O jovem tem que fazer política

O político que você quer não está dentro de ninguém. Está dentro de você mesmo. Aprenda a participar de todas as formas possíveis

O político que você quer não está dentro de ninguém. Está dentro de você mesmo. Aprenda a participar de todas as formas possíveis
O político que você quer não está dentro de ninguém. Está dentro de você mesmo. Aprenda a participar de todas as formas possíveis (Foto: Chico Vigilante)


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Cerca de 27% da população brasileira, 51 milhões de brasileiros são jovens. Quem são exatamente estes jovens que vão desenhar o futuro do país? O que eles necessitam para cumprir a contento esta árdua tarefa e saírem vitoriosos? O que a sociedade deve entender para contribuir com esta missão da juventude? São perguntas que todos nós estamos em busca das respostas.

Para efeito de políticas públicas jovens são aqueles cidadãos e cidadãs entre 15 e 29 anos, numa faixa onde hoje encontramos alguns dos mais importantes indicadores de desigualdade social do país. Isso é preocupante.

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O genocídio de jovens negros, o acesso à educação, a alta rotatividade no mercado de trabalho, os jovens nem-nem - que nem trabalham e nem estudam -, a homofobia, entre muitos outros problemas, não devem ser vistos de forma estanque, mas relacionados uns aos outros dentro da temática juventude como um todo. E isso ainda não acontece por aqui.

Só muito recentemente o Brasil passou a perceber a necessidade de superação dos desafios relacionados à juventude. Isso aconteceu na primeira metade da década passada, com a constituição, em 2003, da primeira Comissão Especial no âmbito da Câmara dos Deputados para discutir o assunto e, em 2005, com a criação da Secretaria Nacional e do Conselho Nacional de Juventude.

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Nesta área, lamentavelmente, é comum confundir-se orientação conservadora com visão progressista. Para iniciarmos uma discussão a respeito o mais importante mesmo é perguntarmos por que e como o Estado brasileiro deve financiar o trajeto de vida de seus jovens.

A resposta é clara: o objetivo é emancipar toda uma geração. Devemos discutir como fazê-lo e o que a Nação ganharia com isso e o que perderia não fazendo.

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Por que é importante fazer isso agora? Entre outras razões, porque vivemos também um momento de mudança radical na estrutura demográfica do país. Historicamente, tivemos uma proporção desfavorável entre a quantidade de pessoas que necessitam sacar da renda nacional, sem necessariamente poder contribuir para o aumento dela, e o que os economistas chamam de "população em idade ativa", ou seja, pessoas em idade de contribuir com o aumento da renda nacional.

Essa situação vive hoje um processo de inversão. Nunca tivemos tantos jovens na composição demográfica do país e, em tese, nunca mais teremos, o que projeta uma proporção inédita para a População em Idade Ativa, em 2022, em torno de 71% do total dos brasileiros.

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A partir de agora nossa população começa a envelhecer, aliando duas razões: o aumento da expectativa de vida e as baixas taxas de fecundidade. É chegada a hora de se realizar maciços investimentos nos jovens como aposta certa na nova geração de brasileiros.

Os avanços da última década são visíveis em relação aos jovens com a expansão do ensino técnico e do ensino superior, além da situação de pleno emprego. O modelo dos institutos federais fez a qualificação para o mercado de trabalho chegar, por meio do Pronatec, aos locais mais variados e remotos. O PROUNI, o ENEM e a ampliação das vagas e criação de novas universidades federais alterou completamente a perspectiva sombria que os jovens projetavam para a própria vida nos anos 90.

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Muito ainda há que se fazer, no entanto. A condição juvenil no Brasil ainda está relacionada a riscos sociais, com número de mortes anuais próximas de 50 mil. No âmbito da segurança pública avançou-se pouco e a tradição ainda é a repressão ao imaginado potencial de violência do jovem.

No âmbito da participação social e do diálogo institucional o jovem conta apenas com estruturas formais como os conselhos de juventude, em nível nacional ou local.

