, finalmente, escolas de excelência como o IME e o ITA?
Por que manter o serviço militar obrigatório se a composição da tropa apresenta, em essência, o perfil do século XIX? Apenas os sem-oportunidade de coisa melhor são recrutados pelas corporações.
Como justificar um quadro de generais tão numeroso e oneroso? Não estão mais que vencidas as abomináveis tradições de recrutamento endógeno e de estimular a homofobia?
A fileiras viverão eternamente caçando homens e mulheres que lutam por reformas sociais? Até quando persistirão justificando o abate de patriotas que exerceram o sagrado dever de lutar contra a tirania? Quando começarão mesmo a se preparar para o confronto com o estrangeiro cobiçoso?
Entretendo-se com o incrível talento dos chargistas, o brasileiro não se dá conta de que mantêm corporações caríssimas, mas incapazes de defendê-lo e garantir que as riquezas nacionais sirvam aos que suaram para construir esse país.
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