O Messias, quem diria, não declarou as luxuosas joias da Arábia
Um dos “mitos” construídos artificialmente, pela Mídia-Pig, nestes últimos anos, desde 2014, é o falastrão Messias
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Um dos objetivos sistemáticos visados pelos gestores da guerra híbrida brasileira é o de submeter a opinião pública, por meio da produção da desinformação construída continuamente pelas empresas de comunicação social, à ilusão da percepção do tempo presente, buscando fulanizar os fatos como, por exemplo, o Golpe de 2016 ou as falcatruas perpetradas pela assim chamada Operação Lava Jato, como sendo resultado de atos de indivíduos isolados, tipo Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Rodrigo Janot, Michel Temer, general Villas Bôas, general Augusto Heleno (o pequeno), Jair Messias, Damares Alves, entre outros, e não dos movimentos de estruturas de poder capitalistas produtoras das condições materiais e espirituais para a consolidação de tais processos, como são as frações das Forças Armadas, do Judiciário e Ministério Público com a Operação Lava Jato, da Mídia-Pig com seu Instituto Millenium, das Igrejas cristãs de tradição católica e evangélica com sua vinculação ideológica-teológica, do Capital Financeiro e Agrário.
Sobre o Golpe de 2016, o seu principal objetivo foi o de enquadrar o Brasil na nova agenda neoliberal de acumulação, por meio de uma maior concentração de renda, pelo desmantelamento do patrimônio nacional, pela desorganização do Estado brasileiro, pela produção estrutural de desemprego e arrocho salarial, com a desregulamentação das garantias sociais previstas constitucionalmente. Neste escopo, a Mídia-Pig reveste-se como sendo um 4º Poder, tratando de conduzir cirurgicamente a destruição de biografias, a criminalização de políticas desenvolvimentistas inclusivas e redistributivas, a demonização de partidos políticos progressistas e de empresas estatais estratégicas, bem como a construção artificial de mitos e heróis de ocasião, visando à geração de um consenso social que garanta ao bloco de poder o acúmulo de riqueza sem ser importunado.
Um dos “mitos” construídos artificialmente, pela Mídia-Pig, nestes últimos anos, desde 2014, é o falastrão Messias, que da posição no baixo clero parlamentar chegou a alcançar a presidência da República. A centralidade dessa construção situou-se na forma comunicacional desenvolvida pelo capitão de extrema-direita, fazendo-o deixar a condição de político insignificante para se tornar o porta-voz do pensamento reacionário no Brasil, graças ao substrato autoritário presente nas ações e concepções, nos corações e mentes de grande parte da população brasileira, corroborado pela relutância histórica em não querer reduzir nossas injustiças e desigualdades sociais.
A Mídia-Pig identificou nesse político neofascista a possibilidade de espetacularizar mensagens semióticas a seu favor, auferindo-lhe grande audiência. Com um enredo muito bem arquitetado de desrespeitos, de ataques selecionados a pessoas e a direitos humanos, e de mentiras, sem que houvesse correspondentes punições devidas, o falastrão Messias, nome escolhido pelo Alto Comando Militar para ser seu candidato à presidência da República em 2018, conseguiu escalar sua popularidade política, sem sofrer sanções, podendo assim, continuamente, editar e reeditar suas violências e sadismos. Entretanto, como nos ensina a interface entre psicanálise e história, as experiências de traumas históricos e sociais, quando recalcadas, em vez de serem elaboradas, refletidas, assimiladas e corrigidas, impondo-lhes sanções sempre que necessárias, produzem repetições: o retorno de suas causas, sintomas e consequências.
Na história recente temos que a Ditadura Militar de 1964 perseguiu, torturou e assassinou adversários reais e imaginários, sem contudo sofrer sanção por esses crimes de Estado. O não enfrentamento pela sociedade brasileira dessas violações, com suas correspondentes elaboração e sanção históricas, possibilitou o retorno de tais ameaças e violências, presentes na ação política do falastrão Messias quando, por exemplo, proferiu o voto deplorável e abjeto, na sessão da Câmara Federal, em 17 de abril de 2016, revivendo a tortura, num exercício de sadismo de que pouca gente é capaz: “Nesse dia de glória para o povo brasileiro, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, o meu voto é sim!”. Ao dedicar seu voto favorável ao impeachment à memória de um dos maiores torturadores da ditadura militar brasileira (1964-1985), pronunciando euforicamente seu nome aos gritos, sílaba por sílaba, o falastrão demonstrou, por um lado, o prazer de quem faz o outro amargar o sofrimento, e, por outro lado, a dor e o desespero de quem sofreu a tortura. Com enorme dose de crueldade e sadismo, bradou orgasticamente: “o pavor de Dilma Rousseff!”.
Hoje, 30 de março, ele retornou ao Brasil intimado a prestar depoimento à Polícia Federal no próximo dia 05 de abril sobre o caso das joias das Arábias não declaradas na Alfândega. Emparedado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o falastrão já devolveu, por meio de seus advogados, o segundo estojo de joias ao Estado brasileiro. No início, segundo reportagem de O Estadão, ele, como de costume, negou a existência de todas as joias: “Estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não recebi. Vi em alguns jornais, de forma maldosa, dizendo que eu tentei trazer joias ilegais para o Brasil. Não existe isso”. Como se demonstrou ao longo dos últimos anos, o negacionismo é uma receita clássica utilizada pelo falastrão, buscando associar a negação com um apelo à imagem de vítima religiosa (crucificado) da maldade alheia. Acontece que no dia 27, o Estadão revelou que o falastrão ficou ainda com um terceiro lote de joias das Arábias. Além disso, dezenas de caixas foram escondidas numa fazenda de Nelson Piquet, localizada numa região nobre de Brasília.
Portanto, não é possível construir um futuro democrático seguro para as próximas gerações de brasileiros e brasileiras se nosso passado, remoto e recentíssimo, não for enfrentado, elaborado, compreendido em suas causas e consequências, acarretando as punições necessárias aos responsáveis pelos diversos crimes cometidos. A história recente aponta as evidências de perseguição do governo do falastrão aos povos indígenas, como no caso dos Yanomamis, numa desenvoltura sádica de biopoder letal e genocida. Além dos episódios públicos, apurados pela CPI do Senado, envolvendo as falcatruas criminosas na gestão da política de saúde no enfrentamento da Covid-19, que vitimou cerca de 700 mil famílias no Brasil. Sem o devido enfrentamento e compreensão das causas e consequências de tais crimes, com suas respectivas punições exemplares, nenhuma democracia conseguirá firmar-se enquanto realidade segura e estável. Não se pode titubear uma vez mais se de fato quisermos elevar o nível da democracia brasileira a um patamar mínimo de dignidade, civilidade, respeitabilidade, fraternidade e justiça social.
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