O 'Livro Verde e Amarelo' de Jair Bolsonaro
Depois de “O Livro Vermelho”, de Mao Tsé-tung e “O Livro Verde”, de Muammar Kadafi, vem aí “O Livro Verde e Amarelo”, de Jair Bolsonaro
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Não foram poucos os mandatários, do Planalto à Casa Branca, que já escreveram suas memórias. Depois que soube que seu ídolo, o ex-presidente norte-americano Donald Trump escreveu o livro “Todo Mundo Odeia um Vencedor - Aprenda a Chegar ao Topo e Permanecer Lá”, Bolsonaro resolveu colocar no papel a história de sua odisseia improvável, desde quando era um jovem, tosco, rude e insubordinado militar até se tornar líder de uma das maiores democracias do mundo.
O presidente chamou o secretário de comunicação, Fábio Wajngarten em seu gabinete e foi logo falando:
— Fabinho, vou escrever um livro, taokey!?
O secretário não acreditou no que ouviu. Só podia ser mais uma das fake news do presidente.
— Presidente, o senhor é hilário. Gostei da piada - disse o secretário, rindo.
— Piada? Que piada? Tô falando sério isso daê, taokey?
— Desculpa. Mas, presidente, o senhor nunca leu um livro na vida! É o senhor mesmo que vai escrever? Acha que consegue? Que tal contratarmos um ghost-writer para escrever o livro para o senhor?
— Que “grosaste”, que nada! Meu amigo Trump, disse que esses escritores americanos são tudo comunista.
— Presidente, desculpe, mas ghost-writer não é um escritor estrangeiro. É um escritor-fantasma. Um profissional que não recebe créditos pelo texto que escreve. Ele escreve seu livro, mas o seu nome é que vai estar escrito na capa.
— Não. Isso daí não é correto. Eu vou estar enganando meus leitores. Eu sou honesto e transparente, só jogo dentro das quatro linhas.
O secretário quis cair na gargalhada, mas achou melhor não.
— Não vai ser um livro com muitas páginas. Pouquíssimo texto e muitas figuras. Os livros de hoje têm muita coisa escrita. Será um livro com minha história, minhas ideias, meus pensamentos e minhas frases, como “O Livro Vermelho”, de Mao Tsé-tung e “O Livro Verde”, de Muammar Kadafi.
— Hummm! Dois ditadores! Tudo a ver - sussurrou o secretário.
— O que você disse?
— Nada. Já pensou no título? - indagou Fabio Wajngarten.
— Vai se chamar “O Livro Verde e Amarelo, de Jair Bolsonaro”.
— Bom!!
— Dê uma olhada - pediu o presidente, entregando o manuscrito de vinte páginas ao secretário.
As máximas do capitão estavam separadas por tópicos.
Sobre o cinema brasileiro:
"Vamos buscar a extinção da Ancine. Não tem nada que o poder público tenha que se meter a fazer filme."
Sobre negros:
"Eu fui num quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas.”
Sobre estupro:
“Maria do Rosário, eu não estupraria você porque você é muito ruim, porque é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria.”
Sobre gays:
"Quando o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva logo um coro que ele muda o comportamento dele. Tá certo?”
Sobre mulheres:
“Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher."
Sobre promiscuidade:
“Ô Preta Gil, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu.”
Sobre tortura:
“Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso. O erro da ditadura foi torturar e não matar. Tinha que ter matado uns trezentos."
Sobre bater em gay:
“Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.”
Sobre pena de morte:
“Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.”
Sobre adoção por casal gay:
“90% desses meninos adotados vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa com toda certeza desse casal.”
Sobre gênero:
“Não é questão de gênero. Tem que botar no Ministério quem dê conta do recado.”
Sobre imigrantes:
“A escória do mundo está chegando ao Brasil como se nós não tivéssemos problemas demais para resolver.”
Sobre a solução para a falta da água:
“O brasileiro tem que fazer cocô dia sim, dia não.”
Sobre um torturador:
“O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um herói.”
Sobre religião:
“Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. Às minorias têm que se curvar às maiorias. Às minorias se adequam ou simplesmente desaparecem.”
Sobre homossexualidade:
"Eu não sou contra os homossexuais. Quem foi o viado que publicou isso!!?"
Sobre homofobia:
“Não existe homofobia no Brasil. A maioria dos que morrem, 90% dos homossexuais que morrem, morre em locais de consumo de drogas, em local de prostituição, ou executado pelo próprio parceiro.”
Sobre o coronavírus:
“É só uma gripezinha. Estão fazendo histeria.”
Sobre a vacina:
“Se tomar esse troço e virar jacaré é problema de vocês.”
Sobre a Aids:
“O cara vem pedir dinheiro para mim para ajudar os aidéticos. A maioria é por compartilhamento de seringa ou homossexualismo. Não vou ajudar porra nenhuma!”
Sobre demarcação de terras indígenas:
“Se eu chegar lá (na presidência), não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola.”
Sobre cotas raciais:
“Quem usa cota, no meu entender, está assinando embaixo que é incompetente.”
Sobre o auxílio-moradia que recebia:
“Como eu estava solteiro na época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente.”
— E aí? O que achou?
— Muito engraçado. Praticamente um best seller!! Vai deixar “O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr”, no chinelo.
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