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O jovem como ator é pouco reconhecido em sua integralidade. As políticas públicas existentes escolhem uma dentre as dimensões possíveis da condição juvenil e pouco ou nada dessas políticas é executado de maneira integrada: o jovem é estudante, ou é um indivíduo em busca de inserção no mercado de trabalho, ou é um cidadão em conflito com a lei, ou é um cidadão excluído social e economicamente e carente de políticas sociais.

O que podemos fazer para oferecer aos jovens políticas públicas avançadas, então? Em primeiro lugar, escolher uma visão de mundo para determinar suas metas e desafios. Se a definição do que é ser jovem comporta muitas e múltiplas possibilidades, o interesse da ação governamental deve definir-se pela que seja mais importante e mais abrangente dentre elas: a busca da autonomia.

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E o que se pode ofertar aos jovens a partir dessa visão de políticas públicas? Literatura brasileira sobre o tema propõe um modelo que combine ações de articulação entre áreas e esferas de governo com novas ações finalísticas; e dentre as ações finalísticas, os "centros de referência da juventude" tem buscado se firmar, sem tanto sucesso até aqui, como unidades básicas de atendimento aos jovens nos territórios.

Para o avanço das políticas de juventude no Brasil é essencial o reconhecimento desses centros. Não se faz política de saúde sem UPAs e sem hospitais, como não se faz política de educação sem estabelecimentos de ensino; por que achamos que se pode estruturar uma oferta ampla de política pública a um segmento de 51 milhões de brasileiros sem uma unidade básica de atendimento?

Por meio dos centros de referência, portanto, enquanto unidade básica, se poderá ofertar um escopo diversificado de ações com interesse nos jovens, mas, sobretudo, se pode garantir aquela que é dimensão fundamental nessa temática: a participação ativa dos beneficiários da política. O Governo Federal deveria promover um programa de financiamento da implantação dessas unidades pelo país, inclusive ofertando modelos com características distintas;

Parte dessa rede, poderia constituir albergues públicos para a juventude, por exemplo, proporcionando a possibilidade de se estabelecer programas de intercâmbio cultural dentro de um país de dimensões espaciais e culturais tão extensas. Os Centros de Referência da Juventude deveriam ser transformados em espaços públicos de convivência com o objetivo de elevar a qualidade da coesão social entre os jovens brasileiros.

Acredito que o Estado deve rever a necessidade de políticas públicas que garantam o financiamento das trajetórias juvenis, com programas que garantam que o bloqueio de renda não gere outros bloqueios às trajetórias de suas vidas.

É necessário fazer muito mais, entender mais e dar prioridade política a este segmento na população, responsável pelo futuro do país. Essa discussão já está no ar e é necessário que o jovem participe ativamente dela. A necessidade de um novo olhar sobre a juventude marcou vários debates realizados esta semana em algumas capitais por ocasião do Dia Internacional da Juventude e, em Brasília, voltarão a ocorrer na 2ª Conferência Nacional, entre 9 a 12 de dezembro de 2014.

A juventude no mundo todo quer a mesma coisa. Ao participar de programa de entrevistas da rede de TV Al Jazeera, no Katar, o ex presidente Lula, disse ouvir de jovens que haviam participado da Primavera Árabe no Oriente Médio, que o que desejavam era esperança, oportunidades e dignidade na política.

Três palavras aparentemente simples mas que só quem convive com uma realidade sem elas sabe sua real necessidade. No Brasil a juventude quer o mesmo: condições de criar sua autonomia e passar a contribuir para o progresso e as decisões importantes do seu país e o de seus filhos.

Para isso estou convencido de que a melhor contribuição para fortalecer e emponderar os jovens é que eles passem cada vez mais a ocupar seu papel na política, nos mais variados graus e nos mais diversos canais disponíveis.

No encerramento de um discurso para a juventude Lula resumiu brilhantemente: o político que você quer não está dentro de mim. Está dentro de você. O seu sonho não será realizado se quando você acordar dele não tiver a coragem de colocar o pé na estrada e fazer as coisas. O importante é participar na rua, na universidade, no sindicato, no parlamento, discutir sobre o que você quer que aconteça na sua escola, no seu bairro, na sua cidade, no seu país. Descubra o que quer e vá a luta, meu filho!

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