O metafracasso brasileiro e a discreta esperança de mudar

Hoje já não somos mais motivo de chacota internacional. Já não riem mais de nós, brasileiros, lá fora. Hoje somos motivo de pena; sim, de compaixão

Hoje já não somos mais motivo de chacota internacional. Já não riem mais de nós, brasileiros, lá fora. Hoje somos motivo de pena; sim, de compaixão
Hoje já não somos mais motivo de chacota internacional. Já não riem mais de nós, brasileiros, lá fora. Hoje somos motivo de pena; sim, de compaixão (Foto: Marconi Moura de Lima Burum)


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Vamos por tópicos. Hoje já não somos mais motivo de chacota internacional. Já não riem mais de nós, brasileiros, lá fora. Hoje somos motivo de pena; sim, de compaixão. Senão, de estudos de caso; de pesquisa científica. Que tipo de povo é o brasileiro? Que tipo de Nação e República é a brasileira? Qual é sua relevância institucional e democrática? Qual é o seu arranjo civilizatório?

Penso que em todos os tempos (talvez a História vá provar isso), jamais se dissolveu tantos direitos sociais, jamais se retrocedeu tanto em termos de políticas e mesmo de marcos legais protetivos à sociedade em sentido de sua evolução civilizatória, como se tem feito hoje. Trata-se de uma solvência jamais vista nesse pedaço de território global que um dia se pôde chamar de "Estado Soberano", o Brasil. Todos os dias é uma notícia (perdoe-me!) mais desgraçada que a outra: 1) congela-se por 20 anos investimentos em educação, saúde etc.; 2) fim da autonomia educacional de empoderamento cognitivo em moldes gerais, para início de um novo Ensino Médio de separação de classes sociais; 3) início de construção de bases militares dos EUA em território nacional; 4) fim das Leis de proteção ao trabalhador (CLT) e início de processos de escravagismo moderno; 5) venda do conteúdo/patrimônio nacional como as empresas estatais (Eletrobras, Petrobras etc.) que ainda funcionam bem, e cujas riquezas pertencem tão mais a nossas futuras gerações que a nós, contemporâneos... e por aí vai...

Para festejar todas as aberrações cristalizadas junto às instituições da República, derruba-se uma Presidente eleita democraticamente porque disseram que praticou "Pedaladas Fiscais", e o outro Presidente assumidamente corrupto (malas de dinheiro; assessores e delatores; amigos e ex-amigos presos com milhões) é toda hora absolvido pelos templos da falsa democracia existente (Congresso Nacional; TCU etc.). Ruralistas avançam suas máquinas sobre florestas e fazem recuar leis que protegiam alguma coisa do Meio Ambiente. Tudo isso com as bênçãos de uma Corte Superior (STF) inerte e inútil no mais amplo sentido destes vocábulos. É o poder da Superestrutura Política e Econômica, fenômeno oculto e mundial, que nos esmaga sem dó.

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E o povo? O povo trabalhador aceita em silêncio retirar 10 reais do salário mínimo para se inteirar o dinheiro à compra direta e descaradamente jamais vista na História de deputados que fazem tatuagens malditas, dancinhas ritualísticas de seu deboche ao povo, além dos classicamente corruptos etc. e tal. A classe média paga todos os dias os vultosos aumentos da gasolina e já não podem mais enviar seus filhos para estudar no exterior. Enfim. O povo morreu; só esqueceu de cair.

É inexplicável, completamente ilógico que a lógica (verdade) desse País seja o contrário de outras civilizações. Enquanto em outros mundos se busca crescer e avançar; no Brasil a máxima do imaginário possível é recuar, retroceder, pior, com a anuência ou o silêncio do povo e das instituições (vergonha, a exemplo: um STF que poderia interromper a hemorragia nacional e não o faz).

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Trata-se de um egoísmo pretérito que, enraizado, se consolida em egoísmo intergeracional. Ou seja: não somos capazes de pensar o País para nossos filhos e netos, e fazer desse espaço, em termos ambientais e institucionais, um lugar melhor para que eles vivam bem, haja vista termos – quase – assumido nosso fracasso civilizatório, cheio de sub-fracassos (éticos; econômicos; sociais; ecológicos; políticos; jurisdicionais; etc.). É o que chamo de "metafracasso", os insucessos e involuções dentro do grande arranjo horripilante que se tornou a República, cheia de conservadorismo barato e infértil; de visões distorcidas das políticas públicas inclusivas (quando não, uma militância desleal das elites para a anulação de tais políticas gerais e universais); o debate enviesado de um modelo de sociedade mais humana e generosa (inversão de valores societários); e a pior de todas as interfaces daqueles que lideram os debates nas ágoras, rincões e espaços institucionais: a hipocrisia exacerbada.

O Brasil não atravessa uma crise econômico-política, contudo, uma crise existencial. Antes apenas não sabíamos onde "queríamos chegar" e "como chegar". Hoje, nosso País está entorpecido, lento de memória, dopado, caótico, caquético, desanimado, sem graça, sem sal (e já já, sem Pré-Sal – perdoe-me o trocadilho tão clichê), sem vida. O Brasil está acabando, literalmente.
Fingíamos que o combate era corrupção. Achávamos que entendíamos de política. Eles são poderosos demais. Sabem todos os segredos do mal. Enganaram-nos. Fizeram-nos de bobos da Corte. E já já iremos votar neles todos para continuarem exatamente como sempre e onde sempre estiveram. Somos marionetes dessa lógica ilógica de um País que retrocede, enquanto o mundo avança em tecnologias e inteligências; em economias e direitos sociais; em todos os sentidos.

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A única angústia nisso tudo é que antes eles (os poderosos) disfarçavam sua mesquinhez, arrogância e crueldade. Hoje, seu fracasso humano (a desfaçatez ética) é nosso, assumidamente, fracasso civilizatório. E se não acordarmos desse pesadelo e formos à forra com esses representantes (Deputados, Senadores, Ministros etc.), não passaremos de ruínas visitadas por estrangeiros para fazer um turismo de tragicidade, compaixão e aprendizado do rudimentar. Tipo: "Que civilização simpática era essa! Eles tinham até aquedutos, e outros dutos. Povo diferente! Pena que foram extintos tão precocemente!"

A se retirar os exageros da ironia acima, e abdicarmos sobremaneira do Complexo de Vira-lata (não aceito isso a nosso povo; o debate é outro) , concluo: ou fazemos algo para mudar essa situação (a começar de forma simples, por renovar – e com gente capacitada e comprometida realmente – os nossos representantes no Congresso Nacional), ou a eleição de 2018 – essa que é a nossa discreta última esperança – será mais um exemplo de nosso metafracasso diante do imenso fracasso que estamos nos tornando como Civilização.

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